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REFORMA SOB PRESSÃO
Lula define pensões e subteto para Judiciário em reunião hoje
Relator proporá regra para incluir 40 milhões no INSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA ENVIADA ESPECIAL A BRASÍLIA
Para facilitar o entendimento e
tentar votar a reforma da Previdência amanhã, o deputado José
Pimentel (PT-CE) deve propor
em seu relatório a criação de uma
aposentadoria especial para os
"excluídos urbanos" -cerca de
40 milhões de pessoas.
A mudança atenderia a CUT
(Central Única dos Trabalhadores) e o chamado "grupo dos 28"
do PT, que congrega deputados
da esquerda do partido críticos da
atual política econômica. O problema da proposta é justamente a
obtenção do aval do Ministério da
Fazenda, já que a mudança teria
um custo fiscal não calculado.
A decisão sobre esse e outros aspectos polêmicos da reforma, como a definição do subteto do Judiciário e a questão das pensões,
será tomada hoje à noite em reunião do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva com ministros e líderes da base aliada.
Encampando a proposta, o governo daria uma resposta aos movimentos urbanos -como os
sem-teto- que geram tensão social ao promover invasões de prédios e terrenos particulares nas
grandes capitais.
A idéia de Pimentel é assegurar
na Constituição um artigo prevendo a criação da aposentadoria
especial para os excluídos urbanos -camelôs e empregados domésticos, por exemplo. As regras
seriam estabelecidas na regulamentação posterior do artigo.
A proposta
O relator imagina uma contribuição de 8% do salário mínimo
-hoje um autônomo que queira
contribuir paga 20%. O Congresso discutiria o tempo de contribuição. O governo trabalha com o
seguinte raciocínio: a lei já garante
hoje a uma pessoa que nunca contribuiu um benefício assistencial
de um salário mínimo se ela atingir 67 anos e comprovar que sua
família tem uma renda per capita
inferior a R$ 60.
Com a medida, o governo estimularia a contribuição e, de início, aumentaria a arrecadação.
"Se não fizermos nada para esses
40 milhões, essas pessoas estarão
daqui a pouco disputando uma
lata de comida no aterro sanitário", diz Pimentel. "A sociedade
tem de entender isso. É ela que
subsidiará esses gastos", afirmou,
ao ser questionado sobre o impacto fiscal da medida.
O relator afirmou que ainda não
existe uma estimativa de quanto
seria gasto pelo Tesouro Nacional
com o pagamento desse benefício
previdenciário no futuro.
Se, por um lado, especialistas
em contas públicas apontam o benefício mínimo para os trabalhadores rurais, garantido pela Constituição de 1988, como um dos
motivos do déficit na Previdência,
o governo pode usar a medida como um indicativo de que promove a inclusão social.
O presidente da Câmara, João
Paulo Cunha (PT-SP), marcou
para amanhã de manhã uma sessão extraordinária para dar início
à discussão da reforma. Se houver
entendimento com o governo em
torno dos pontos mais polêmicos
da proposta, como a questão do
subteto, o deputado vai tentar votar amanhã mesmo o projeto. Isso
evitaria que a votação aconteça na
quarta-feira, dia em que os servidores farão protesto contra a reforma em Brasília.
Em caso de acordo, João Paulo
tentará negociar com a oposição a
redução dos destaques ao projeto.
Seria votado só o texto principal,
na expectativa do presidente da
Câmara e dos líderes, aprovado
com maioria confortável.
O problema é a possibilidade de
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva vetar o subteto de 90,25% do
salário de ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) para os
desembargadores estaduais. Lula
defende que esse subteto seja de
75%, mas os líderes acreditam
que ele pode encampar o acordo
firmado na Câmara.
Na avaliação de Pimentel, apesar do entendimento de setores da
base aliada a favor do subteto
maior, os governadores continuam sendo os principais críticos
da mudança.
Lei de Falências
Em caso de veto do presidente, a
votação dificilmente ocorrerá
nesta semana e o número de destaques deve dobrar. Isso atrasaria
ainda mais a votação da Lei de Falências, inicialmente prevista para
a próxima semana.
Para o presidente do PT, José
Genoino, a possibilidade de o governo negociar as regras de transição e as pensões é positiva. Mas,
em relação à discussão sobre elevar o subteto do Judiciário nos Estados, Genoino disse que o partido é contrário ao aumento.
"O governo é mais amplo que o
PT. Se o governo fechar posição
com a base aliada [pela elevação
do subteto nos Estados], vamos
deixar claro que o partido preferiria que fosse mantido em 75%",
afirmou.
(RAYMUNDO COSTA, JULIA DUAILIBI, JULIANNA SOFIA, LUCIANA
CONSTANTINO)
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