São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2005

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ESCÂNDALO DO "MENSALÃO"/ VALE-TUDO

Mais quatro parlamentares reclamam de estar sendo vigiados, entre eles dois petistas; advogado de Dirceu também levanta suspeitas

Aldo pede à PF que investigue grampos

SILVIO NAVARRO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BRASÍLIA

FERNANDA KRAKOVICS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

As denúncias de parlamentares que apuram o escândalo do "mensalão" de que suas conversas telefônicas estão sendo monitoradas -os chamados grampos- se alastraram ontem pelo Senado, provocaram varredura nas salas do Conselho de Ética da Câmara e geraram reação do presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PC do B-SP), que pediu apuração à Polícia Federal.
Ontem, mais três senadores -Álvaro Dias (PSDB-PR), Heloísa Helena (PSOL-AL) e Paulo Paim (PT-RS)-, além da deputada Ângela Guadagnin (PT-SP), ligada ao ex-ministro José Dirceu (PT-SP), reclamaram que suas chamadas telefônicas estão sendo rastreadas, ampliando para nove o número de parlamentares que se queixaram de estarem sendo vigiados. A maioria deles diz "não ter idéia" da autoria dos grampos.
A onda de denúncias de escutas telefônicas forçou uma reação do presidente da Câmara. Em ofício ao ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), Aldo pediu investigação em relação aos que reclamaram anteontem de grampo -Ricardo Izar (PTB-SP), presidente do Conselho de Ética da Câmara, Osmar Serraglio (PMDB-PR) e ACM Neto (PFL-BA), relator e sub-relator da CPI dos Correios, respectivamente.
A PF instaurou ontem mesmo os inquéritos para apurar a suspeita de grampo contra todos os parlamentares que reclamaram.
Aldo disse ainda considerar as denúncias "graves" e afirmou que "não pode haver tolerância contra esse tipo de crime". "Escuta telefônica sem autorização da Justiça é crime, (...) é caso de polícia, e a polícia tem de investigar", disse.
A série de denúncias de monitoramento começou com ACM Neto, que acusou a Abin (Agência Brasileira de Inteligência) de estar vigiando suas conversas desde que assumiu a sub-relatoria que investiga fundos de pensão. A Abin disse que as denúncias "carecem de fundamento".
Ontem, ACM Neto enviou ofícios para Aldo, Thomaz Bastos e para o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência, general Jorge Félix, relatando o caso. O pefelista disse ter descoberto o grampo porque uma de suas conversas teria vazado para um governista.
Alguns deputados afirmaram que ACM Neto descobriu o grampo porque foi alertado por um petista, que seria o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP).
Tanto Greenhalgh quanto ACM Neto negaram a informação. O senador Romeu Tuma (PFL-SP), que integra a CPI dos Bingos, disse ontem que seu escritório político em São Paulo foi arrombado na madrugada de ontem. "Deve ter sido algum grupo investigado pelas CPIs que faz esse tipo de coisa, assim como os grampos, para jogar a oposição contra o governo e bagunçar os trabalhos", disse.
Na Câmara, a Polícia Legislativa fez uma varredura nos telefones do Conselho de Ética, mas nenhuma irregularidade foi detectada.
Apelidada nos corredores do Congresso de "epidemia dos grampos", a onda de denúncias também ganhou adeptos que não participam das investigações do "mensalão", como o senador Paulo Paim. Ele solicitou à Mesa Diretora uma varredura nos telefones dos gabinetes, residências e celulares dos senadores.
Outro que também reclamou de supostas escutas foi o advogado José Luiz Oliveira Lima, que defende o deputado José Dirceu (PT-SP). Ele disse que há um mês começou a escutar "barulhos estranhos" e que a ligação cai freqüentemente.


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