São Paulo, quinta-feira, 04 de novembro de 2004

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Kroll tinha acesso a dados da Receita

ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Documentação apreendida pela Polícia Federal contém provas de que servidores da Receita Federal -parte deles já identificada- repassavam informações sigilosas à empresa de investigação Kroll.
Os dados constam de documentação apreendida na semana passada pela Operação Chacal, na qual policiais cumpriram mandados judiciais de busca e apreensão de documentos e equipamentos em 16 pontos distribuídos em três Estados e no Distrito Federal.
Os alvos incluem os escritórios da Kroll, da Brasil Telecom, do banco Opportunity e as residências de seus principais executivos. A PF investiga se a Kroll cometeu crimes ao investigar empresas e pessoas a pedido de clientes.
Na ocasião, cinco funcionários da Kroll foram presos, sob acusação de formação de quadrilha. O dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, e a presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco, devem depor amanhã.

Dados bancários e telefônicos
A Operação Chacal também rendeu à investigação provas de que a Kroll teve acesso a informações sigilosas de caráter bancário (investimentos, contas e valores disponíveis), telefônico (extratos de ligações) e telemático (e-mail, telex e fax).
A Folha apurou que ainda estão em análise os equipamentos que, segundo a Kroll, seriam usados para rastrear grampos ilegais, mas que, conforme a investigação, também se prestaram à realização de escutas clandestinas. No Brasil, o monitoramento telefônico só é permitido a autoridades e mediante ordem judicial.
Na última sexta-feira, em depoimento à PF a convite dos investigadores, o empresário Luiz Roberto Demarco, adversário de Dantas e um dos investigados pela Kroll, reconheceu como seus dados bancários e extratos telefônicos apreendidos na operação.
Na espionagem, a Kroll teve acesso a dados fiscais do presidente do Banco do Brasil, Cassio Casseb. As informações circularam em e-mail interceptado pela Polícia Federal. Consultado, Casseb confirmou, em ofício à polícia, que as informações devassadas pela Kroll constavam de suas declarações à Receita.

Contabilidade suspeita
A Folha apurou que no material apreendido existem documentos relacionados à contabilidade da Kroll. Em uma das planilhas incluídas nesse conjunto há registro de pagamentos que teriam sido feitos à "Polícia Federal".
O indício, no entanto, não surpreendeu os investigadores, pois a investigação em curso inclui pelo menos um policial federal que atua em São Paulo, suspeito de colaborar com a Kroll. A casa do agente da PF foi um dos alvos de busca e apreensão da Operação Chacal, mas ainda não há elementos que comprovem seu envolvimento com práticas ilegais.

Cicco e Dantas
A Kroll foi contratada pela Brasil Telecom, controlada pelo Opportunity, para espionar a Telecom Italia. Segundo "informe publicitário" divulgado ontem, a intenção da Brasil Telecom não era encomendar "um serviço de espionagem", mas sim "à obtenção de evidências de qualquer natureza, sobretudo de tráfico de influência, para servir de base e respaldar procedimentos no Brasil e no exterior com o objetivo de recuperar perdas que nos foram impostas [pela Telecom Italia]".
Na semana passada, o delegado Romero Menezes, porta-voz da Polícia Federal no caso, disse que Cicco e Dantas deveriam ser indiciados pelos menos crimes praticados pela Kroll.
Segundo o delegado, havia indícios de que a Kroll teria cometido pelo menos seis crimes: formação de quadrilha, oferecimento de vantagem a testemunha, quebra de sigilo bancário, usurpação de função e quebra de sigilos telefônico e telemático.
Na sexta-feira, a PF fez uma cópia dos dados contidos em dois computadores apreendidos na sede do banco Opportunity. Por decisão judicial, a ação de cópia foi acompanhada por um perito indicado pelo banco.


Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de Brasília

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