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PT NO DIVÃ
Senador contesta Garreta, diz que campanha de Marta errou e acirra polêmica no partido
Suplicy critica agressividade do PT e pergunta se assessor falou por Favre
Sérgio Lima/Folha Imagem
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O senador Eduardo Suplicy (PT) durante entrevista em seu gabinete no Senado, em Brasília |
FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Apontado por um dos coordenadores da campanha do PT em
São Paulo como um dos responsáveis pela derrota do partido na
capital, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), 63, disse ontem que
a coordenação da campanha paulistana está querendo se eximir
dos erros de estratégia cometidos
durante a disputa eleitoral.
Ontem, em entrevista à Folha,
Valdemir Garreta, secretário municipal e um dos homens fortes da
campanha do PT em São Paulo,
disse que o senador, ex-marido da
prefeita Marta Suplicy, candidata
derrotada à reeleição, é um dos
maiores responsáveis pela criação
e divulgação do preconceito de
que a prefeita teria sido vítima.
Suplicy insistiu ontem que, se a
campanha tivesse sido mais propositiva, o desempenho da prefeita teria sido melhor. Para embasar
seu ponto de vista, Suplicy circulou ontem pelo Senado com o livro "Casos e Coisas", de Duda
Mendonça, marqueteiro responsável pela campanha de Marta, a
tiracolo. Ele mostrava seguidamente o trecho em que Duda diz:
"Quem bate perde".
Desde que foi divulgado o resultado da eleição, Suplicy não trocou uma palavra com Marta, que,
segundo ele, não atendeu a seus
telefonemas nem ligou de volta.
Na entrevista, Suplicy sugere
que Garreta poderia estar falando
em nome do marido da prefeita,
Luis Favre. "Não sei se ele está falando pelo Luis Favre, porque não
conversei com o Favre", diz o senador, lançando uma dúvida.
Folha - O sr. disse que antes de
dar a entrevista queria falar com a
prefeita Marta Suplicy. Ela deu aval
para que o Valdemir Garreta emitisse aquelas opiniões?
Eduardo Suplicy - Eu liguei, mas
não consegui falar com ela. A
Marta em algum momento vai expressar os sentimentos dela. Na
hora em que ela quiser, vou dialogar, e tudo que ela quiser me dizer
sobre a eleição vai dizer com a
maior franqueza.
Folha - O sr. acredita que estão
querendo transformá-lo em bode
expiatório pela derrota do PT?
Suplicy - A população de São
Paulo é testemunha de todo o empenho que tive para que a Marta
fosse reeleita. Considero que ela
fez uma excelente gestão, realizou
um trabalho notável de promoção de maior justiça [social] na cidade de São Paulo.
Folha - O sr. insistiu em gravar depoimentos de apoio a ela?
Suplicy - Foram o Valdemir Garreta e o Duda Mendonça que primeiro me procuraram, insistentemente, para que eu marcasse os
horários de gravação para o programa eleitoral da Marta. Tem ligação dele [Garreta] registrada no
dia 9 de junho.
Folha - Então não confere essa
versão agora de que o senhor ficou
implorando para gravar?
Suplicy - No início de agosto, o
Duda Mendonça me ligou perguntando se eu estaria disposto a
prestar um longo depoimento sobre a Marta. Gravei na minha casa
três horas de conversa, o que deve
ter rendido aproximadamente
uma hora e meia de depoimento.
Ao terminar ele me disse que estava ótimo. Aconteceu então a convenção que homologou o nome
da Marta, onde fiz um pronunciamento e disse que havia aprendido a admirar a Marta, uma pessoa
excepcional, que era a mãe dos
meus filhos. O Duda me disse que
tinha ficado tão bom que, na abertura do horário eleitoral, resolveu
colocar um trecho do pronunciamento. Usaram um minuto.
Folha - O sr. acha que poderia ter
sido mais bem aproveitado?
Suplicy - A partir daí a coordenação da campanha, constituída
por Duda Mendonça, Marta Suplicy, Valdemir Garreta, Rui Falcão, Luis Favre, Manoel Canabarra e Ítalo Cardoso, resolveu não
usar mais o meu depoimento sobre a Marta.
Folha - Por quê?
Suplicy - Tem que perguntar a
eles. Depois do meu depoimento
no horário eleitoral, a Marta começou a crescer.
Folha - O senhor acha que poderia ter ajudado mais na campanha?
Suplicy - Poderia na medida em
que eles me chamassem. Eu havia
me colocado à disposição.
Folha - Então houve erro de estratégia?
Suplicy - Diversas vezes transmiti a Marta que seria importante
ela expor as vantagens das ações
dela. No horário eleitoral, nem
sempre isso aconteceu, diferentemente do que o Duda Mendonça
costumava pregar e que era também o meu ponto de vista.
Folha - Mas o senhor não foi ouvido...
