São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE

Presidente sobe o tom nos discursos e reage irritado a declarações de políticos, como FHC

Lula aumenta as críticas à oposição e preocupa Planalto

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A subida de tom do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a bater mais duro na oposição em seus discursos, preocupa os seus principais auxiliares. Para eles, Lula erra porque estimulará investigações nas CPIs que busquem atingi-lo, além de seus familiares, num momento em que o presidente estava saindo do foco.
Um dos auxiliares mais próximos do presidente disse à Folha que "Lula, hoje, é um homem irado". Segundo ele, o presidente está com "raiva" de alguns políticos da oposição e se sentindo "vítima" de ataques "injustos".
O presidente cita especificamente o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Quando fica ciente de declarações desses políticos nas reuniões, Lula reage de imediato com irritação.
A "raiva" de Lula o levou a ver com simpatia propostas de alguns ministros consideradas descabidas por outros. Uma delas foi a de criar uma espécie de conselho de notáveis para acompanhar a crise política e as principais investigações. Ao final do processo, esse conselho daria um atestado de boa conduta ao governo.
Essa idéia foi dada pelos ministros Jaques Wagner (Relações Institucionais) e Dilma Rousseff (Casa Civil). Ficaram contra ela os ministros Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e Antonio Palocci Filho (Fazenda). Lula optou pela posição de Bastos e Palocci.

Sigilo de ministros
Outra idéia que chegou a ser vista com simpatia por Lula foi a divulgação do sigilo bancário de todos os ministros. O presidente foi lembrado que o sigilo fiscal já é de conhecimento público e que essa medida só exporia ministros que estão fora da crise. Por ora, foi descartada também.
Pesou ainda na subida do tom contra a oposição a avaliação do presidente de que já passou o pior da crise no que se referia a ele. Lula acha que a oposição perdeu força para tentar dar prosseguimento a um eventual pedido de impeachment e que não levantará nada nas investigações congressuais que possa vir a comprometê-lo com o esquema do PT com o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.

Cautela
Alguns auxiliares do presidente lhe recomendaram cautela nas últimas reuniões. Para eles, seria melhor esperar a conclusão dos trabalhos das CPIs para bater mais duro nos oposicionistas.
A elevação no tom das críticas à oposição começou no discurso presidencial de 25 de agosto, no qual ele se comparou a Juscelino Kubitschek (1956-1961) e afirmou que não repetiria os destinos de Getúlio Vargas (suicídio), Jânio Quadros (renúncia) e João Goulart (deposição, apesar de Lula ter dito equivocadamente que havia sido renúncia também).
Naquele discurso, Lula bateu duro na oposição, atribuindo as críticas dela a uma "antecipação" da sucessão presidencial do ano que vem.

PFL e impeachment
Declarações assim, avaliam ministros, acirram os ânimos da oposição. Esse auxiliares têm razão. O PFL já tem documento que traça os principais argumentos que poderiam ser listados para tentar pedir a abertura de processo de impeachment.
Rodrigo Maia, líder do PFL na Câmara, discursou no Congresso na quarta-feira passada dizendo ver motivo para Lula responder a crime de responsabilidade, o que resultaria num eventual impeachment do presidente.
"O caso da Telemar, empresa que colocou R$ 5 milhões numa empresa do filho do presidente, é caso para crime de responsabilidade. Ela é concessionária de um serviço público e tem interesses no governo", diz o pefelista.
A Telemar investiu essa quantia na Gamecorp, empresa que tem entre os sócios um dos filhos do presidente. O "caso Telemar" consta do documento do PFL.

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