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Procurador-geral vê maior combate à corrupção sob Lula
Antonio Fernando Souza diz que Ministério Público Federal foi "muito mais incisivo"
Responsável pelo inquérito do mensalão, ele ressalva não poder avaliar em que medida se varria corrupção para baixo do tapete
FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM MURO ALTO (PE)
O procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza,
57, responsável pela denúncia
de 40 pessoas no inquérito do
mensalão, disse em entrevista à
Folha que o Ministério Público
Federal foi "muito mais incisivo" na apuração dos casos de
corrupção na gestão de Luiz
Inácio Lula da Silva do que em
governos anteriores.
Souza afirmou ser possível
supor que, em períodos anteriores, existiram "questões suspeitas" que não foram "devidamente investigadas", mas que
não pode avaliar "em que extensão se varria ou não" a corrupção para baixo do tapete.
Na entrevista concedida à
Folha em um resort na praia de
Muro Alto (a 65 km de Recife),
pouco antes da abertura do 23º
Encontro Nacional de Procuradores da República, Souza disse
ainda que o inquérito que investiga o suposto envolvimento
do ex-presidente nacional do
PSDB Eduardo Azeredo com o
"valerioduto" deve ser concluído no final deste mês.
FOLHA - A corrupção no serviço público aumentou nos últimos anos ou
só deixou de ser varrida para baixo
do tapete, como disse o presidente?
ANTONIO FERNANDO SOUZA - Para
que se possa fazer uma afirmação, se aumentou ou diminuiu,
seria preciso que tivéssemos
dados precisos do comportamento anterior. Temos suposições de que existiam questões
suspeitas e que, muitas vezes,
não eram devidamente investigadas. É importante dizer que,
pelo menos nos últimos quatro
anos, no que diz respeito ao Ministério Público, fomos muito
mais incisivos na pesquisa de
dados para apurar os casos de
desvios ou de corrupção.
FOLHA - De certa forma, é verdade
então que a corrupção deixou de ser
varrida para baixo do tapete?
SOUZA - Isso é o detalhe. Agora,
eu não posso dizer em que extensão se varria ou não se varria. O Ministério Público realmente mudou o modo de agir.
FOLHA - Que mecanismos não implementados o sr. acha necessários
para combater a corrupção?
SOUZA - Tem alguns elementos
que interferem no combate
mais eficiente. Primeiro, esse
equivocado discurso de competição entre o Ministério Público e a polícia. A investigação
não pode ser privativa de ninguém, exclusiva de ninguém. É
preciso que haja um sistema de
investigação bem abrangente,
sem esses obstáculos que se colocam. Só se pode punir se se
conhece, e só se pode conhecer
se se investiga.
FOLHA - O que o Ministério Público
já considera conclusivo nos inquéritos dos sanguessugas e mensalão?
SOUZA - Em relação aos sanguessugas, existem iniciativas
em vários Estados. Estão com o
procurador-geral apenas as
pessoas que têm foro perante o
Supremo, os deputados. Em relação a esses, os 84 inquéritos
ainda não estão concluídos. A
polícia acabou de pedir em quase todos eles um prazo para
concluir. E o mensalão já teve a
primeira parte da denúncia, e
estamos numa segunda parte,
aprofundando mais as investigações, provas periciais que estão sendo concluídas.
FOLHA - No "valerioduto", como fica o caso do Eduardo Azeredo?
SOUZA - Esse também está na
polícia, provavelmente para a
última baixa. Teve uma prova
pericial muito grande, prova
testemunhal também longa, e
agora retornou para a polícia
para uma diligência conclusiva.
A previsão inicial para retornar o processo concluído é entre 20 e 30 de novembro.
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