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OPERAÇÃO SOCIAL
Com a indicação de Miriam Belchior, ministro aprofunda sua influência no setor; benefícios terão como piso R$ 50
Dirceu indica coordenadora da área social
MARTA SALOMON
GABRIELA ATHIAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A "fase dois" da política social
do governo Luiz Inácio Lula da
Silva, que prevê um único programa de transferência de renda às
famílias pobres, será coordenado
pela engenheira Miriam Belchior
-assessora especial da Presidência ligada ao ministro José Dirceu
(Casa Civil). O benefício terá como piso R$ 50, o mesmo valor do
cartão-alimentação do programa
Fome Zero.
Com a indicação de uma executiva de sua confiança, Dirceu
aprofunda sua influência na gestão da área social, que na avaliação do Planalto está desarticulada, sofrendo com a superposição
de funções e de programas.
Belchior foi casada com o ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em janeiro do
ano passado, e já vem participando das reuniões para definir o novo modelo dos programas sociais.
No lugar dos seis programas de
transferência de renda (Bolsa-Escola, Bolsa-Alimentação, Auxílio-Gás, Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil, Agente Jovem e
Fome Zero), haverá apenas um,
ainda sem nome definido.
O dinheiro será repassado às famílias com renda de até meio salário mínimo por pessoa em troca
de contrapartidas como a frequência a postos de saúde, escolas
ou cursos de alfabetização, além
de trabalho comunitário.
Câmara Social
Caso o piso para os benefícios
passe mesmo para R$ 50, conforme a proposta que será levada a
Lula na próxima reunião da Câmara de Política Social, a transferência de renda aos pobres custará, no mínimo, R$ 5,580 bilhões
por ano, bem mais do que o governo gasta hoje. As famílias receberiam entre R$ 50 e R$ 95.
Teoricamente, seriam beneficiadas 9,3 milhões de famílias pobres. Atualmente, o governo não
sabe quantas delas não têm acesso
a nenhum benefício. Estão cadastradas 6,5 milhões de famílias
com renda até meio salário mínimo por pessoa.
Novo modelo
A opção por Belchior atende a
uma preocupação de Lula manifestada desde o governo de transição, de cuja equipe ela fez parte:
criar um novo modelo de gestão
que combatesse a estrutura fragmentada dos programas sociais.
No início do governo, Lula foi
na contramão dessa orientação ao
criar dois novos ministérios que
lidariam com programas de
transferência de renda: a pasta da
Segurança Alimentar e Combate à
Fome, entregue a José Graziano, e
o Ministério da Assistência e Promoção Social, comandado por
Benedita da Silva.
Ao final dos cem primeiros dias
de governo, Lula se convenceu de
que a estrutura não funcionava e
deu sinal verde à chamada "guinada social".
Desde então, um grupo liderado
por técnicos da Assistência Social
trabalha num novo modelo de
gestão da área.
A escolha de Miriam Belchior
para a coordenação social tem
por objetivo acomodar resistências que surgiram ao longo da
construção desse novo modelo e
estimulada por disputa de poder
entre os ministros.
Disputa semelhante impediu o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de levar adiante uma
primeira tentativa de unificação
dos programas.
O arranjo tenta acalmar o temor
dos ministros da área social de
perder poder, já que ela vai atuar
no eixo Esplanada-Palácio do Planalto, sem tirar a visibilidade dos
titulares das pastas.
O campo ainda é minado. Benedita ainda se opõe a uma coordenação fora de sua pasta, que cuidou até aqui da unificação dos
programas, com uma equipe afinada com os técnicos de Antonio
Palocci Filho no Ministério da Fazenda. Mas ela não está sozinha
nas resistências.
Por motivo diferente, Graziano
ganhou o apoio dos ministros
Cristovam Buarque (Educação) e
Humberto Costa (Saúde) na defesa de que os programas mantenham sua identidade.
Esse grupo de ministros quer
que os atuais programas não desapareçam diante do novo cartão
de transferência de renda.
Contrapartida
Os ministérios ficariam responsáveis por fiscalizar a contrapartida das famílias: frequência escolar, comparecimento aos postos
de saúde e apresentação de notas
fiscais do Fome Zero.
O custo do novo modelo é um
problema para Lula resolver. Na
próxima reunião da Câmara
-marcada inicialmente para
meados de maio e prevista agora
para acontecer até a segunda semana do mês-, o presidente receberá duas propostas:
1) estabelecer imediatamente o
piso de R$ 50 para os benefícios, a
começar pelo Norte e Nordeste,
regiões mais pobres, com direito a
um pagamento extra de R$ 15, R$
30 ou R$ 45, dependendo do perfil
da família;
2) manter o valor de R$ 50 do
cartão-alimentação e reajustar
aos poucos os demais programas
na seguinte ordem: Bolsa-Alimentação, Programa de Erradicação do Trabalho Infantil e Bolsa-Escola, que paga R$ 15 por criança, até o limite de R$ 45 por família.
Colaborou KENNEDY ALENCAR, da Sucursal de Brasília
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