São Paulo, domingo, 04 de setembro de 2005

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Maristela discorda da paciência atribuída por Lula a Juscelino; para ela, não havia nele esse atributo

Para filha de JK, citação de Lula sobre seu pai é estranha

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Única filha viva de Juscelino Kubitschek, Maristela Kubitschek, 62, diz estar acompanhando com estranheza as recentes citações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o mandato de seu pai. E afirma que, caso queira mesmo se mirar na figura política de JK, Lula teria que "realmente estudar" tal governo (1956-1961).
"Se o presidente Lula quer realmente se mirar no exemplo de JK, ele teria que realmente estudar o governo JK e quem foi a figura JK. Porque a comparação dá uma interpretação que não é verdadeira. (...) Acho que, se o presidente Lula quiser se mirar no exemplo de Juscelino, acho que ele tem que se mirar no exemplo do Juscelino verdadeiro, o que foi o Juscelino, o que o Juscelino representou", disse Maristela, por telefone, de seu escritório, no Rio de Janeiro.
Tanto em discursos como em conversas reservadas nas últimas semanas, Lula tem citado a "paciência" de Juscelino Kubitschek como um exemplo que deve seguir diante da atual crise política. Na visão histórica do presidente, JK foi massacrado durante sua gestão e somente foi reconhecido depois de morto, em 1976. Anteontem, em Uberlândia (MG), voltou a citá-lo como "um mineiro que possivelmente tenha sido mais acusado do que eu".
Cautelosa em suas palavras, Maristela procurar analisar apenas as contradições da fala de Lula com a gestão de JK, sem oferecer críticas ao presidente da República. "É sempre motivo de orgulho para a gente alguém que queira se mirar na figura de papai. E jamais eu vou questionar o presidente da República."

Estranheza
Apesar disso, porém, admite sua estranheza com a repentina lembrança de Lula à figura de Juscelino Kubitschek. Anteontem, de última hora, Lula decidiu incluir em sua agenda a inauguração de busto de JK no aeroporto internacional de Brasília. Maristela afirma não ter lembranças de Lula, como candidato ou já como presidente, numa visita ao Memorial JK, em Brasília.
"Comigo pessoalmente nunca houve um contato direto, muito pelo contrário. Nunca fui procurada, nunca fui convidada, nunca fui sondada, numa me telefonaram. Eu não sei porque ele está usando isso."
Eleitora nas eleições de 2002 do atual prefeito paulistano, José Serra (PSDB), e ainda indecisa sobre o pleito do ano que vem, Maristela discorda da tese de Lula na qual a "paciência" marcou a gestão de Juscelino no governo.
"A paciência dele eu acho que não existia. Ele não era uma pessoa paciente, ao contrário. Ele era uma pessoa que acordava os seus ministros às 6h da manhã. Ele mesmo que discava. Ele era absolutamente impaciente em ver o Brasil crescer. O que é ser paciente? Pra sentar e ficar esperando as coisas acontecerem? Isso não existe, isso não é papai." Ainda sobre a (falta de) paciência, Maristela lembrou de ações de seu pai que, segundo ela, mostram o contrário. "Ele sempre assumiu para si a responsabilidade. Ele nunca titubeou."
Ela rechaça a idéia que JK somente tenha sido reconhecido depois de morto: "Papai saiu carregado pelos braços do povo". Em seu governo, JK enfrentou duas revoltas militares e forte oposição da UDN. Apesar disso, terminou seu mandato com popularidade suficiente para ser eleito senador por Goiás cinco meses após deixar o governo. (EDUARDO SCOLESE)

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