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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ O PRESIDENTE
Presidente sobe o tom nos discursos e reage irritado a declarações de políticos, como FHC
Lula aumenta as críticas à oposição e preocupa Planalto
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A subida de tom do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, que passou a bater mais duro na oposição
em seus discursos, preocupa os
seus principais auxiliares. Para
eles, Lula erra porque estimulará
investigações nas CPIs que busquem atingi-lo, além de seus familiares, num momento em que o
presidente estava saindo do foco.
Um dos auxiliares mais próximos do presidente disse à Folha
que "Lula, hoje, é um homem irado". Segundo ele, o presidente está com "raiva" de alguns políticos
da oposição e se sentindo "vítima" de ataques "injustos".
O presidente cita especificamente o presidente do PFL, o senador Jorge Bornhausen (SC), o
senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), o líder do PFL na
Câmara, Rodrigo Maia (RJ), e o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Quando fica ciente de declarações desses políticos nas reuniões, Lula
reage de imediato com irritação.
A "raiva" de Lula o levou a ver
com simpatia propostas de alguns
ministros consideradas descabidas por outros. Uma delas foi a de
criar uma espécie de conselho de
notáveis para acompanhar a crise
política e as principais investigações. Ao final do processo, esse
conselho daria um atestado de
boa conduta ao governo.
Essa idéia foi dada pelos ministros Jaques Wagner (Relações
Institucionais) e Dilma Rousseff
(Casa Civil). Ficaram contra ela os
ministros Márcio Thomaz Bastos
(Justiça) e Antonio Palocci Filho
(Fazenda). Lula optou pela posição de Bastos e Palocci.
Sigilo de ministros
Outra idéia que chegou a ser vista com simpatia por Lula foi a divulgação do sigilo bancário de todos os ministros. O presidente foi
lembrado que o sigilo fiscal já é de
conhecimento público e que essa
medida só exporia ministros que
estão fora da crise. Por ora, foi
descartada também.
Pesou ainda na subida do tom
contra a oposição a avaliação do
presidente de que já passou o pior
da crise no que se referia a ele. Lula acha que a oposição perdeu força para tentar dar prosseguimento a um eventual pedido de impeachment e que não levantará
nada nas investigações congressuais que possa vir a comprometê-lo com o esquema do PT com o
empresário Marcos Valério Fernandes de Souza.
Cautela
Alguns auxiliares do presidente
lhe recomendaram cautela nas últimas reuniões. Para eles, seria
melhor esperar a conclusão dos
trabalhos das CPIs para bater
mais duro nos oposicionistas.
A elevação no tom das críticas à
oposição começou no discurso
presidencial de 25 de agosto, no
qual ele se comparou a Juscelino
Kubitschek (1956-1961) e afirmou
que não repetiria os destinos de
Getúlio Vargas (suicídio), Jânio
Quadros (renúncia) e João Goulart (deposição, apesar de Lula ter
dito equivocadamente que havia
sido renúncia também).
Naquele discurso, Lula bateu
duro na oposição, atribuindo as
críticas dela a uma "antecipação"
da sucessão presidencial do ano
que vem.
PFL e impeachment
Declarações assim, avaliam ministros, acirram os ânimos da
oposição. Esse auxiliares têm razão. O PFL já tem documento que
traça os principais argumentos
que poderiam ser listados para
tentar pedir a abertura de processo de impeachment.
Rodrigo Maia, líder do PFL na
Câmara, discursou no Congresso
na quarta-feira passada dizendo
ver motivo para Lula responder a
crime de responsabilidade, o que
resultaria num eventual impeachment do presidente.
"O caso da Telemar, empresa
que colocou R$ 5 milhões numa
empresa do filho do presidente, é
caso para crime de responsabilidade. Ela é concessionária de um
serviço público e tem interesses
no governo", diz o pefelista.
A Telemar investiu essa quantia
na Gamecorp, empresa que tem
entre os sócios um dos filhos do
presidente. O "caso Telemar"
consta do documento do PFL.
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