São Paulo, domingo, 04 de agosto de 2002

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GOVERNO

Presidente estuda documento de ex-mandatário americano com dicas e conselhos sobre palestras remuneradas no exterior

FHC persegue modelo Clinton para o futuro

JOSIAS DE SOUZA
DIRETOR DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Fernando Henrique Cardoso intensificou o planejamento de seu futuro pessoal. Persegue o modelo de Bill Clinton, ex-presidente dos EUA. Ao deixar a Presidência da República, em janeiro de 2003, cogita ingressar no ramo de palestras remuneradas.
Revelou a auxiliares o desejo de constituir uma ONG, voltada à análise dos problemas brasileiros. Deseja compartilhar reflexões acumuladas ao longo dos dois mandatos que exerceu.
FHC analisa documento que recebeu de Clinton. O texto contém dicas e conselhos do ex-presidente americano acerca dos meandros do circuito internacional de palestras que vem percorrendo desde que deixou a Casa Branca.
Diferentemente do que ocorre nos EUA, onde os ex-mandatários contam com uma superestrutura que inclui o pagamento de escritório pelo Estado, no Brasil o pacote de benefícios é enxuto.
Além de uma pensão vitalícia equivalente ao valor do último salário, o ex-presidente conta com um carro, segurança pessoal e um oficial militar, que funciona como um assistente. Daí a idéia de constituir uma ONG, por ora mera cogitação. Seria a forma de viabilizar uma equipe mínima, bancada por doações feitas dentro da lei.
FHC tenciona também escrever um livro sobre sua experiência presidencial. O presidente desenvolveu o hábito de gravar em fita cassete informações que, a seu juízo, têm valor historiográfico. Seria uma forma de evitar traições da memória. As fitas registram detalhes sobre encontros reservados, decisões de governo, momentos de tensão etc.
Em seus diálogos reservados, FHC fala com pesar das agruras que seu candidato, José Serra, vem enfrentando na corrida presidencial. Acha que a acomodação de um amigo no Planalto o livraria de atividade extra em seus dias de ex-presidente: a de se defender de eventuais devassas. Preocupa-se especialmente com a ascensão de Ciro Gomes (PPS), cujo equilíbrio e bom senso questiona. Considera que o temperamento de Ciro não é agregador.
Fala com certo menoscabo do preparo intelectual do candidato da Frente Trabalhista. Diminui a importância da passagem de Ciro por Harvard. Diz que ele foi aos EUA apenas para aprender inglês. "E não aprendeu", opina.
Ao falar das causas do declínio de Serra nas pesquisas, FHC menciona a "dubiedade" inicial do discurso de campanha. Acha que Serra hesitou em apresentar-se claramente como candidato oficial do governo.
Ele dispõe de dados que, na sua opinião, corroboram o seu prestígio como cabo eleitoral. São pesquisas feitas pelo Ibope, sob o patrocínio da CNI (Confederação Nacional da Indústria). Numa série de cinco sondagens, iniciadas em junho do ano passado, o Ibope perguntou qual seria a posição do eleitor "em relação a um candidato que representasse a continuidade da política" de FHC. No levantamento fechado em junho, 16% do eleitorado respondeu que "certamente votaria" num candidato assim. Outros 28% disseram que "poderiam votar". É um universo de 44% de pessoas predispostas a eleger alguém que colasse a própria imagem à de FHC.



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