São Paulo, segunda-feira, 04 de setembro de 2006

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Mauro Paulino

Déjà vu

"EU NÃO sou igual a ele" bradou Fernando Henrique na semana passada. Para quem acompanha as eleições da janela de um instituto de pesquisas e compara as campanhas pela reeleição de Lula e Fernando Henrique, há mais coincidências do que diferenças em suas trajetórias. A disputa deste ano dá uma sensação de filme já visto.
Em 1998, Fernando Henrique iniciou o mês de setembro, pelo Datafolha, com 48% das intenções de voto, Lula obteve 26% enquanto Ciro Gomes e Enéas somavam 11%. Esses números não são diferentes, segundo a estatística, dos atuais 50% de Lula, 27% de Alckmin e 10% de Heloísa Helena.
A curva de intenção de voto também é semelhante. Fernando Henrique sofreu um revés em maio de 98, após a repercussão de uma declaração infeliz sobre os aposentados, recuperou-se a partir de julho e chegou ao dobro de seu adversário com duas semanas de horário eleitoral.
Lula iniciou 2006 com apenas 30%, seu menor percentual nessa disputa, reflexo das denúncias de corrupção em seu governo, reagiu e atinge agora também o dobro das menções obtidas por Alckmin.
Fernando Henrique baseou sua campanha na exposição de feitos de sua primeira gestão, enfatizando a política de estabilidade e prometendo continuar o Plano Real. Com a exposição na TV, alavancou a aprovação a seu governo para 43%. Lula adota a mesma fórmula, garantindo que manterá a economia estável e ampliará os benefícios sociais. O impulso da TV também elevou sua aprovação a 48%.
Mas aqui começam as poucas, porém importantes diferenças. Enquanto as principais motivações para reeleger Fernando Henrique apontavam para a área econômica, como conter a inflação e aumentar o poder de compra, Lula é valorizado pelas realizações na área social, principalmente pela criação do Bolsa-Família.
É esse aspecto que diferencia a atual eleição e gera contrastes nas avaliações por nível de renda. Em 98, o melhor desempenho de Fernando Henrique se dava entre os eleitores com renda familiar mais alta.
Sua vantagem em relação ao segundo colocado chegava a 26 pontos nesse estrato. Hoje, Lula amarga uma desvantagem de 13 pontos para Alckmin entre os que têm renda familiar acima de R$ 6.000. Mas esse segmento representa menos de 5% dos eleitores.
Entre os mais pobres Fernando Henrique superava seu principal oponente por 21 pontos. Hoje, Lula supera Alckmin por 35 pontos entre os que têm renda familiar até R$ 600. São os que decidem a eleição pois representam 51% do eleitorado.
O roteiro de 98, que a média da população vem seguindo até aqui, só mudará se parte desses eleitores de baixa renda desistir de votar em Lula. Após a mudança de tom das campanhas oposicionistas na TV, as pesquisas desta semana darão mais pistas sobre esse desfecho.


MAURO PAULINO é diretor-geral do instituto Datafolha


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