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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/LIGAÇÕES CRUZADAS
Ex-ministro António Mexia diz em entrevista que publicitário se apresentou como emissário do Planalto; presidência e Valério negam
Para português, Valério era "consultor de Lula"
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O empresário Marcos Valério
Fernandes de Souza se apresentou ao governo português como
consultor do presidente Lula, segundo declaração do ex-ministro
de Obras Públicas, Transportes e
Comunicações António Mexia,
publicada no mês passado pelo
semanário ""Expresso", de Lisboa.
Na entrevista, Mexia disse que
recebeu Valério ""na qualidade de
consultor do presidente do Brasil
e a pedido de Miguel Horta e Costa, presidente da PT (Portugal Telecom)". O encontro aconteceu
no final de outubro do ano passado, segundo informação obtida
pela Folha.
Em nota divulgada ontem, a
Portugal Telecom admitiu ter tido
""contatos" com Marcos Valério,
mas não esclareceu quantos,
quando nem que tipo de contatos
manteve com ele. Em declaração
à parte da nota oficial, informou
que o empresário só esteve uma
vez em sua sede, em Lisboa, no final de outubro.
Cortesia
O ex-ministro de Obras de Portugal afirmou ao ""Expresso" que
teve um encontro ""de cortesia"
com o publicitário e que a reunião
durou de 10 minutos a 15 minutos. Disse que trataram de ""conversa de circunstância", sem ""tema específico".
Segundo o semanário, Mexia
qualificou de ""ridículo" o envolvimento de seu nome com Marcos
Valério e afirmou estar disponível
a prestar esclarecimentos ao Congresso brasileiro.
A Folha tentou localizar o ex-ministro durante todo o dia de
ontem, mas nem o celular nem o
telefone residencial dele atendiam. O ex-porta-voz de António
Mexia no Congresso, Paulo Campos, disse que ele está em férias,
fora da capital portuguesa.
Telemig
Segundo a Portugal Telecom, os
contatos com Valério aconteceram em razão de ela estar ""potencialmente interessada" na compra da Telemig Celular, operadora de telefonia móvel de Minas
Gerais controlada por fundos de
pensão, Citigroup e pelo Opportunity, de Daniel Dantas. Os sócios estão em litígio pelo controle
da Telemig e de outras empresas
em que têm investimentos conjuntos -a Brasil Telecom, a Tele
Norte Celular e o Metrô do Rio.
Em 2004, começaram as negociações para a venda da Telemig e
da Tele Norte. A Vivo (maior operadora de telefonia celular do
país, com 28 milhões de assinantes), pertencente à Portugal Telecom e à Telefónica de España, era
uma das candidatas. A compra,
que não se concretizou, daria à
Vivo uma cobertura nacional, o
que explica seu interesse pelo negócio. Hoje, ela só não está presente em Minas e na região Norte.
Executivos do mercado de telecomunicações ouvidos pela Folha
disseram que desconheciam a
participação de Marcos Valério
nas negociações para a venda da
Telemig. Segundo os especialistas, o objetivo de Daniel Dantas
era vender a tele para a Brasil Telecom. As conversas com a Vivo,
no entendimento do mercado, seriam apenas para ""formar preço".
O grupo Opportunity, procurado ontem pela Folha, não quis comentar a negociação de Valério
com a Portugal Telecom.
Repúdio
A Portugal Telecom, que já havia contestado as declarações de
Roberto Jefferson sobre supostas
negociações com Marcos Valério
para saldar dívidas do PT e do
PTB, voltou a negar que tenha se
encontrado com o publicitário
nos dias 24, 25 e 26 de janeiro, em
Lisboa, como disse Jefferson.
""A Portugal Telecom assegura
que jamais participou de qualquer encontro com o objetivo de
discutir ou negociar operações
que envolvessem o financiamento
de partidos políticos brasileiros",
diz o texto divulgado ontem pelo
grupo português.
Em relação a audiências com
Lula, disse que foi recebida duas
vezes pelo presidente ""para comunicar investimentos no Brasil". O grupo, segundo afirmou,
investiu mais de US$ 7 bilhões no
Brasil, sobretudo na Vivo.
As supostas investidas de Valério junto a empresas portuguesas
são alvos de notícias em Portugal
desde o mês passado, mas, até então, o foco principal era o Banco
Espírito Santo, um dos principais
acionistas da Portugal Telecom.
A edição do ""Expresso" (de 16
de julho) que trouxe as declarações de Mexia, contém também
uma entrevista com o deputado
Roberto Jefferson, em que afirma
ter tido informação de que Marcos Valério teria se encontrado
""três ou quatro vezes" com o ex-ministro António Mexia, em nome do ex-chefe da Casa Civil José
Dirceu, para negociar a Varig.
Disse também que recebeu proposta de Valério para interferir na
política de investimentos do IRB
(Instituto de Resseguros do Brasil) e favorecer, com aplicações, o
Banco Espírito Santo.
Anteontem, durante o depoimento de José Dirceu ao Conselho de Ética da Câmara, Jefferson
disse que o ex-ministro patrocinou "uma aproximação" de Lula
com o grupo Portugal Telecom, e
depois emissários foram despachados para Lisboa. Dirigindo-se
ao ex-ministro, o deputado disse:
"(...) para que nós negociássemos
de lá, depois do encontro que V.
Exa. patrocinou do grupo da Portugal Telecom com o presidente
Lula, um acordo que pusesse em
dia as contas do PTB e do PT".
Dirceu negou: "Não é verdade,
não é fato. Nunca tive relação com
a Portugal Telecom de nenhum tipo, nem administrativa nem funcional, nunca tratei com a Portugal Telecom nenhuma matéria.
(...) Trata-se de uma mentira".
Ontem, o ministro do Turismo,
Walfrido dos Mares Guia, também negou ter conversado com o
presidente Lula sobre a Portugal
Telecom, como sugeriu Jefferson.
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