|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Agaciel pôs imóvel no nome do irmão, dizem vendedores
Oto Maia diz que é o comprador e fez o pagamento
LEONARDO SOUZA
ADRIANO CEOLIN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-diretor-geral do Senado
Agaciel Maia pagou o equivalente hoje a R$ 112,1 mil, em dinheiro vivo, por uma chácara
registrada no nome de seu irmão Oto Maia, segundo os vendedores do imóvel.
A transação, de acordo com a
família que fez o negócio, foi
concluída na casa avaliada em
R$ 5 milhões que Agaciel ocultou da Justiça. Eles afirmam
que Agaciel levou o dinheiro
numa caixa de papelão que ele
trouxera num carro do Senado.
O relato foi feito à Folha por
6 das 9 pessoas presentes à
venda do imóvel. O caso envolve também o substituto de
Agaciel na Direção Geral do Senado, seu ex-braço direito José
Alexandre Gazineo.
A pedido de Agaciel, Gazineo, concursado da Casa como
advogado, defende Oto na disputa judicial em torno do imóvel, tendo trabalhado de graça.
Em entrevista à revista
"Época" desta semana, o ex-diretor de Recursos Humanos do
Senado João Carlos Zoghbi e
sua mulher, Denise, funcionária aposentada da Casa, disseram que Agaciel está milionário e que possui várias casas em
nome de irmãos. O único citado diretamente foi Oto Maia.
Pagamento
Oto, que também é servidor
do Senado, contestou a versão
dos vendedores, dizendo que
foi ele quem comprou o imóvel
e fez o pagamento. Ele foi procurado antes de a reportagem
de "Época" ter sido publicada.
Esse é o segundo caso de
aquisição de imóvel relacionado a Agaciel, mas registrado em
nome de um irmão.
O ex-diretor-geral do Senado
foi exonerado da função após a
Folha ter revelado, em março,
que ele usou o deputado João
Maia (PR-RN) para ocultar da
Justiça a propriedade de sua
casa no Lago Sul. Agaciel, que
continua como servidor da Casa, com salário de cerca de R$
18 mil, não atendeu as ligações.
"Ele [Agaciel] chegou com o
dinheiro em uma caixa de papelão mesmo", disse Maria Rosimar da Costa, que representou o filho Daniel dos Reis, então menor de idade, na venda.
O único documento cartorial
que comprova a transferência
de propriedade do imóvel, realizada em novembro de 1999, é
um instrumento particular de
promessa de compra e venda.
Dele constam nove assinaturas
-a única sem autenticação é a
de Oto. Naquela data, Agaciel já
era diretor do Senado.
Avaliada hoje em cerca de R$
600 mil, a chácara foi registrada por R$ 60 mil no ato da venda -ou R$ 112,1 mil, após correção pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo).
"Só nós [os vendedores] fomos ao cartório, juntamente
com o corretor. De lá, fomos
para a casa do senhor Agaciel,
para receber o dinheiro. Eu
nunca vi o Oto", disse Rosimar.
A Folha procurou Osmaura
de Lourdes dos Reis e sua filha
Mariana, assim como outros
dois herdeiros Reis, que preferem não ser identificados, para
checar a versão de Rosimar. Os
quatro não são parte na ação,
na qual Gazineo defende Oto.
"É verdade, recebemos em
dinheiro", afirmou Osmaura.
"Lembro-me bem da casa na
beira do lago e do rosto dele
[Agaciel]", disse Mariana.
Quatro moradores dos arredores do imóvel ouvidos pela
reportagem identificaram Agaciel como o dono da chácara.
Ação na Justiça
A propriedade pertencia a
seis herdeiros de Pedro Antonio dos Reis, morto em 1986. A
Folha chegou a Rosimar e Daniel por conta de processo movido na Justiça contra Oto, no
qual ela tenta anular a venda.
Em novembro de 2000, um
ano após o negócio, a Justiça
avaliou a propriedade em R$
350 mil. Com base nesse laudo,
Rosimar entrou com a ação em
março de 2002, alegando que o
filho havia sido lesado.
Oto não quis falar sobre a
transação. "A mulher [Rosimar] está reclamando porque
ela quer reaver a parte dela."
Gazineo disse que até assumir a função de diretor-geral
não estava impedido de defender Oto e que vai "procurar um
colega" para assumir o caso.
Texto Anterior: Sem dinheiro, demitidos ficam em Boa Vista Próximo Texto: Frases Índice
|