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Empresa tinha rede de lavar dinheiro, diz PF
Fernando Sarney afirma que não se vai manifestar sobre as acusações alegando que não teve acesso ao inquérito policial
Relatório da Operação Boi Barrica afirma que suposto esquema movimentou, nos últimos três anos, mais de R$ 10 mi de forma irregular
LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
Fernando Sarney e sua família montaram uma rede de lavagem de dinheiro, em alguns dos
casos com a utilização de prováveis laranjas, pela qual movimentaram nos últimos três
anos mais de R$ 10 milhões irregularmente, acusa o relatório
da Operação Boi Barrica, da Polícia Federal.
De acordo com a PF, boa parte do dinheiro que irrigou o esquema resultou do "crime de
tráfico de influência". Os investigadores citam como exemplo
a intermediação feita por Fernando Sarney entre a incorporadora imobiliária Abyara e o
vice-presidente da Caixa Econômica Federal Fabio Lenza,
indicado para o cargo pelo senador José Sarney (PMDB-AC), pai de Fernando.
Em troca dos contatos na
CEF, Fernando obteve da Abyara patrocínio para um evento
organizado pelo Grupo Marafolia, de acordo com a PF. Segundo os investigadores, Fernando oculta sua participação
no Marafolia por meio da utilização de supostos laranjas.
À Folha, Fernando Sarney
disse que não se manifestaria
sobre as acusações de lavagem
de dinheiro e tráfico de influência alegando não ter tido
acesso ao inquérito da Polícia
Federal.
A Caixa Econômica Federal,
por meio de sua assessoria, informou não ter conhecimento
do processo e disse que vai procurar se inteirar do caso junto
aos órgãos competentes. A Abyara foi informada, por meio de
sua assessoria de imprensa, sobre o teor da reportagem, mas
não havia se manifestado até a
conclusão desta edição.
Movimentação
A PF obteve a quebra de sigilo bancário de Fernando Sarney, de familiares diretos e de
empresas ligadas a ele. Num
dos extratos, os policiais identificaram um total de R$ 2,44 milhões transferidos pela Abyara
para uma conta conjunta no
banco HSBC de Ana Clara e Teresa Sarney, respectivamente,
filha e mulher de Fernando.
Esses valores foram creditados entre agosto e novembro de
2007. "Que transação poderia
ter sido realizada entre as partes que justificasse esses depósitos?", questionou o relatório
da Polícia Federal.
Os policiais destacaram que
sempre no dia seguinte ao crédito ocorria um débito de grande valor da conta conjunta das
duas. Eles mencionaram, por
exemplo, quatro transferências, no valor somado de R$ 1,2
milhão, para a São Luís Factoring, o principal braço de lavagem de dinheiro ligado a Fernando Sarney, sempre de acordo com a PF.
Engenharia financeira
"Assim, nota-se que a São
Luís Factoring trata-se de uma
engenharia financeira montada para a lavagem de dinheiro",
diz o texto do relatório.
Pelas conversas captadas pela Polícia Federal, o interesse
da Abyara na CEF era um financiamento de grande valor.
No dia 14 de fevereiro deste
ano, Fernando conversa com
um interlocutor identificado
pela PF como Paulinho.
Fernando: "Mas que tipo de
recomendação eles querem?".
Paulinho: "Rapaz, ele só falou
recomendação assim algum negócio de financiamento grande
com a CEF. Eu acho que é alguma coisa muito grande deles".
Pela seqüência dos diálogos,
a reunião dos vice-presidentes
da CEF na Abyara, em São Paulo, teria ocorrido no dia 15 de
fevereiro.
Além de Fábio Lenza, eles citam também o nome do vice-presidente Jorge Ereda. No entanto, o relatório da PF não esclarece se a reunião ocorreu
nem se a CEF aprovou algum
financiamento para a Abyara.
Os policiais investigaram
também uma outra ramificação do suposto esquema de lavagem de dinheiro.
Eles levantaram que a sócia
da Marafolia Dulce Britto Freire é dona também da casa de
shows Clubão Jamaica. De
acordo com a PF, a casa funcionaria esporadicamente aos finais de semana, cobrando ingresso de R$ 10.
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