São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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PT NO DIVÃ

Senador contesta Garreta, diz que campanha de Marta errou e acirra polêmica no partido

Suplicy critica agressividade do PT e pergunta se assessor falou por Favre

Sérgio Lima/Folha Imagem
O senador Eduardo Suplicy (PT) durante entrevista em seu gabinete no Senado, em Brasília


FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Apontado por um dos coordenadores da campanha do PT em São Paulo como um dos responsáveis pela derrota do partido na capital, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), 63, disse ontem que a coordenação da campanha paulistana está querendo se eximir dos erros de estratégia cometidos durante a disputa eleitoral.
Ontem, em entrevista à Folha, Valdemir Garreta, secretário municipal e um dos homens fortes da campanha do PT em São Paulo, disse que o senador, ex-marido da prefeita Marta Suplicy, candidata derrotada à reeleição, é um dos maiores responsáveis pela criação e divulgação do preconceito de que a prefeita teria sido vítima.
Suplicy insistiu ontem que, se a campanha tivesse sido mais propositiva, o desempenho da prefeita teria sido melhor. Para embasar seu ponto de vista, Suplicy circulou ontem pelo Senado com o livro "Casos e Coisas", de Duda Mendonça, marqueteiro responsável pela campanha de Marta, a tiracolo. Ele mostrava seguidamente o trecho em que Duda diz: "Quem bate perde".
Desde que foi divulgado o resultado da eleição, Suplicy não trocou uma palavra com Marta, que, segundo ele, não atendeu a seus telefonemas nem ligou de volta.
Na entrevista, Suplicy sugere que Garreta poderia estar falando em nome do marido da prefeita, Luis Favre. "Não sei se ele está falando pelo Luis Favre, porque não conversei com o Favre", diz o senador, lançando uma dúvida.
 

Folha - O sr. disse que antes de dar a entrevista queria falar com a prefeita Marta Suplicy. Ela deu aval para que o Valdemir Garreta emitisse aquelas opiniões?
Eduardo Suplicy -
Eu liguei, mas não consegui falar com ela. A Marta em algum momento vai expressar os sentimentos dela. Na hora em que ela quiser, vou dialogar, e tudo que ela quiser me dizer sobre a eleição vai dizer com a maior franqueza.

Folha - O sr. acredita que estão querendo transformá-lo em bode expiatório pela derrota do PT?
Suplicy -
A população de São Paulo é testemunha de todo o empenho que tive para que a Marta fosse reeleita. Considero que ela fez uma excelente gestão, realizou um trabalho notável de promoção de maior justiça [social] na cidade de São Paulo.

Folha - O sr. insistiu em gravar depoimentos de apoio a ela?
Suplicy
- Foram o Valdemir Garreta e o Duda Mendonça que primeiro me procuraram, insistentemente, para que eu marcasse os horários de gravação para o programa eleitoral da Marta. Tem ligação dele [Garreta] registrada no dia 9 de junho.

Folha - Então não confere essa versão agora de que o senhor ficou implorando para gravar?
Suplicy
- No início de agosto, o Duda Mendonça me ligou perguntando se eu estaria disposto a prestar um longo depoimento sobre a Marta. Gravei na minha casa três horas de conversa, o que deve ter rendido aproximadamente uma hora e meia de depoimento. Ao terminar ele me disse que estava ótimo. Aconteceu então a convenção que homologou o nome da Marta, onde fiz um pronunciamento e disse que havia aprendido a admirar a Marta, uma pessoa excepcional, que era a mãe dos meus filhos. O Duda me disse que tinha ficado tão bom que, na abertura do horário eleitoral, resolveu colocar um trecho do pronunciamento. Usaram um minuto.

Folha - O sr. acha que poderia ter sido mais bem aproveitado?
Suplicy
- A partir daí a coordenação da campanha, constituída por Duda Mendonça, Marta Suplicy, Valdemir Garreta, Rui Falcão, Luis Favre, Manoel Canabarra e Ítalo Cardoso, resolveu não usar mais o meu depoimento sobre a Marta.

Folha - Por quê?
Suplicy
- Tem que perguntar a eles. Depois do meu depoimento no horário eleitoral, a Marta começou a crescer.

Folha - O senhor acha que poderia ter ajudado mais na campanha?
Suplicy
- Poderia na medida em que eles me chamassem. Eu havia me colocado à disposição.

Folha - Então houve erro de estratégia?
Suplicy
- Diversas vezes transmiti a Marta que seria importante ela expor as vantagens das ações dela. No horário eleitoral, nem sempre isso aconteceu, diferentemente do que o Duda Mendonça costumava pregar e que era também o meu ponto de vista.

