São Paulo, terça-feira, 04 de junho de 2002

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NO AR

Todo mundo

NELSON DE SÁ
EDITOR DA ILUSTRADA

- Se liga Brasil.
É a Globo, nos intervalos comerciais, instigando audiência -sem parar- para a sua transmissão exclusiva da Copa do Mundo.
- O país inteiro está ligado na Copa.
É Galvão Bueno, no site da Globo, já chamando para o próximo jogo da seleção brasileira, contra a China.
O locutor que tem a única voz do Brasil na Copa comemorou no ar, de manhã, o que chamou de recorde de audiência no jogo contra a Turquia.
Comemorou ao lado de Luiz Felipe Scolari, o treinador que mais parece um contratado da Globo, para também ele comentar as partidas.
Comemoram todos juntos, Galvão, Felipão, Casagrande, Arnaldo César Coelho, Falcão, tanto a vitória quanto o recorde de audiência. Confundem-se todos, como se fossem da mesma corporação.
No longo debate que se seguiu aos jogos, Galvão e Felipão trocaram outras coisas além de elogios à seleção.
Combinaram ajudar um ao outro, por exemplo, cedendo imagens da transmissão para as orientações do treinador aos seus jogadores.
Num ambiente assim, em que a seleção se mistura com a sua cobertura jornalística, seria de esperar o "recorde". E não só de Galvão, mas depois, nos telejornais da emissora:
- O brasileiro dá mais uma demonstração de amor à seleção. Todo mundo acordou mais cedo para acompanhar a estréia na Copa... Trabalhadores cruzaram os braços. Não se tratava de nenhuma greve nem protesto. Era a seleção. Duas horas com os olhos grudados na TV. Foi um jeito verde-amarelo de começar o dia... O jogo termina e agora sim os funcionários voltam ao trabalho felizes.
Na verdade, a maior audiência da Copa de 98 -o recorde- foi na semifinal entre Brasil e Holanda, com 66 pontos, contra os 64 de ontem.
Mas era então, em 98, uma audiência não monopolista, que ainda incluía SBT, Band, Record, até Manchete.
Era uma outra era, quando se falava em hegemonia. Agora é monopólio mesmo.
 
A semana eleitoral que precedeu a Copa fechou com o esforço tucano de contrapor a sua pesquisa Vox Populi à da Sensus, que apresentou Garotinho em segundo lugar.
O Jornal Nacional deixou passar, desinteressado ou, quem sabe, cuidadoso.
O Jornal da Record deu, ouvindo José Serra -o segundo- e registrando que os demais preferiram nem comentar.



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