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ENTREVISTA DA 2ª/JORGE BORNHAUSEN
Após a eleição, PFL e PSDB devem cuidar das suas vidas
Presidente do PFL dá mostras de que já vislumbra a vitória de Lula e põe em dúvida a manutenção da aliança com os tucanos
A oposição não pediu o impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em agosto de 2005, quando o publicitário Duda Mendonça admitiu ter recebido pelo caixa dois pela campanha presidencial de 2002, porque tinha
medo de ser derrotada na Câmara e, assim, dar um
"documento, indevido e injusto, de honorabilidade"
ao petista. É o que diz o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, 68, que, assim, descarta a explicação predominante à época, de que faltava "respaldo da sociedade" para tentar impedir Lula.
VERA MAGALHÃES
DO PAINEL, EM BRASÍLIA
SILVIO NAVARRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Um ano depois, Bornhausen
diz acreditar que a "memória"
do eleitor possa ser "sacudida"
pelas denúncias que atingiram
membros do governo, volta a
responsabilizar Lula, mas, em
vários momentos de uma entrevista concedida à Folha na
última quarta-feira, dá mostras
de que já vislumbra a vitória do
petista e a possibilidade de o
PFL ficar na oposição. Tanto
que põe em dúvida a manutenção da aliança com o PSDB, dizendo que, a partir de 2007, cada um deve "cuidar da sua vida". Leia a seguir os principais
trechos da entrevista:
FOLHA - Qual o caminho que o sr.
vislumbra para o PFL a partir do ano
que vem?
JORGE BORNHAUSEN - Em primeiro lugar, precisamos verificar
quais os partidos que vão superar a cláusula de desempenho.
De maneira concreta, hoje, só
podemos afirmar que quatro
partidos têm permanência assegurada na vida política nacional -PFL, PMDB, PT e PSDB.
Teremos seis ou sete partidos.
Aí você vai ter um novo quadro
partidário. Será uma grande
contribuição para que se complete a reforma política. Dentro
desse quadro, o PFL tem de
imaginar seu futuro. Se o resultado eleitoral for favorável a
nós, como eu espero, temos de
ter o cuidado de ser seletivos na
entrada daqueles que vão ficar
sem partido e que procuram o
pólo vencedor. Temos de ser
seletivos sobretudo no campo
ético. Se não tivermos sucesso,
temos de ter também uma postura firme, para não viver os
problemas que vivemos nessa
fase. Logo de cara, quem quiser
aderir ao governo será convidado a sair.
FOLHA - Nos primeiros anos do governo Lula, o fato de ter ido para a
oposição desidratou o PFL. Isso pode
se repetir num segundo mandato?
BORNHAUSEN - O PFL sofreu
uma lipoaspiração pelo mensalão. Tanto é que nesses casos de
mensalão e sanguessugas tem
muitos daqueles que foram
cooptados pelo governo quando estavam no PFL. Para nossa
felicidade e para a desgraça do
Brasil, o governo optou pela
corrupção e pelo mensalão.
Mas isso foi bom por ter feito
uma purificação no PFL. Pode
não ter sido completa, eu reconheço, mas o partido melhorou
na sua unidade, na qualidade
dos quadros, na obrigação de
fazer oposição fiscalizadora e
permanente.
FOLHA - O partido adquiriu "experiência" para ser oposição?
BORNHAUSEN - Sem dúvida. A
verdade é que o PFL precisava
passar pela oposição. E o fez de
forma correta. Fomos governo
sempre que ganhamos a eleição. O PFL nunca foi um partido adesista. Fomos governo
com Fernando Henrique porque demos o vice na chapa, nas
duas ocasiões. No governo Sarney, idem. No governo Collor,
apoiamos no segundo turno.
Não aderimos em momento algum, sempre participamos do
processo eleitoral.
FOLHA - A oposição do PFL foi gradativa. No primeiro momento houve focos de aproximação com o governo e, no fim, chegou quase a pedir o impeachment do presidente.
Como o sr. responde aos que os acusam de fazer oposição estridente, ou
até golpista?
BORNHAUSEN - Eu acho que o
PFL cumpriu o papel que tinha
de desempenhar. Se foi mais
estridente foi porque o governo
exigia essa ressonância, essa
vocalização, face à desgraça de
corrupção que Lula e o PT trouxeram para a administração
pública. Foi o período mais triste em termos éticos da história
da República brasileira.
FOLHA - No auge da CPI dos Correios, quando houve o depoimento
de Duda Mendonça, a oposição optou por não pedir o impeachment.
Foi a estratégia correta?
BORNHAUSEN - A análise tem de
levar em conta o exame do processo legislativo. Qualquer pedido de impeachment pode ser
arquivado pelo presidente da
Câmara de forma monocrática.
Para ser desarquivado, precisa
da assinatura de 10% dos deputados. Temos esse número.
Acontece que ele precisa de
dois terços da Câmara para sua
admissibilidade, e nunca tivemos esses dois terços. Prova é
que na sucessão de Severino
Cavalcanti, que renunciou, o
vencedor foi Aldo Rebelo. Nunca tivemos maioria, quanto
mais dois terços. Se tivéssemos
ingressado naquele momento e
a admissibilidade tivesse sido
negada, a Câmara estaria dando um documento, indevido e
injusto, de honorabilidade ao
presidente Lula, que tem responsabilidade por culpa e dolo
por tudo que ocorreu.
FOLHA - Mas a explicação dada à
época foi que faltava respaldo na sociedade.
BORNHAUSEN - Eu nunca me
preocupei com respaldo na sociedade. O que me preocupava
era dar um atestado de boa conduta a quem não merecia, a
quem era o responsável direto
pela má conduta dos negócios
escusos.
