São Paulo, sexta-feira, 04 de novembro de 2005

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TODA MÍDIA

Nelson de Sá

Em tempo real

Dia de trancos e barrancos em tempo real. Da Globo, início da tarde, em manchete:
- Começa a aparecer o dinheiro que abasteceu o valerioduto e que foi parar nas contas do PT. O relator da CPI dos Correios disse que estatal pagou R$ 60 milhões a Valério por serviços que não foram prestados.
Da Globo, início da noite, em manchete, depois que o relator voltou atrás e a Globo News passou horas sem tocar no assunto:
- CPI anunciou descoberta de uma das fontes de dinheiro que abasteceriam as contas de Valério, usadas para o pagamento do suposto "mensalão".
A partir daí, a cobertura das Globos foi carregada de expressões como "segundo o relator" e "suposto". E de muito condicional. Nas manchetes do "JN":
- CPI dos Correios analisa contas de uma agência de publicidade de Marcos Valério. E afirma que R$ 10 milhões do Banco do Brasil foram parar no PT.
 
Já os sites atravessaram o dia todo trocando de manchetes.
Na manchete do UOL, às 13h30, "Estatal repassou R$ 58 milhões para valerioduto, afirma Serraglio". Às 17h, "Serraglio volta atrás e diz que fonte é Visanet". Às 18h30, "Banco do Brasil desviou R$ 10 milhões para financiar PT, afirma Serraglio".
Na do Globo Online, às 13h30, "Relator: estatal abasteceu valerioduto". Às 17h, "Relator: Visanet abasteceu valerioduto". Às 18h30, "CPI diz que Banco do Brasil abasteceu o valerioduto".
Na do site da Agência Estado, às 13h30, "Estatal foi a fonte do dinheiro do PT, diz relator". Às 17h, "Serraglio diz que Visanet, e não estatal, passou dinheiro a Valério". Às 18h30, "Relator diz que BB deu dinheiro ao PT".
 
Se nas Globos e nos sites foi assim, nos blogs foi um deus-nos-acuda -a começar do anúncio, por Claudio Humberto, às 12h40, de "saiu do Banco do Brasil todo o dinheiro utilizado pelo esquema de corrupção do PT, segundo fonte ligada à CPI".
Cerca de uma hora depois, Ricardo Noblat anunciou "dinheiro público no caixa 2 do PT" e aí a blogosfera não parou mais.
 
Não bastasse o relator, era quinta e os boatos das "publicações de fim de semana" se amontoavam, sobre Cuba.
Os blogs de Fernando Rodrigues e de Jorge Bastos Moreno -e até o programa de Jô Soares na Globo- se dedicaram a eles:
- Brasília ferve. Logo depois do almoço, a boataria disparou. O vôo [de Cuba] pode surgir com mais clareza. Entra também a Venezuela no meio. Uma empreiteira ganhou contrato... As aventuras de Furnas também prometem. Circula por Brasília uma lista de beneficiados...

OS FORA-DA-LEI

timesonline.co.uk/Reprodução
Parte da ilustração do "Times", com países em azul (direita) e vermelho (esquerda), em 2000 e agora

Em nova edição voltada a temas ligados ao Brasil, da rodada de Doha ao "Brasil, superpotência agrícola", dois temas de capa, passando até pelo microcrédito, a revista "Economist" tratou da turnê de George W. Bush.
No enunciado, "Tio Sam visita vizinhos irrequietos". Como todos, a revista observa que para "os americanos o Brasil, de longe o maior país da América do Sul, é o voto decisivo [ou pêndulo] na região tumultuada". Na foto ilustrando o texto, o protesto do MST em Brasília.
A "Economist" é influente, mas a repercussão do dia, no Brasil, foi sobretudo para o "Times" de Londres, hoje um tablóide do ultraconservador Rupert Murdoch.
Sob o título "Bush vai para a terra dos foras-da-lei", na tradução da BBC Brasil, o jornal diz que a América do Sul "virou outra dor-de-cabeça de política externa depois do Iraque". O jornal argumenta que Lula, por exemplo, "persegue uma agenda econômica esquerdista".
Na ilustração do texto, reproduzida acima, o avanço da "esquerda", em oposição à "direita" de cinco anos atrás.
 
Do "Christian Science Monitor" ao "El País", outros se dedicaram ontem aos problemas de Bush na turnê.
O "Washington Post" publicou uma longa reportagem intitulada "O descontentamento dos sul-americanos anuncia uma recepção fria para Bush". E tome relatos das manifestações em preparação na Argentina e Brasil. Na ilustração, os resultados do levantamento feito pelo instituto Zogby com "líderes de opinião" de Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, México e Venezuela. À pergunta sobre o "desempenho geral" de Bush, 81% consideraram negativo, e apenas 17%, positivo. E não eram sem-terra ou piqueteiros, sublinhe-se, mas "líderes de opinião".


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