São Paulo, segunda-feira, 04 de julho de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Na fogueira

Telejornais e canais de notícias passaram o fim de semana num desfile de petistas.
Em meio ao choque da capa da "Veja", com as assinaturas do presidente do PT, José Genoino, e do publicitário Marcos Valério lado a lado, surgiu o presidente da CPI, Delcídio Amaral, calmo, ontem na Globo News:
- Na semana teremos uma agenda longa de trabalho. Na quarta, o senhor Valério, dono das agências de publicidade, a SMPB e a DNA, e a ex-secretária, senhora Somaggio...
Era a resposta de um petista sereno, quase sorridente. Já Eduardo Suplicy, face crispada, ontem na Band News:
- É um fato muito sério -que o senhor Valério tenha obtido um volume de contratos tão extraordinário com diversos organismos do governo.
Outro petista, Chico Alencar, incontido no ataque, no "Jornal Nacional" de sábado:
- Ele [José Genoino] deve se licenciar do partido.
Para não falar do presidente da República, na escalada do "Jornal da Record":
- Lula reafirma que vai ser implacável com os adversários e os aliados corruptos.
Não parou aí. No "Fantástico", o líder Arlindo Chinaglia:
- A esta altura, não há uma afirmação nem uma acusação que não deva ser investigada. É a posição do presidente e deve ser a posição da base aliada.
E José Eduardo Cardozo:
- Nós temos que enfrentar com absoluta transparência. Se algum petista estiver envolvido, nós teremos que ser ainda mais implacáveis do que fomos com os nossos adversários.
 
Outros petistas reagiram de outras maneiras. Jorge Bittar:
- É legítimo que um partido recorra a empréstimo e busque avalistas. Não vejo nenhum ato ilícito ou até mesmo imoral.
E Marcelo Sereno, ouvido no Rio pelo "Jornal da Band":
- Quem está respondendo a essas questões é o companheiro Genoino, em São Paulo.
Quanto a Genoino, declaração dele era manchete da Folha Online ontem no meio da tarde, "Assinei sem ler o contrato".
E ele voltou depois, no mesmo tom, para o "Fantástico":
- A relação [com Valério] veio de antes, na campanha, no próprio PT. E eu não participava da campanha eleitoral.
 
Entra então a apresentadora Gloria Maria, fechando o caso na cobertura de domingo:
- Em meio às denúncias e à crise no PT, ontem o presidente e a primeira-dama organizaram arraial na Granja do Torto.
Teve procissão com sermão, fogos, a fogueira etc.

Band News/Reprodução/Globo News/Reprodução
Eduardo Suplicy (à esq.) e Delcídio Amaral no desfile de petistas ontem na TV, para tratar de Marcos Valério

Mais Fernanda
A ex-secretária voltou a dar entrevista, num restaurante, ao "Fantástico". E voltou baterias contra José Borba, o líder do PMDB na Câmara, para quem teria telefonado diversas vezes a pedido do publicitário. Dela, Fernanda Karina:
- Eles conversavam e depois ele avisava ao doutor Delúbio que estava indo para Brasília, encontrar o senhor José Borba.

Mais Jefferson
Ele voltou à ribalta ontem à noite, agora no "Canal Livre", da Band. Até quando foi possível acompanhar, usou o programa para preparar o ambiente contra o adversário José Dirceu.
Sublinhou a "gravidade" do encontro do ex-ministro com diretores do BMG, relatado pela revista "Veja". E disse que tem "coisas" guardadas para o duelo tão aguardado.

LÁ E CÁ

Dois repórteres, de "New York Times" e "Time", estão para cumprir 18 meses de prisão por não dizer o nome de uma fonte. O da revista cedeu e entregou notas e e-mails. E sexta veio o "furo", curiosamente dado pelo produtor da série "West Wing", tornado blogueiro: a fonte seria Karl Rove, principal assessor de George W. Bush.
No dia seguinte a revista "Newsweek" deu reportagem repisando que o subchefe da Casa Civil é uma das fontes. Ouviu até o advogado, que confirmou conversas, mas se recusou a dizer se Rove revelou o nome de um agente da CIA, a razão da investigação. Se o fez, insiste o produtor/ blogueiro, o "guru" de Bush vai para a cadeia.
 
Em momento de revelações, lá como cá, o colunista do "New York Times" Frank Rich destacou mensagem que recebeu de William Goldman, o roteirista de "Todos os Homens do Presidente", dizendo que não foi Garganta Profunda, Mark Felt, mas ele, Goldman, quem cunhou a máxima do jornalismo atual, "siga o dinheiro".
 
Em tempo, também não seria de José Genoino, mas do comentarista esportivo Juarez Soares, a máxima petista "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".


Texto Anterior: Meta é catalisar mudanças sociais
Próximo Texto: Entrevista da 2ª - Jairo Nicolau e Bolívar Lamounier: Para analistas, pilar ético do PT ruiu
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.