FOLHA - PSDB e PFL recompuseram
a aliança depois de um afastamento
em 2002. Ela continuará em 2007?
BORNHAUSEN - Se vitoriosos,
evidentemente a participação
no governo nos manterá dentro
de uma aliança, de uma concertação. Se perdedores, só posso
garantir uma coisa: o PFL fará
oposição.
FOLHA - O sr. diz isso porque teme
que o PSDB seja levado a se aproximar do governo, que advoga a tese
da concertação?
BORNHAUSEN - Eu acredito que
o PSDB também será oposição,
mas sempre em situação mais
difícil, em razão das prováveis
vitórias em São Paulo e em Minas Gerais.
FOLHA - Por que isso dificulta?
BORNHAUSEN - Porque evidentemente os governadores querem ter bom relacionamento
com o governo federal. E, no caso dos dois, por serem potenciais candidatos a presidente,
querem que o partido fique
mais contido.
FOLHA - Nesses dois Estados, o cargo de vice já não é do PFL. Pode ser
mais uma razão de afastamento?
BORNHAUSEN - Eu entendo com
muita clareza que a nova composição partidária, com menos
partidos, será um fator inibidor
de próximas coligações. Os partidos que não disputarem as
eleições majoritárias com candidatos próprios a tendência é
caírem e, amanhã, não alcançarem a cláusula de desempenho.
Então, cada um vai ter de tratar
da sua vida. PFL e PSDB também.
FOLHA - O PFL passará a priorizar o
Executivo? Terá tempo de lançar um
nome para 2010?
BORNHAUSEN - Sim. Os partidos
passarão a ter como prioridade
disputar o Executivo com candidaturas próprias. Temos
tempo para que um candidato
se imponha. Os nomes sairão
depois da eleição, a partir do
desempenho de cada um. O
partido já atualizou seu programa partidário, fez sua refundação, fez uma limpeza interna,
muitas vezes por iniciativa própria, e outras pela cooptação
desonesta do governo Lula.
Agora estamos prontos. Aliás,
no meu entendimento, já deveríamos ter concorrido agora
com candidatura própria.
FOLHA - O sr. se arrepende da
aliança?
BORNHAUSEN - Eu achava que
deveríamos ter candidato, mas
a maioria achou que era melhor
fazer a aliança para não dispersar forças. Eu, como presidente
do partido, nada pude fazer senão acatar. Não sou dono do
partido, e sim representante
que segue a idéia majoritária do
partido. Agora não adianta
olhar para trás. Estamos no
meio de uma corrida. Temos de
superar as dificuldades e procurar chegar ao segundo turno,
porque aí é outra eleição.
FOLHA - Qual seria a proposta do
PFL para postular a Presidência? O
partido tem base social para isso?
BORNHAUSEN - Nossa agenda
demonstrou claramente que
somos um partido de centro-reformista, porque nós entendemos que o Brasil precisa
crescer e gerar empregos. Então, tem de dar prioridade às
ações da iniciativa privada. O
governo tem a obrigação de fazer a fiscalização. Aí o papel de
fiscalização, pela sociedade,
por meio das agências. Claro
que temos base social. A maior
ambição de cidadania é emprego e educação. Isso é possível se
investirmos em educação e
criarmos condições de a iniciativa privada crescer -com menos impostos e mais empregos- e se o governo não atrapalhar como faz agora.
FOLHA - Lula aparece consolidado
na liderança das pesquisas, com
possibilidade de vencer no primeiro
turno. A que o sr. atribui esse favoritismo?
BORNHAUSEN - Não posso me
convencer que o brasileiro vá,
nesse plebiscito de 1º de outubro, optar pela desonestidade e
pela mentira. Temos um mês
para que a memória dos nossos
eleitores seja sacudida, e que
uma reflexão mais profunda
nos permita nos ver livres desse
governo incompetente e corrupto, evitando o desastre que
seria um segundo mandato. Eu
fui ministro da Casa Civil. Posso afirmar com muita segurança que não existe ninguém mais
informado no país que o presidente da República. Portanto, a
afirmação de que Lula não sabia do mensalão, do valerioduto, da cooptação, do dinheiro
público pago a Duda Mendonça
é mentirosa, própria de quem
não tem dignidade para governar o país.
FOLHA - O PT acusa o PFL de fazer
oposição golpista. E declarações
suas, como a de que o país ficaria livre da "raça" petista por pelo menos
30 anos são usadas para avalizar essa análise.
BORNHAUSEN - Quando afirmei,
numa reunião de empresários,
que entendia que o Brasil ficaria livre dessa raça por 30 anos,
o fiz na direção dos corruptos
do governo do PT. Não generalizei em momento algum. Os
que procuraram generalizar foram justamente aqueles que resolveram avalizar os corruptos
do governo do PT. Os que tentaram me caracterizar como
fascista eu interpelei judicialmente. O ministro Luiz Marinho, em sua resposta, deu uma
explicação evasiva, própria dos
que não têm caráter para manter suas posições.
FOLHA - O sr. também insinuou
uma relação entre o PT e os ataques
atribuídos ao PCC em São Paulo.
BORNHAUSEN - É evidente que
existem indícios. O membro da
Executiva estadual do PT de
São Paulo Jilmar Tatto está
sendo investigado por um inquérito policial em Santo André, em razão da questão das vans, que têm frotas comandadas pelo PCC. Isso deixa claro
por que existem vans e ônibus
incendiados. A revista "Veja"
divulgou diálogos de membros
do PCC pedindo votos para o
[José] Genoino para governador. Agora, a Folha publicou
diálogos em que integrantes do
PCC pedem que matem políticos, menos os do PT. O que
posso dizer é que há indícios
desse conluio. Cabe às autoridades investigar essa questão.
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