|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ HORA DAS PROVAS
Membros da cúpula do governo admitem, em conversas reservadas, que "valerioduto" pode ter sido abastecido pelo Banco do Brasil
Lula diz a assessores que ignorava esquema
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Em conversas reservadas,
membros da cúpula do governo
federal já admitem que parte do
dinheiro do "valerioduto" tenha
origem na operação Visanet. E,
nos bastidores, apontam o ex-diretor de Marketing do Banco do
Brasil Henrique Pizzolato como
provável contato no governo do
esquema do "mensalão". Pizzolato, por meio de seu advogado, negou participação no esquema.
A revelação da operação Visanet deixou preocupado o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que pediu a auxiliares que se informassem sobre a revelação de
membros da CPI dos Correios e
lhe dessem um relato.
O deputado federal Osmar Serraglio (PMDB-PR), relator da CPI
dos Correios, disse que dinheiro
público do BB (Banco do Brasil)
alimentou o "valerioduto". A Visanet, empresa de direito privado
que reúne uma associação de
bancos, tem um fundo no qual o
Banco do Brasil participa com
31,9% das cotas.
Um dos principais auxiliares do
presidente disse à Folha que o governo considera "provável" que
Henrique Pizzolato, Marcos Valério de Souza e o ex-tesoureiro do
PT Delúbio Soares tenham montado operação com a Visanet. Pizzolato trabalhou com Delúbio para arrecadar recursos para a campanha de Lula em 2002.
Na versão de auxiliares, Lula foi
surpreendido com a revelação da
CPI e está preocupado porque ela
confirmaria, pela primeira vez,
uma origem pública para os recursos do "valerioduto". Os assessores dizem que Lula sempre se
queixa de que Delúbio fazia coisas
sem seu conhecimento, mas na
realidade o ex-tesoureiro do PT
era bem próximo do presidente:
oriundo do meio sindical, como
Lula, Delúbio não chegou ao comando do PT pelas mãos de José
Dirceu, mas via CUT. Em 2002,
viajou ao lado de Lula pelo Nordeste antes da costura da aliança
PT-PL. No governo, viajou na comitiva oficial para a África e, em
2003, foi fotografado segurando
uma cigarrilha que Lula fumava
às escondidas numa audiência.
Até agora, o governo argumenta
que não foi provada nenhuma rede de corrupção federal para alimentar o esquema de Marcos Valério e Delúbio Soares. Admite
corrupção "pontual" nos Correios. Mas esse discurso pode cair
por terra e desgastar ainda mais o
governo e o PT num momento
em que pensavam que a crise perdia força no campo investigativo e
se transformava mais em uma luta política com o PSDB.
Disputa PT-PSDB
Com uma primeira revelação
feita por Serraglio por volta do
meio-dia, auxiliares de Lula no
Palácio do Planalto e expoentes
petistas no Congresso Nacional
começaram a buscar informações
sobre os detalhes da operação Visanet. Nos bastidores, disseram
que Delúbio teria concordado
com Valério em recorrer a um esquema de financiamento que já
teria beneficiado os tucanos
quando Fernando Henrique Cardoso foi presidente (1995-2002).
No atual estágio da crise, o governo e o PT ameaçam entrar em
guerra com a oposição se ela estiver disposta a elevar o tom dos
ataques a Lula a ponto de ressuscitar a tese de impeachment ou
convocar familiares do presidente
a depor nas CPIs.
Após a reportagem da revista
"Veja" sobre suposta doação de
U$ 3 milhões ou U$ 1,4 milhão ao
PT na campanha presidencial de
2002, houve uma forte tensão entre governo e oposição.
No entanto, a oposição freou as
iniciativas mais radicais. Pediu investigação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e articulou a convocação para depor nas CPIs de
dois ex-auxiliares do atual ministro Antonio Palocci (Fazenda)
que falaram do caso Cuba à revista "Veja".
Revelações sobre as quais governo e oposição não têm controle contribuem para dificultar o estabelecimento de um limite na
guerra política, como têm pregado políticos dos dois lados, seja de
público, seja reservadamente.
Texto Anterior: Empréstimo pode ser de fachada Próximo Texto: Saiba mais: BB detém 31,9% da Visanet, que operou R$ 72,3 bi em 2004 Índice
|