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Contrapontos
DNA traz problemas específicos; projetos são genéricos
APÓS oito séries semanais de perguntas para os candidatos a
prefeito a partir dos
problemas de cada região da cidade identificados pela população na pesquisa DNA Paulistano,
realizada pelo Datafolha, o jornal traz hoje a análise do que foi
prometido em diversas áreas.
Foram destacadas neste caderno as propostas e os compromissos dos nomes mais bem colocados na disputa eleitoral: Marta Suplicy, do PT, Gilberto
Kassab, do DEM, e Geraldo
Alckmin, do PSDB.
Na maioria dos temas, houve
convergência de idéias e soluções entre os candidatos diante
dos anseios revelados pela pesquisa. As propostas para áreas
como o transporte público, a
saúde, a educação, a segurança e
o lazer também foram genéricas
e desconsideraram, com freqüência, dificuldades técnicas,
custos e prazos de realização.
O DNA Paulistano é a maior
pesquisa de opinião já feita sobre São Paulo. A partir de mais
de 28 mil entrevistas, entre fevereiro e julho deste ano, o Datafolha mapeou a realidade dos moradores com dados sobre renda,
sexo, idade e os principais problemas e qualidades de cada um
dos 96 distritos da cidade.
"O DNA é baseado em metodologia de avaliação de efetividade
das políticas públicas, ou seja,
como a população avalia os serviços públicos", afirma Alessandro Janoni, diretor de pesquisas
do Datafolha. "Como os problemas são específicos, os candidatos podem fazer também propostas mais específicas."
REGIÃO NORTE
Marta, Kassab e Alckmin propõem
melhorias no trânsito e no transporte
coletivo para diminuir a poluição
da região. Mas, segundo pesquisas, a
maior parte do ar poluído tem origem
em outros locais e fica retido na serra
da Cantareira. "A solução passa pela
diminuição drástica do número de
carros em toda a cidade. É uma medida
impopular", diz Paulo Saldiva, do Laboratório
de Poluição da USP. Marta
propõe levar o metrô até a Vila Maria,
bairro que se disse satisfeito com suas
opções de transporte (nota 7,2) e onde
apenas 13% dos moradores usam carro
para trabalhar -47% vão a pé, 30%
usam ônibus e 5%, metrô.
REGIÃO SUL
Os candidatos dizem que apenas
o metrô pode aliviar o trânsito da região,
que concentra bairros que mais
reclamam do assunto. Distritos próximos
a estações já dão notas altas para
as opções de transporte, como Saúde
(7,5), Vila Mariana ( 7,9), Jabaquara (7)
e Ipiranga (7,7). Mas moradores continuam
usando carros. Os candidatos
prometem repassar verba para o Estado
concluir a linha 5 do metrô, ligando
Largo 13 e Chácara Klabin. Duas estações
estão previstas para 2010 e a última
para 2012. Marta propõe uma nova
linha passando por Faria Lima e aeroporto
de Congonhas, mas o projeto foi
alvo de críticas do próprio metrô.
REGIÃO CENTRAL
"É extremamente positivo que as
propostas apontem o centro como um
lugar de integração. Mas a questão é:
quem vai ocupar? Com que tipo de atividades?
Para quais grupos?", diz Paula
Miraglia, do Ilanud (órgão da ONU
para a violência). Mesmo que tenham
projetos diferentes, Marta, Kassab e
Alckmin prometem ações para reocupar
a região. A petista promete obras
de revitalização usando verbas do BID
(Banco Interamericano de Desenvolvimento),
o que já colocou em prática
quando foi prefeita (2001-04), e a RedeCeu,
articulando prédios públicos.
Kassab promete concluir o programa
Nova Luz, para acabar com a cracolândia,
mas patina devido à dificuldade
com desapropriações. Alckmin propõe
atividades de lazer para atrair jovens
para a região central à noite.
EXTREMO LESTE
Os candidatos prometem fazer com
que obra do corredor de ônibus Expresso
Tiradentes -o ex-"Fura Fila"-
avance mais em um único mandato do
que nas últimas três administrações,
para reduzir o tempo gasto pelos moradores
para ir do extremo leste ao trabalho.
Criado em 1997 pelo ex-prefeito
Celso Pitta e alterado na gestão Marta,
o corredor de ônibus vai ligar o centro
à Cidade Tiradentes, com 32 km divididos
em cinco trechos. No entanto,
os trechos 1 e 2 só foram inaugurados
em março de 2007, com 8 km. Em junho
de 2006, a prefeitura recebeu do
Estado R$ 165 milhões para concluir
a obra. À época, a previsão de entrega
do trecho 3 era para março de 2007, e
a dos trechos 4 e 5, para junho de 2008.
Porém, nenhum deles ficou pronto até
agora.
REGIÃO OESTE
Qualificação de professores é a resposta
dos três candidatos para reduzir
a disparidade entre o desempenho dos
alunos da rede pública e da rede privada
na região. Eles propõem criar condições
para a participação em cursos
de graduação e até pós-graduação. Porém,
para especialistas, as propostas
deveriam priorizar a capacitação coletiva
e não apenas a qualificação individual.
Para a professora da Faculdade
de Educação da USP Lisete Arelaro, a
formação coletiva é mais significativa
para a comunidade escolar, porque
"gera discussões entre os professores
da unidade de ensino e contempla a
cultura própria de cada escola".
EXTREMO SUL
Realizar a regularização fundiária
para promover melhorias, como pavimentação,
e ao mesmo tempo preservar
os entornos das represas Guarapiranga
e Billings são ações propostas.
Mas as medidas podem gerar conflitos,
pois há muitas áreas de mananciais invadidas
na região. "Os candidatos não
tocam no assunto. Ele é impopular",
diz Maria Nunes, da Fundação Boticário,
que tem projetos de preservação
ambiental na área. "É preciso ter
coragem para debater a remoção de
pessoas dos mananciais, sem deixar
de pensar no problema social das retiradas.
O que não pode é ficar sem resolver
nenhuma das questões."
NOROESTE
As construções de um hospital em
Brasilândia e de postos de saúde estão
entre as propostas de Marta, Kassab e
Alckmin, mas os especialistas dizem
que a criação de unidades não é suficiente para eliminar o déficit no atendimento.
O professor da Faculdade
de Medicina da USP Paulo Elias diz
que "não basta construir mais hospitais
e unidades, o problema central é
fazer com que a rede já instalada seja
eficaz". Para Elias, a melhora pode
ser conseguida com a integração dos
sistemas regionais -por meio de uma
comunicação eficiente entre as unidades-
e da capacitação de funcionários
na área de administração em saúde.
REGIÃO LESTE
O número de moradores que reclamam
da violência na região é maior do
que a média da cidade. Os candidatos
propõem mais iluminação, instalar câmeras
e aumentar o efetivo da Guarda
Civil. "As cidades que combateram a
violência no mundo fizeram isso com
os prefeitos", diz o sociólogo Cláudio
Beato, da UFMG. Segundo ele, câmeras
de segurança são efetivas, pois ajudam
a localizar assaltantes reincidentes.
Porém, Beato diz que as respostas
devem ir além do aumento da vigilância,
e as prefeituras têm de aproveitar
sua capilaridade para fazer programas
de conscientização sobre drogas e levar
infra-estrutura aos bairros.
Leia as propostas completas dos candidatos para cada região em www.folha.com.br/082763
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