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Ministro do STF diz ter cumprido seu dever de juiz
SILVANA DE FREITAS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ministro do STF (Supremo
Tribunal Federal) Eros Grau rechaçou ontem as críticas do meio
político às duas decisões que deu
a favor do deputado José Dirceu
(PT-SP) dizendo que tem a consciência tranqüila de ter cumprido
a sua função de juiz.
"Uma coisa muito boa é ter a
consciência de que cumpriu a sua
função, isso é o que importa", disse ontem Grau.
Ele saiu em defesa da sua atuação como relator do mandado de
segurança de Dirceu, ameaçado
de cassação, horas depois de receber o presidente do Conselho de
Ética da Câmara, Ricardo Izar
(PTB-SP), um dos que o criticaram na semana passada.
Ao sair do encontro, Izar afirmou, em tom ameno, que procurou o ministro para lhe entregar
pessoalmente informações sobre
as providências para cumprir as
decisões no processo.
O presidente do conselho disse
a Grau que "não havia necessidade" de o relator do processo, deputado Júlio Delgado (PSB-MG),
ter feito as críticas que fez às decisões do ministro. "Mostrei a ele
que o conselho é um colegiado,
que estamos em uma democracia,
onde cada um fala o que quer."
Na última segunda-feira, Delgado afirmara: "Ao dar azo a essas
manobras meramente protelatórias, o ministro do STF agrada a
uma minoria de procedimentalistas autistas, mas de outro lado
frustra os princípios da celeridade
e da economia processual e deixa
em desalento a sociedade brasileira". Há uma semana, o próprio
Izar falara em "interferência indevida do Judiciário no Legislativo."
Grau confirmou que, em aula
recente para estudantes de direito, defendera o papel político do
STF, mas disse que não se referia à
atuação partidária. "Tenho dito
sempre que esse é um tribunal político, porque se empenha em
prover a coesão da "polis", não no
sentido político-partidário."
Para explicar sua visão do papel
institucional do STF, de intérprete
da Constituição, disse: "A Constituição não é apenas um texto escrito. É um pedaço da realidade. A
sociedade vive nela e ela vive na
sociedade. Nossa função é fazer
com que os preceitos da Constituição sejam postos em prática."
Ele sugeriu ter ficado pessoalmente aborrecido com os ataques
que sofrera nos últimos dias, fazendo uma separação entre o ministro do STF e o cidadão. "O ministro representa a instituição e
tem a consciência de que defende
a Constituição. O que vai no íntimo das pessoas não é importante.
A individualidade não conta
quando estamos na função de
cumprir a Constituição."
Grau disse que ainda não havia
examinado o documento entregue por Izar com informações sobre o novo rito do processo de
Dirceu, adotado pelo conselho.
No último dia 25, uma liminar
de Grau proibiu o Conselho de
Ética de usar, no processo contra
Dirceu, provas obtidas da quebra
dos sigilos bancário e telefônico
do petista pela CPI dos Correios.
Com isso, lançou dúvida sobre a
validade do parecer de Júlio Delgado, que citava essas provas.
Dois dias depois, a pedido da
defesa, Grau esclareceu que era
necessário o parecer ser refeito.
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