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Citar Alca fica a critério de presidentes
DO ENVIADO ESPECIAL A MAR DEL PLATA
Os diplomatas que negociam a
declaração final da cúpula de Mar
del Plata deveriam ter fechado o
texto na quarta-feira. Não conseguiram. Vieram os ministros do
Exterior, passaram o dia de ontem reunidos, mas também não
conseguiram. Conseqüência: definir o que se vai dizer sobre a Alca
passou para o nível presidencial,
com um duplo risco: o de um confronto aberto Bush/Chávez ou de
que nem sequer haja uma declaração final, hipótese obviamente
extrema.
O mais provável é que a Alca
(Área de Livre Comércio das
Américas) entre de alguma forma
no texto, com o que a Venezuela o
assinaria com restrições, como já
o fez em duas cúpulas anteriores
(Québec-2001 e Monterrey-2004).
O risco de confronto pessoal se
dá pela metodologia da cúpula:
haverá três sessões de trabalho,
moderadas por funcionários de
organismos internacionais. Mas
os governantes têm livre direito à
palavra. Se o documento tivesse
sido fechado no nível de funcionários graduados ou ministros,
sempre seria possível evitar o tema Alca e concentrar a oratória
no assunto que dá título à cúpula
deste ano: como criar emprego
para enfrentar a pobreza e fortalecer a governabilidade democrática no continente.
Lula, por exemplo, traz preparado discurso em que falará essencialmente do tema da cúpula.
Mas, como caberá aos presidentes fechar (ou não) o parágrafo sobre a Alca, é razoável supor que
Chávez faça um ataque aos Estados Unidos, nos moldes dos que
Lula fazia quando era candidato e
não havia se rendido à extrema
moderação. O líder petista dizia,
então, que a Alca não era uma negociação comercial, mas a "anexação" da América Latina pelos
Estados Unidos.
Nas discussões no nível técnico,
aliás, a retórica dos venezuelanos
foi muito nessa linha. Jorge Valero, embaixador venezuelano junto à Organização dos Estados
Americanos, falou só ontem três
vezes em socialismo e antiimperialismo. Daí a uma crítica direta,
ou aos Estados Unidos ou a Bush,
é um passo.
Se for dado, Bush não poderá
calar-se diante de seus 33 colegas
do hemisfério.
Prazo
O que azedou de vez o ambiente
em Mar del Plata, no quesito Alca,
foi uma proposta do México, com
apoio de 28 países, incluindo pesos pesados como Chile e Canadá,
para que a declaração final propusesse retomar a negociação da Alca no mais tardar até abril do ano
que vem .
Para a diplomacia brasileira, a
proposta é contraproducente
porque, se os dois co-presidentes
do processo (Brasil e EUA) tentam inutilmente reiniciá-lo desde
fevereiro de 2004, lançar novo
prazo agora, sem que estejam dadas de fato as condições para a retomada, faria com que o processo
perdesse credibilidade, na visão
de negociadores brasileiros.
Foi como reação à proposta mexicana que surgiu o parágrafo
apresentado pela Argentina, em
nome do Mercosul, que fez subir
ainda mais a tensão.
Ontem, no entanto, começaram
a circular vários outros papéis
com parágrafos alternativos, buscando conciliar posições, pelo
menos entre Mercosul e Estados
Unidos e o grupo de países que os
apóiam. Contentar também a
Chávez, sem ofender Bush, era
impossível.
(CR)
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