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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/AS REUNIÕES
Audiência ocorreu em 11 de janeiro deste ano; publicitário estava
acompanhado do representante do Banco Espírito Santo no país
Valério falou com Dirceu pouco antes de viajar a Portugal
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
O empresário Marcos Valério
de Souza teve uma audiência com
o então ministro-chefe da Casa
Civil, José Dirceu, no Palácio do
Planalto, no dia 11 de janeiro deste
ano, 13 dias antes de ir a Lisboa
com o tesoureiro informal do
PTB, Emerson Palmieri. Segundo
o deputado Roberto Jefferson
(PTB-RJ), a viagem foi por orientação do presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, para quitar dívidas
de campanha do partido e do PT.
O detalhe que mais impressionou os integrantes da CPI dos
Correios é que Marcos Valério
-acusado de ser o operador da
central de distribuição de dinheiro para políticos- foi à audiência
com Dirceu, às 17h, acompanhado pelo representante do banco
português Espírito Santo no Brasil, Ricardo Espírito Santo.
O banco é acionista da Portugal
Telecom e, na denúncia de Jefferson, essas seriam instituições envolvidas na operação para arrecadar recursos para PTB e PT no valor de R$ 100 milhões. Ricardo é
primo do presidente do banco em
Portugal, Ricardo do Espírito
Santo Salgado -que, segundo
membros da CPI, teria vindo ao
Brasil no final do ano passado para jantar com o então tesoureiro
do PT, Delúbio Soares.
Meia hora
A audiência de Dirceu com
Marcos Valério e Ricardo Espírito
Santo começou às 17h e durou 30
minutos, conforme ofício da atual
chefia da Casa Civil, datado de 28
de julho último, e que foi encaminhado ontem para a CPI dos Correios. O ofício, classificado oficialmente como "aviso", tem o número 767 e foi assinado pela ministra Dilma Rousseff, sucessora
de Dirceu no cargo.
O documento foi escrito em resposta a um requerimento de informações da CPI, via Primeira
Secretaria da Câmara, sobre as
audiências concedidas no Palácio
do Planalto ao publicitário Marcos Valério e a dois outros envolvidos no escândalo do "mensalão", o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares e o ex-secretário geral
do PT Silvio Pereira.
Na resposta à CPI, a ministra
Dilma Rousseff disse que não dispõe de dados sobre as datas e os
horários de entrada e de saída deles do Palácio do Planalto e anexa
uma nota assinada por sua subchefe-adjunta, Paula Ravanelli
Losada, com a relação das audiências envolvendo os três nomes e
frisando que são "informações relativas a reuniões ou audiências
realizadas com o então ministro
de Estado chefe da Casa Civil da
Presidência da República".
Usiminas
Oficialmente, Marcos Valério
de Souza participou de três audiências com Dirceu. Silvio Pereira, de 16, e Delúbio, de 14, no período entre 8 de janeiro de 2003
(uma semana depois da posse de
Lula) e 11 de maio deste ano.
Uma das audiências que mais
chama a atenção é a de Dirceu
com o presidente da Usiminas,
Rinaldo Soares, na presença tanto
de Marcos Valério quanto de Delúbio Soares. Ela ocorreu em 7 de
agosto de 2003. A empresa é suspeita de ter usado caixa dois para
financiamento de campanhas políticas, inclusive do deputado federal do PFL Roberto Brant
(MG), usando o esquema Valério.
A terceira audiência com Dirceu
foi com Katia Rabello e José Dumont, presidente e então vice-presidente do Banco Rural. Delúbio Soares estava presente.
Delúbio e Silvio Pereira, que depois caíram de seus cargos no PT,
tinham um trânsito bastante desenvolto na Casa Civil de Dirceu.
Delúbio, por exemplo, não tinha
nenhuma posição no governo,
mas participou de audiência do
então ministro com o empreiteiro
José Celso Gontijo, da JC Gontijo,
no dia 22 de dezembro de 2003.
A cúpula do PT, aliás, teve reunião no dia 9 de fevereiro de 2004
com Dirceu, a própria Dilma, à
época ministra de Minas e Energia, e o ex-senador petista José
Eduardo Dutra, então presidente
da Petrobras. Pelo partido, estavam o presidente nacional, José
Genoino (que também caiu depois no meio da crise), Delúbio
Soares e Silvio Pereira.
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