São Paulo, sábado, 04 de outubro de 2008

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Violência/lazer

Combate à violência ignora problema específico de cada bairro

Para tenente da PM e especialista, atendimento de infra-estrutura básica, como asfaltamento e iluminação, além de lazer, ajudam ação policial

DA REPORTAGEM LOCAL

Em seus programas de governo, os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo propõem combater a violência sobretudo com mais iluminação nas ruas, câmeras de vídeo e reforço da Guarda Civil Metropolitana, mas não entram no debate de como o governo municipal pode colaborar com a redução da criminalidade levando em conta a especificidade das regiões mais violentas.
Dados da pesquisa DNA Paulistano, realizado pelo Datafolha, apontam que algumas das áreas da cidade com maior demanda de infra-estrutura básica -como manutenção das ruas, asfaltamento, iluminação pública e áreas de lazer- têm maior risco de violência.
Para a Polícia Militar e especialistas em segurança pública, se a administração municipal cuidar da manutenção da cidade e da organização urbana das áreas com maiores índices de violência, o combate à criminalidade poderá ser facilitado.
"Homicídios acontecem nos locais onde o poder público efetivamente não está presente", diz o primeiro-tenente Pedro Luís de Souza Lopes, porta-voz do comando do policiamento da capital paulista. Na opinião de Souza Lopes, o discurso de que a responsabilidade pela segurança pública é de competência exclusiva do governo estadual não é verdadeiro.
"É importante que a prefeitura participe da prevenção da criminalidade de uma forma estrutural, que a gente chama de prevenção primária. O município vai atuar dando saneamento básico, infra-estrutura. Todas essas ações que implicam controlar os indicadores de desordem são fundamentais para a prevenção da violência."
Paula Miraglia, diretora-executiva do Ilanud (Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente), diz que as propostas dos candidatos para o combate à violência deixam de explicitar detalhes sobre implementação, custos e metas. "O eleitor recebe idéias que ficam na superficialidade e se parecem umas com as outras."
Miraglia disse que propor apenas a melhoria da iluminação é "um salto brusco que provoca a inteligência do eleitor". Para ela, o debate relevante é sobre melhorias urbanas, promoção de convivência pacífica e prevenção da violência.
A melhoria da infra-estrutura não impediria apenas o crime de homicídio. Poderia ajudar a combater, também, crimes contra o patrimônio.
Um exemplo é o distrito do Jaçanã, onde o risco de violência é o maior da cidade (34% dos moradores sofreram algum tipo de violência ou conhecem alguém que tenha sido assassinado nos últimos 12 meses). O Datafolha apontou que os moradores do bairro reclamam bastante da falta de áreas de lazer (nota 3,3, em uma escala de 0 a 10), da conservação das ruas e avenidas (nota 5,1) e da iluminação pública (4,6).
Odair de Oliveira, vice-presidente do Conseg (Conselho de Segurança) do Jaçanã, diz que boa parte dos crimes cometidos no "centro" do distrito tem como autores moradores de áreas com pior infra-estrutura, principalmente os bairros Jardim Filhos da Terra, Jardim Ebron e Jowa Rural.
"Um levantamento de ocorrências mostrou que 90% dos presos eram daquela região", disse Oliveira, citando um estudo do Conseg há cerca de cinco anos com base em registros do 73º Distrito Policial (Jaçanã).
Capão Redondo, no extremo sul, é outro exemplo. O risco de violência no distrito é de 30% e a avaliação dos serviços de iluminação pública, conservação de ruas e avenidas e oferta de áreas de lazer é baixíssima. O mesmo ocorre em Guaianases (extremo leste), com risco de violência de 23%, e Brasilândia (noroeste), com 22%.
(EVANDRO SPINELLI)


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