São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

JANIO DE FREITAS

O melhor

Venceu o melhor -o melhor para um país que fez toda a disputa entre seus dois possíveis presidentes discutindo qual deles servia melhor para a guerra.
Para as inquietações do mundo, mais significativa do que a vitória de George Bush é a vasta vitória dos republicanos no Senado e na Câmara dos Representantes. Já minoritários, os democratas tornam-se pouco menos do que inutilizados em sua inexpressividade para deter ou atenuar, no Congresso, o prosseguimento dos excessos presidenciais. George Bush, com tamanha maioria, estará de mãos livres.
Não é certo que, com John Kerry, a ONU pudesse fortalecer-se. Mas é desanimadoramente certo que, na vitória de George Bush, a ONU colhe uma derrota imensa. Talvez a maior, em termos políticos, de sua história, considerando-se os prenúncios que obriga a admitir. Tanto mais o mundo precisa da ONU quanto menos a ONU convém ao exercício do poder norte-americano.
A conduta da imprensa poderá ser um fator que compense, em medida ao menos razoável, o fracasso dos democratas para compor a oposição. Boa parte da imprensa importante adotou publicamente a candidatura Kerry. O provável é que, ao seu constrangimento pela atitude leviana com que se sujeitou à política belicista e falaciosa de Bush, some agora mais um motivo para empenhar-se na vigilância que só há pouco passou a exercer sobre os métodos de Bush e seus associados. A imprensa norte-americana sabe e sente as responsabilidades negativas que lhe pesam desde a sujeição que aceitou a partir do 11 de setembro, e a busca da reabilitação ética (e jornalística, portanto) em relação ao governo pode resultar em controles positivos.
O desastre dos candidatos democratas ao Congresso contribuiu, por certo, para a derrota de John Kerry: é evidente que lhe faltaram candidatos capazes de fortificar suas bases eleitorais na maioria dos Estados. Nessa medida, os candidatos democratas ao Congresso foram importantes para a vitória republicana de Bush. E receberam, na derrota, o prêmio pela política acovardada que adotaram nos últimos anos, contribuindo para aprovar (inclusive com votos de Kerry) a invasão do Iraque e as medidas correlatas, que agora atacaram na campanha eleitoral.
Ao vencedor, as bombas.


Texto Anterior: Panorâmica - Eleições: PT divulga balanço do 2º turno
Próximo Texto: Ressaca eleitoral: Derrotado, ACM ataca ministro e até Lula
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.