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NO AR
Todo mundo
NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA
- Se liga Brasil.
É a Globo, nos intervalos comerciais, instigando audiência -sem parar- para a
sua transmissão exclusiva da
Copa do Mundo.
- O país inteiro está ligado
na Copa.
É Galvão Bueno, no site da
Globo, já chamando para o próximo jogo da seleção brasileira,
contra a China.
O locutor que tem a única voz
do Brasil na Copa comemorou
no ar, de manhã, o que chamou
de recorde de audiência no jogo
contra a Turquia.
Comemorou ao lado de Luiz
Felipe Scolari, o treinador que
mais parece um contratado da
Globo, para também ele comentar as partidas.
Comemoram todos juntos,
Galvão, Felipão, Casagrande,
Arnaldo César Coelho, Falcão,
tanto a vitória quanto o recorde
de audiência. Confundem-se todos, como se fossem da mesma
corporação.
No longo debate que se seguiu
aos jogos, Galvão e Felipão trocaram outras coisas além de elogios à seleção.
Combinaram ajudar um ao
outro, por exemplo, cedendo
imagens da transmissão para as
orientações do treinador aos
seus jogadores.
Num ambiente assim, em que
a seleção se mistura com a sua
cobertura jornalística, seria de
esperar o "recorde". E não só de
Galvão, mas depois, nos telejornais da emissora:
- O brasileiro dá mais uma
demonstração de amor à seleção. Todo mundo acordou mais
cedo para acompanhar a estréia
na Copa... Trabalhadores cruzaram os braços. Não se tratava
de nenhuma greve nem protesto. Era a seleção. Duas horas
com os olhos grudados na TV.
Foi um jeito verde-amarelo de
começar o dia... O jogo termina
e agora sim os funcionários voltam ao trabalho felizes.
Na verdade, a maior audiência da Copa de 98 -o recorde-
foi na semifinal entre Brasil e
Holanda, com 66 pontos, contra
os 64 de ontem.
Mas era então, em 98, uma
audiência não monopolista, que
ainda incluía SBT, Band, Record, até Manchete.
Era uma outra era, quando se
falava em hegemonia. Agora é
monopólio mesmo.
A semana eleitoral que precedeu a Copa fechou com o esforço
tucano de contrapor a sua pesquisa Vox Populi à da Sensus,
que apresentou Garotinho em
segundo lugar.
O Jornal Nacional deixou passar, desinteressado ou, quem sabe, cuidadoso.
O Jornal da Record deu, ouvindo José Serra -o segundo-
e registrando que os demais preferiram nem comentar.
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