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São Paulo, quarta-feira, 04 de junho de 2003

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Temendo crise de autoridade, Lula deve voltar a conversar com vice

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Avaliando que há risco de crise de autoridade no governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende conversar novamente com o vice-presidente José Alencar para que ele modere as críticas aos juros altos. O Palácio do Planalto também fará nova ofensiva para tentar diminuir o "fogo amigo" -críticas de outros membros do governo e de petistas à política econômica.
Segundo a Folha apurou, a cúpula do governo avalia que o "fogo amigo" desgasta Lula e o leva a se comprometer com mudanças pró-crescimento econômico que talvez não possam ser feitas no segundo semestre, como tem dado a entender o próprio presidente.
Lula e os três ministros mais influentes do governo, José Dirceu (Casa Civil), Antonio Palocci Filho (Fazenda) e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo e Gestão Estratégica), avaliam que é preciso combater esse bombardeio interno para não perder as rédeas da economia.
A primeira medida é levar Lula a ter uma conversa franca com Alencar. O presidente já o advertiu uma vez, mas o fez de forma carinhosa, nas palavras de um auxiliar. Agora, Lula está contrariado. Achou desleal Alencar falar exatamente o oposto do que ele diz quando o substituía na interinidade da Presidência. Anteontem, o vice pediu decisão "política" para baixar os juros, enquanto Lula, na Europa, dizia que isso não aconteceria com "bravatas".
Para auxiliares de Lula, Alencar produziu uma notícia negativa, tirando a repercussão positiva da viagem ao exterior.

Mercadante e neo-rebeldes
A Folha apurou que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), também voltou a incomodar o Planalto com sua idéia de organizar um debate público no Congresso sobre juros. Esse debate está previsto para a próxima quinta-feira, dia 12, cinco dias antes da reunião do Copom (Conselho de Política Monetária), órgão que fixa os juros.
A cúpula do governo acha que Mercadante criará uma tensão indesejada para pressionar o Copom. Ou seja, se os juros caírem Mercadante fatura politicamente e tira o mérito do governo. O raciocínio da cúpula do governo é que a queda dos juros tem de vir por decisão da equipe econômica, a fim de não minar Palocci.
Os 30 deputados federais do PT que lançaram manifesto contra a política econômica na quinta-feira passada também estão na lista de problemas prioritários do governo.
Procurado pela Folha, Alencar não deu resposta até a conclusão desta edição. Mercadante disse, via assessoria, que informou Dirceu do debate no Senado e que o ministro não se mostrou "preocupado". Afirmou ainda que o debate é iniciativa dos líderes da Casa. Os neo-rebeldes, reunidos ontem, decidiram não aceitar enquadramento.


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