São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Empresa tinha rede de lavar dinheiro, diz PF

Fernando Sarney afirma que não se vai manifestar sobre as acusações alegando que não teve acesso ao inquérito policial

Relatório da Operação Boi Barrica afirma que suposto esquema movimentou, nos últimos três anos, mais de R$ 10 mi de forma irregular


LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

Fernando Sarney e sua família montaram uma rede de lavagem de dinheiro, em alguns dos casos com a utilização de prováveis laranjas, pela qual movimentaram nos últimos três anos mais de R$ 10 milhões irregularmente, acusa o relatório da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
De acordo com a PF, boa parte do dinheiro que irrigou o esquema resultou do "crime de tráfico de influência". Os investigadores citam como exemplo a intermediação feita por Fernando Sarney entre a incorporadora imobiliária Abyara e o vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fabio Lenza, indicado para o cargo pelo senador José Sarney (PMDB-AC), pai de Fernando.
Em troca dos contatos na CEF, Fernando obteve da Abyara patrocínio para um evento organizado pelo Grupo Marafolia, de acordo com a PF. Segundo os investigadores, Fernando oculta sua participação no Marafolia por meio da utilização de supostos laranjas.
À Folha, Fernando Sarney disse que não se manifestaria sobre as acusações de lavagem de dinheiro e tráfico de influência alegando não ter tido acesso ao inquérito da Polícia Federal.
A Caixa Econômica Federal, por meio de sua assessoria, informou não ter conhecimento do processo e disse que vai procurar se inteirar do caso junto aos órgãos competentes. A Abyara foi informada, por meio de sua assessoria de imprensa, sobre o teor da reportagem, mas não havia se manifestado até a conclusão desta edição.

Movimentação
A PF obteve a quebra de sigilo bancário de Fernando Sarney, de familiares diretos e de empresas ligadas a ele. Num dos extratos, os policiais identificaram um total de R$ 2,44 milhões transferidos pela Abyara para uma conta conjunta no banco HSBC de Ana Clara e Teresa Sarney, respectivamente, filha e mulher de Fernando.
Esses valores foram creditados entre agosto e novembro de 2007. "Que transação poderia ter sido realizada entre as partes que justificasse esses depósitos?", questionou o relatório da Polícia Federal.
Os policiais destacaram que sempre no dia seguinte ao crédito ocorria um débito de grande valor da conta conjunta das duas. Eles mencionaram, por exemplo, quatro transferências, no valor somado de R$ 1,2 milhão, para a São Luís Factoring, o principal braço de lavagem de dinheiro ligado a Fernando Sarney, sempre de acordo com a PF.

Engenharia financeira
"Assim, nota-se que a São Luís Factoring trata-se de uma engenharia financeira montada para a lavagem de dinheiro", diz o texto do relatório.
Pelas conversas captadas pela Polícia Federal, o interesse da Abyara na CEF era um financiamento de grande valor.
No dia 14 de fevereiro deste ano, Fernando conversa com um interlocutor identificado pela PF como Paulinho.
Fernando: "Mas que tipo de recomendação eles querem?".
Paulinho: "Rapaz, ele só falou recomendação assim algum negócio de financiamento grande com a CEF. Eu acho que é alguma coisa muito grande deles".
Pela seqüência dos diálogos, a reunião dos vice-presidentes da CEF na Abyara, em São Paulo, teria ocorrido no dia 15 de fevereiro.
Além de Fábio Lenza, eles citam também o nome do vice-presidente Jorge Ereda. No entanto, o relatório da PF não esclarece se a reunião ocorreu nem se a CEF aprovou algum financiamento para a Abyara.
Os policiais investigaram também uma outra ramificação do suposto esquema de lavagem de dinheiro.
Eles levantaram que a sócia da Marafolia Dulce Britto Freire é dona também da casa de shows Clubão Jamaica. De acordo com a PF, a casa funcionaria esporadicamente aos finais de semana, cobrando ingresso de R$ 10.


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