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Vida pública
Metade de SP não tem interesse em política
Desinteresse é ainda maior em bairros com pior infra-estrutura; 63% também dizem não ter nenhum partido político de preferência
FERNANDO BARROS DE MELLO
TALITA BEDINELLI
DA REPORTAGEM LOCAL
É no estacionamento do
mercado municipal de Sapopemba (zona leste) que o comerciante Carlos Silas, 53, localiza uma espécie de símbolo
tombado do interesse pela política no bairro. Uma paineira de
mais de cinco metros cujo corte
está expressamente proibido.
"Quando pensaram em fazer
o mercado, há mais de 20 anos,
tiveram que mudar o projeto,
porque a gente não deixou cortar a árvore", diz o morador.
Silas se posiciona em uma
parcela pequena da população
paulistana. Ele diz estar entre
os 13,7% que dizem ter "muito
interesse pela política". A pesquisa DNA Paulistano, realizada pelo Datafolha, mostra que o
tema está longe de agradar a cidade, sendo que 48,9% dos moradores não têm "nenhum interesse" no assunto e 37,3% dizem ter "um pouco". Além disso, 63,3% dizem não ter nenhum partido de preferência.
É justamente em Sapopemba
que está o maior percentual de
desinteressados: 65% dos moradores disseram ter "nenhum
interesse"; o ranking dos menos interessados segue com
Itaim Paulista (63%) e São Rafael (59%), na zona leste, e Cachoeirinha (63%) e Brasilândia
(62%), na zona noroeste.
Silas identifica a causa do desinteresse na falta de lideranças na região e na corrupção de
vereadores, prefeitos e "o que
vem de Brasília". Mesmo assim,
diz que os mais antigos do bairro resistem, sobretudo em movimentos como os abaixo-assinados para pedir uma subprefeitura própria (hoje ela cobre
Vila Prudente e Sapopemba).
Após debater com um cliente
da sua loja o melhor método
para medir a acidez do azeite,
ele cita Antônio Gomes, antigo
político do bairro ligado a Jânio
Quadros e que dá nome ao mercado. "Está tudo bem. Vamos
pedir que não piore."
As regiões da cidade que têm
o menor interesse em política
são também as que têm a pior
infra-estrutura. O noroeste
-onde 53,7% disseram não ter
nenhum interesse- é a área
onde está concentrado o menor
número de hospitais: 9 para 1,3
milhão de habitantes (1 hospital para cada 145 mil pessoas).
O índice só é pior no extremo
sul (1 hospital para cada 173
mil), onde 50,9% disseram que
o interesse em política é nulo.
No noroeste não há nenhum
museu ou sala de cinema, e só
tem dois espaços culturais. Os
únicos teatros da área estão nos
quatro CEUs da região.
O extremo leste, segunda região no ranking de desinteresse
(com 52,4%), tem o menor número de escolas, considerando-se a população local em idade
escolar: são 1.901 para 1,73 milhão de jovens de até 19 anos.
Professor da USP, José Álvaro Moisés estuda interesse por
política há mais de 20 anos e
diz que a média de interesse em
São Paulo é mais alta do que no
resto do país, mas ainda é baixa.
"As pessoas não se vêem representadas pelos partidos atuais,
que não tem um papel de bússola, de referência", afirma.
Os bairros mais ricos dominam a lista dos interessados em
política. Depois da Consolação,
estão a Vila Mariana, o Jardim
Paulista e Perdizes, todos acima dos 30% de interesse.
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