São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

RESSACA ELEITORAL

Na volta ao Congresso após o 2º turno, senador acusa Costa de roubo e vê uso de dinheiro público nas eleições

Derrotado, ACM ataca ministro e até Lula

RANIER BRAGON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo federal assistiu ontem à primeira amostra das dificuldades que terá que enfrentar devido à insatisfação pós-eleitoral de aliados. No primeiro dia de trabalho do Congresso após o segundo turno, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) acusou o ministro da Saúde de roubo e tornou público seu rompimento com o Planalto ao dizer que os cofres federais patrocinaram uma campanha "sórdida" na Bahia.
ACM desferiu ataques durante aparte que fez no plenário do Senado ao discurso de Cesar Borges (PFL-BA), derrotado na disputa pela Prefeitura de Salvador.
"Vossa excelência foi vítima de uma campanha sórdida, cínica [por parte] do governo federal. De todos os setores, sendo que o mais cínico foi o vampiro, o vampiro que não presta conta das coisas que fez, roubando até mesmo o fornecimento de sangue do povo brasileiro", disse ACM.
Ele se referia a Humberto Costa, ministro da Saúde, e à Operação Vampiro, da Polícia Federal, que prendeu, em maio, 17 pessoas acusadas de fraudar licitações para compra de medicamentos.
"E ele trouxe a equipe própria do seu Estado para roubar melhor, mas foi descoberto", acrescentou ACM. Entre os presos estava o ex-assessor de confiança do ministro Luiz Cláudio Gomes da Silva. Costa foi o principal alvo dos ataques por ter participado da campanha de adversários de ACM na Bahia.
"Ele não presta contas de como se encontra a situação daqueles que foram pegos roubando fornecimento de sangue ao povo brasileiro. Isso ele tem que fazer. A incompetência dele está provada em Pernambuco e aqui, inclusive como parlamentar", disse ACM.
O senador baiano vinha sendo um dos principais aliados do governo no Congresso, já que controla três votos no Senado, tem ascendência sobre cerca de 30 deputados federais e liderava a ala pefelista aliada ao governo. Essa influência se mostrou fundamental para a aprovação das reformas propostas por Lula em 2003.
Semanas antes das eleições, ACM, Borges e mais quatro senadores do PFL, além de um do PSDB, jantaram com o presidente na casa do ministro José Dirceu (Casa Civil), em uma demonstração de que ambos os lados andavam afinados. O encontro, explorado por Borges na campanha, irritou seu adversário em Salvador, Nelson Pellegrino (PT).
A boa relação não resistiu, porém, ao embate eleitoral. Ontem, o senador baiano direcionou sua artilharia também ao presidente Lula, a quem classificou de omisso por ter supostamente permitido o uso de dinheiro público nas campanhas. "Se ele continuar com ministros como o da Saúde e outros tantos incapazes em seu ministério, o seu fim será muito mais triste do que ele pensa."
Segundo Borges, as eleições serviram para unir o PFL na oposição a Lula. "Felizmente o PFL viu que não há como ter condescendência com um governo que usa todas as armas para ganhar eleições, inclusive atingindo aliados."
O presidente do PFL, Jorge Bornhausen (SC), divergente de ACM dentro da sigla, disse subscrever a acusação do uso da máquina pública em prol de aliados.


Texto Anterior: Janio de Freitas: O melhor
Próximo Texto: Outro lado: Costa incentivou operação do PT, alega ministério
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.