São Paulo, quarta-feira, 04 de julho de 2007

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Ministros defendem Rondeau, que pode retornar ao governo

Presidente considera que ex-ministro de Minas e Energia foi injustiçado e estuda reconduzi-lo para o antigo posto

"Silas não tem culpa", afirma Walfrido; Tarso diz que não viu "nenhum delito", mas PF espera que Rondeau seja acusado pela Procuradoria

ANDRÉA MICHAEL
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os ministros Tarso Genro (Justiça) e Walfrido dos Mares Guia (Relações Institucionais) defenderam ontem o ex-colega das Minas e Energia Silas Rondeau, apontado pela PF (Polícia Federal) como beneficiário de uma propina de R$ 100 mil da empreiteira Gautama.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cogita renomear Rondeau para o antigo posto, por avaliar que não há prova de que ele tenha cometido crime.
"Examinei as peças depois que o processo se tornou público. Eu particularmente não vi, até agora, nenhum delito que pudesse ser imputado ou provado contra o ministro Silas Rondeau", disse Tarso, após participar em Brasília da cerimônia de formatura de 749 policiais federais e também do lançamento da pedra fundamental da futura Escola Superior de Polícia Federal.
"Não vi. Agora, eu não sou a autoridade adequada para fazer um juízo. Tem que aguardar o Ministério Público e o Judiciário", disse o titular da Justiça.
A Gautama, segundo a PF, capitaneou um esquema de fraude a licitações em obras públicas, comandada pelo empreiteiro Zuleido Veras. Rondeau pediu demissão depois que foi divulgado um vídeo do circuito interno do Ministério de Minas e Energia, apreendido pela PF, que mostrava a funcionária da Gautama Maria de Fátima Palmeira entrando no órgão. Para a PF, a funcionária levava uma propina de R$ 100 mil que seria entregue ao próprio ministro.
Já se antecipando a uma eventual necessidade de se defender de uma acusação formal do Ministério Público, Rondeau contratou o perito da Unicamp Ricardo Molina para analisar as imagens do circuito de segurança, que registram o momento em que a diretora da Gautama, com um envelope na mão, se encontra com Ivo Costa, ex-assessor de Rondeau. Segundo Molina, seria impossível haver R$ 100 mil no envelope carregado por Maria de Fátima.
Walfrido afirmou que "Silas [Rondeau] não tem culpa de natureza nenhuma". Segundo ele, Rondeau pediu para sair para evitar desgaste para o governo e "não se provou nada".
No relato de auxiliares que pediram para não ter o nome revelado, Lula estaria sentindo "incômodo" pela saída de Rondeau. Acha que ele foi "injustiçado". A Folha apurou que a recondução de Rondeau dependerá de diligência da PF a ser feita e de eventual denúncia do Ministério Público.
Na cúpula do governo, acredita-se que ele não será denunciado. Na Polícia Federal, a expectativa é que Rondeau deva estar entre as pessoas que serão denunciadas pelo Ministério Público ao Superior Tribunal de Justiça, no qual tramita o inquérito relacionado à Operação Navalha. Se a denúncia se confirmar, será um complicador ao retorno de Rondeau.
O desejo de trazer Silas de volta explica o motivo de Lula não ter confirmado Márcio Zimmermann, do segundo escalo das Minas e Energia, como titular da pasta. Zimmermann foi apoiado pelo PMDB, sigla em cuja cota está o ministério.

Defesa do grampo
Tarso defendeu o uso das escutas telefônicas como "um instrumento fundamental do Estado de Direito, porque substituem meios de investigação que são renegados, como a pressão, a força e até a violência para obter depoimentos". Ao comentar a reformulação da lei de escutas, que está em debate no âmbito do Ministério da Justiça, Tarso afirmou: "Enganam-se aqueles que pensam que esse grupo [de debate] vai despotencializar as escutas".


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