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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ TRINCHEIRA DE DEFESA
Ex-ministro, que liderou o partido por dez anos, diz que decisões eram coletivas e que, a partir de agora, não deixará perguntas sem respostas
Dirceu não quer arcar sozinho com erros do PT
CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Queixando-se de sobrecarga
nas costas, o ex-ministro da Casa
Civil José Dirceu tem ameaçado
compartilhar com o partido a responsabilidade das decisões políticas do PT. No fim da noite de sexta-feira, no encontro do Campo
Majoritário, Dirceu avisou que
avaliará os últimos dez anos , passados à frente do partido, e afirmou: "Nenhuma decisão [do partido] foi construída isoladamente.
Demorávamos de seis meses a
dois anos para construir".
Na reunião -em que foi discutido seu afastamento da chapa do
Campo Majoritário nas próximas
eleições ao Diretório Nacional do
partido- Dirceu afirmou que listará os motivos das opções tomadas, sempre de "natureza política", fossem no comando do PT ou
na Casa Civil. Ele disse ainda que,
a partir desta semana, não deixará
perguntas sem respostas. "Fui
treinado para ter disciplina sob
tortura. O que eu quero fazer é o
debate político."
Sob risco de perda de mandato,
Dirceu também tem repetido a interlocutores que não pode assumir a paternidade das medidas
adotadas pelo PT nos últimos
dois anos e meio, quando ocupava a chefia da Casa Civil. Reconstituída, sua agenda como ministro servirá para comprovar que
não restava tempo para administração financeira do PT.
Outro argumento é que não tem
origem sindical, uma prova de
que o ex-tesoureiro Delúbio Soares não era de seu grupo. Aliados
de Dirceu alegam que, em São
Paulo, sempre houve uma disputa
entre seu grupo e os sindicalistas.
O líder do governo no Senado,
Aloizio Mercadante (PT-SP), minimiza o impacto do discurso de
Dirceu. Segundo o ele, o ex-ministro não abre mão do direito de
justificar publicamente as decisões, como a política de alianças.
Na reunião de sexta-feira, Dirceu resistiu à proposta de deixar a
chapa do Campo Majoritário para a eleição do dia 18. Após um telefonema de Marco Aurélio Garcia, em que o assessor de Assuntos Internacionais da Presidência
ameaçou sair da chapa, foi costurado um acordo pelo qual Dirceu
continua na chapa, mas só assumiria seu lugar no Diretório após
ser inocentado das acusações que
pairam sobre ele.
A concentração de informações
sobre o partido e o governo está
longe de ser o único trunfo de Dirceu no PT. Seu prestígio foi consolidado ao longo dos dez anos de
comando do que os petistas costumam chamar de federação de
lideranças políticas, o Campo Majoritário. No PT, os próprios integrantes do Campo classificam a
corrente como um pacto pela governabilidade do partido. O próprio coordenador do Campo,
Francisco Rocha, diz que, na tendência, questões polêmicas raramente são levadas a voto. E que a
corrente reúne, no plano nacional, "figuras que não fazem parte
da mesma força regional".
Em 1993, após a derrota da Articulação para a esquerda petista,
Dirceu liderou a criação do Campo Majoritário, com absorção das
correntes Hora da Verdade e Democracia Radical. De 1995 até hoje, está no comando do PT. "Zé
Dirceu é um dos fundadores do
PT e do Campo", diz Rocha.
Para explicar seu fôlego, petistas
ligados a Dirceu lembram que hoje o Campo conta com os três governadores, a maioria dos prefeitos, ministros e parlamentares do
partido. Esses líderes se valeram
do PT como instrumento para
chegada ao poder. Agora, não é
tão simples destituí-lo do papel de
comandante petista.
Além disso, há laços pessoais,
especialmente em São Paulo, Estado que detém o controle partidário. Hoje comandantes do partido, os petistas de São Paulo temem a perda da estrutura partidária, alimentando resistência ao
candidato do Campo à presidência, Ricardo Berzoini.
Fiel da balança na disputa interna -com quase 24% dos votos de
todo o país- o PT paulista decide
amanhã em quem votar para a
presidência nacional do partido.
Somados, os votos dos rebelados de São Paulo podem chegar a
10% dos eleitores no país e levar a
disputa ao segundo turno.
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