|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mauro
Paulino
Déjà vu
"EU NÃO sou igual a
ele" bradou Fernando Henrique na semana passada.
Para quem acompanha as
eleições da janela de um
instituto de pesquisas e
compara as campanhas pela reeleição de Lula e Fernando Henrique, há mais
coincidências do que diferenças em suas trajetórias.
A disputa deste ano dá uma
sensação de filme já visto.
Em 1998, Fernando
Henrique iniciou o mês de
setembro, pelo Datafolha,
com 48% das intenções de
voto, Lula obteve 26% enquanto Ciro Gomes e
Enéas somavam 11%. Esses
números não são diferentes, segundo a estatística,
dos atuais 50% de Lula,
27% de Alckmin e 10% de
Heloísa Helena.
A curva de intenção de
voto também é semelhante. Fernando Henrique sofreu um revés em maio de
98, após a repercussão de
uma declaração infeliz sobre os aposentados, recuperou-se a partir de julho e
chegou ao dobro de seu adversário com duas semanas de horário eleitoral.
Lula iniciou 2006 com apenas 30%, seu menor percentual nessa disputa, reflexo das denúncias de corrupção em seu governo,
reagiu e atinge agora também o dobro das menções
obtidas por Alckmin.
Fernando Henrique baseou sua campanha na exposição de feitos de sua primeira gestão, enfatizando a
política de estabilidade e
prometendo continuar o
Plano Real. Com a exposição na TV, alavancou a
aprovação a seu governo
para 43%. Lula adota a
mesma fórmula, garantindo que manterá a economia estável e ampliará os
benefícios sociais. O impulso da TV também elevou sua aprovação a 48%.
Mas aqui começam as poucas, porém importantes diferenças. Enquanto as
principais motivações para
reeleger Fernando Henrique apontavam para a área
econômica, como conter a
inflação e aumentar o poder de compra, Lula é valorizado pelas realizações na
área social, principalmente
pela criação do Bolsa-Família.
É esse aspecto que diferencia a atual eleição e gera
contrastes nas avaliações
por nível de renda. Em 98,
o melhor desempenho de
Fernando Henrique se dava entre os eleitores com
renda familiar mais alta.
Sua vantagem em relação
ao segundo colocado chegava a 26 pontos nesse estrato. Hoje, Lula amarga
uma desvantagem de 13
pontos para Alckmin entre
os que têm renda familiar
acima de R$ 6.000. Mas esse segmento representa
menos de 5% dos eleitores.
Entre os mais pobres
Fernando Henrique superava seu principal oponente por 21 pontos. Hoje, Lula
supera Alckmin por 35
pontos entre os que têm
renda familiar até R$ 600.
São os que decidem a eleição pois representam 51%
do eleitorado.
O roteiro de 98, que a
média da população vem
seguindo até aqui, só mudará se parte desses eleitores de baixa renda desistir
de votar em Lula. Após a
mudança de tom das campanhas oposicionistas na
TV, as pesquisas desta semana darão mais pistas sobre esse desfecho.
MAURO PAULINO é diretor-geral
do instituto Datafolha
Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Eleições 2006/Presidência: PT quer diálogo com Serra e Aécio Índice
|