Suplicy - O Duda Mendonça, em
2001, quando passou a ser contratado pelo PT, publicou o livro
"Casos e Coisas", onde na página
175 diz: "Faz mais de dez anos que
não me canso de repetir em palestras e entrevistas -quem bate
perde". Quando comecei a ver
uma certa agressividade no horário eleitoral, com os programas
do PT atacando o Serra e o PSDB,
eu pensei por que não usar o tempo para falar de tanta coisa que a
Marta fez.
Folha - Foi uma perda de tempo,
por exemplo, ficar martelando que
o vice do Serra era o Gilberto Kassab, ex-secretário do Celso Pitta?
Suplicy - Fiquei impressionado
com o exagero de tempo dedicado a isso. Ao mesmo tempo o programa do PT não apresentava as
qualidades de nosso candidato a
vice, Rui Falcão.
Folha - O senhor ficou surpreso
com a agressividade da campanha?
Suplicy - No debate da Bandeirantes eu estranhei a agressividade da Marta. Achei que ela foi
muito bem no primeiro bloco,
salvo não ter dito "Boa noite, candidato José Serra", o que implicaria começar o debate em um clima civilizado e construtivo. Mas
quando terminou o segundo bloco, enquanto na minha frente
Valdemir Garreta, Duda Mendonça e Luis Favre estavam exultantes, eu estava muito preocupado. Fiquei mais ainda quando a
Marta perguntou ao Serra o que
ele achava da declaração do Fernando Henrique Cardoso, publicada um certo dia em uma revista,
que o problema do Serra era o
diabo que havia dentro dele. Notei que o Serra ficou com os olhos
marejados, surpreendido com o
grau de agressividade. Aquilo não
fez bem à Marta. Quando terminou o debate, a Marta disse que tinha sido um massacre, como se
ela tivesse ido muito bem.
Folha - Como o senhor recebeu as
críticas do Valdemir Garreta?
Suplicy - Assim como ele tem todo o direito de expressar a sua
opinião, de que eu teria sido prejudicial à Marta, eu quero transmitir democraticamente a minha
divergência. Não sei se ele está falando pelo Luis Favre, porque não
conversei com o Favre a respeito.
Se ele [Favre] quiser conversar,
podemos fazê-lo. Eu também
transmiti com muito companheirismo ao senador Aloizio Mercadante que considero que ele até
argumentou bem para desconstruir alguns argumentos do Serra,
mas não achei a melhor estratégia
usar dois dias seguidos do horário
eleitoral para repetir o que o Serra
tinha falado, em vez de reforçar as
ações da Marta.
Folha - O senhor não falou com
ela depois do resultado?
Suplicy - Não. Eu liguei hoje e estou aguardando.
Folha - Preocupa essa análise de
que o senhor assume papel de vítima e que prejudicaria a Marta?
Suplicy - O Garreta não tem razão na avaliação dele e não contribui para a própria Marta nem para o PT a análise particularizada
que ele fez, tentando atribuir-me
a responsabilidade pela derrota.
Folha - É uma opinião individual
ou o Garreta está respaldado por
outros integrantes do partido?
Suplicy - É possível que esteja
respaldado por outros. Eu disse
no palanque que todos sabiam do
meu empenho para eleger a Marta. Também é inteiramente incorreto que a entrevista da Mônica
[Dallari] foi planejada por mim.
Se ele tivesse tido a responsabilidade, como coordenador da campanha, de dialogar comigo, saberia que essa entrevista não teve
qualquer propósito de prejudicar
a Marta. O Garreta não dialogou
comigo em nenhum momento.
Aliás, ao longo dos quatro anos da
administração da Marta ele nunca
perguntou nada para mim.
Folha - Foi um erro a entrevista
da Mônica Dallari?
Suplicy - A editora da revista
["Veja"] disse que a pauta era sobre a namorada do senador mais
querido do Brasil. É fato que a
Mônica perguntou para mim se
eu tinha alguma objeção sobre ela
falar de mim na entrevista e eu
disse que não. Não havia intenção
de prejudicar a Marta.
Folha - Mas prejudicou...
Suplicy - Após a entrevista, em
que a Mônica disse que votou na
Marta e defendeu que a campanha fosse propositiva, somente a
partir desse momento a campanha assumiu essa característica
mais positiva. A partir desse momento a Marta passou a crescer.
Folha - Então em 2006 o senhor
vai concorrer ao Senado.
Suplicy - Transmiti ao presidente do PT, José Genoino, no início
desta semana, que eu achava
bem-vindo haver outro pré-candidato ao Senado. Aproveitei para
dizer que acho natural o presidente Lula ser o candidato do partido
à Presidência da República em
2006, e eu vou apoiá-lo. Portanto,
desde já digo que não sou pré-candidato à Presidência em 2006.
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