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Kroll tinha acesso a dados da Receita
ANDRÉA MICHAEL
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Documentação apreendida pela
Polícia Federal contém provas de
que servidores da Receita Federal
-parte deles já identificada- repassavam informações sigilosas à
empresa de investigação Kroll.
Os dados constam de documentação apreendida na semana passada pela Operação Chacal, na
qual policiais cumpriram mandados judiciais de busca e apreensão
de documentos e equipamentos
em 16 pontos distribuídos em três
Estados e no Distrito Federal.
Os alvos incluem os escritórios
da Kroll, da Brasil Telecom, do
banco Opportunity e as residências de seus principais executivos.
A PF investiga se a Kroll cometeu
crimes ao investigar empresas e
pessoas a pedido de clientes.
Na ocasião, cinco funcionários
da Kroll foram presos, sob acusação de formação de quadrilha. O
dono do banco Opportunity, Daniel Dantas, e a presidente da Brasil Telecom, Carla Cicco, devem
depor amanhã.
Dados bancários e telefônicos
A Operação Chacal também
rendeu à investigação provas de
que a Kroll teve acesso a informações sigilosas de caráter bancário
(investimentos, contas e valores
disponíveis), telefônico (extratos
de ligações) e telemático (e-mail,
telex e fax).
A Folha apurou que ainda estão
em análise os equipamentos que,
segundo a Kroll, seriam usados
para rastrear grampos ilegais,
mas que, conforme a investigação, também se prestaram à realização de escutas clandestinas. No
Brasil, o monitoramento telefônico só é permitido a autoridades e
mediante ordem judicial.
Na última sexta-feira, em depoimento à PF a convite dos investigadores, o empresário Luiz Roberto Demarco, adversário de
Dantas e um dos investigados pela Kroll, reconheceu como seus
dados bancários e extratos telefônicos apreendidos na operação.
Na espionagem, a Kroll teve
acesso a dados fiscais do presidente do Banco do Brasil, Cassio
Casseb. As informações circularam em e-mail interceptado pela
Polícia Federal. Consultado, Casseb confirmou, em ofício à polícia, que as informações devassadas pela Kroll constavam de suas
declarações à Receita.
Contabilidade suspeita
A Folha apurou que no material
apreendido existem documentos
relacionados à contabilidade da
Kroll. Em uma das planilhas incluídas nesse conjunto há registro
de pagamentos que teriam sido
feitos à "Polícia Federal".
O indício, no entanto, não surpreendeu os investigadores, pois
a investigação em curso inclui pelo menos um policial federal que
atua em São Paulo, suspeito de
colaborar com a Kroll. A casa do
agente da PF foi um dos alvos de
busca e apreensão da Operação
Chacal, mas ainda não há elementos que comprovem seu envolvimento com práticas ilegais.
Cicco e Dantas
A Kroll foi contratada pela Brasil Telecom, controlada pelo Opportunity, para espionar a Telecom Italia. Segundo "informe publicitário" divulgado ontem, a intenção da Brasil Telecom não era
encomendar "um serviço de espionagem", mas sim "à obtenção
de evidências de qualquer natureza, sobretudo de tráfico de influência, para servir de base e respaldar procedimentos no Brasil e
no exterior com o objetivo de recuperar perdas que nos foram impostas [pela Telecom Italia]".
Na semana passada, o delegado
Romero Menezes, porta-voz da
Polícia Federal no caso, disse que
Cicco e Dantas deveriam ser indiciados pelos menos crimes praticados pela Kroll.
Segundo o delegado, havia indícios de que a Kroll teria cometido
pelo menos seis crimes: formação
de quadrilha, oferecimento de
vantagem a testemunha, quebra
de sigilo bancário, usurpação de
função e quebra de sigilos telefônico e telemático.
Na sexta-feira, a PF fez uma cópia dos dados contidos em dois
computadores apreendidos na sede do banco Opportunity. Por decisão judicial, a ação de cópia foi
acompanhada por um perito indicado pelo banco.
Colaborou IURI DANTAS, da Sucursal de
Brasília
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