Folha - Mas o senhor não foi ouvido...
Suplicy
- O Duda Mendonça, em 2001, quando passou a ser contratado pelo PT, publicou o livro "Casos e Coisas", onde na página 175 diz: "Faz mais de dez anos que não me canso de repetir em palestras e entrevistas -quem bate perde". Quando comecei a ver uma certa agressividade no horário eleitoral, com os programas do PT atacando o Serra e o PSDB, eu pensei por que não usar o tempo para falar de tanta coisa que a Marta fez.

Folha - Foi uma perda de tempo, por exemplo, ficar martelando que o vice do Serra era o Gilberto Kassab, ex-secretário do Celso Pitta?
Suplicy
- Fiquei impressionado com o exagero de tempo dedicado a isso. Ao mesmo tempo o programa do PT não apresentava as qualidades de nosso candidato a vice, Rui Falcão.

Folha - O senhor ficou surpreso com a agressividade da campanha?
Suplicy
- No debate da Bandeirantes eu estranhei a agressividade da Marta. Achei que ela foi muito bem no primeiro bloco, salvo não ter dito "Boa noite, candidato José Serra", o que implicaria começar o debate em um clima civilizado e construtivo. Mas quando terminou o segundo bloco, enquanto na minha frente Valdemir Garreta, Duda Mendonça e Luis Favre estavam exultantes, eu estava muito preocupado. Fiquei mais ainda quando a Marta perguntou ao Serra o que ele achava da declaração do Fernando Henrique Cardoso, publicada um certo dia em uma revista, que o problema do Serra era o diabo que havia dentro dele. Notei que o Serra ficou com os olhos marejados, surpreendido com o grau de agressividade. Aquilo não fez bem à Marta. Quando terminou o debate, a Marta disse que tinha sido um massacre, como se ela tivesse ido muito bem.

Folha - Como o senhor recebeu as críticas do Valdemir Garreta?
Suplicy
- Assim como ele tem todo o direito de expressar a sua opinião, de que eu teria sido prejudicial à Marta, eu quero transmitir democraticamente a minha divergência. Não sei se ele está falando pelo Luis Favre, porque não conversei com o Favre a respeito. Se ele [Favre] quiser conversar, podemos fazê-lo. Eu também transmiti com muito companheirismo ao senador Aloizio Mercadante que considero que ele até argumentou bem para desconstruir alguns argumentos do Serra, mas não achei a melhor estratégia usar dois dias seguidos do horário eleitoral para repetir o que o Serra tinha falado, em vez de reforçar as ações da Marta.

Folha - O senhor não falou com ela depois do resultado?
Suplicy
- Não. Eu liguei hoje e estou aguardando.

Folha - Preocupa essa análise de que o senhor assume papel de vítima e que prejudicaria a Marta?
Suplicy
- O Garreta não tem razão na avaliação dele e não contribui para a própria Marta nem para o PT a análise particularizada que ele fez, tentando atribuir-me a responsabilidade pela derrota.

Folha - É uma opinião individual ou o Garreta está respaldado por outros integrantes do partido?
Suplicy
- É possível que esteja respaldado por outros. Eu disse no palanque que todos sabiam do meu empenho para eleger a Marta. Também é inteiramente incorreto que a entrevista da Mônica [Dallari] foi planejada por mim. Se ele tivesse tido a responsabilidade, como coordenador da campanha, de dialogar comigo, saberia que essa entrevista não teve qualquer propósito de prejudicar a Marta. O Garreta não dialogou comigo em nenhum momento. Aliás, ao longo dos quatro anos da administração da Marta ele nunca perguntou nada para mim.

Folha - Foi um erro a entrevista da Mônica Dallari?
Suplicy
- A editora da revista ["Veja"] disse que a pauta era sobre a namorada do senador mais querido do Brasil. É fato que a Mônica perguntou para mim se eu tinha alguma objeção sobre ela falar de mim na entrevista e eu disse que não. Não havia intenção de prejudicar a Marta.

Folha - Mas prejudicou...
Suplicy
- Após a entrevista, em que a Mônica disse que votou na Marta e defendeu que a campanha fosse propositiva, somente a partir desse momento a campanha assumiu essa característica mais positiva. A partir desse momento a Marta passou a crescer.

Folha - Então em 2006 o senhor vai concorrer ao Senado.
Suplicy
- Transmiti ao presidente do PT, José Genoino, no início desta semana, que eu achava bem-vindo haver outro pré-candidato ao Senado. Aproveitei para dizer que acho natural o presidente Lula ser o candidato do partido à Presidência da República em 2006, e eu vou apoiá-lo. Portanto, desde já digo que não sou pré-candidato à Presidência em 2006.


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