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Embate PT-PSDB adia votação de MP
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O esgarçamento da relação entre o PSDB e o PT está na origem
de mais um adiamento da votação da medida provisória 66, uma
espécie de minirreforma tributária que permitirá ao futuro governo federal equilibrar as receitas
em relação às despesas no Orçamento da União de 2003.
A votação da medida provisória
estava prevista para ontem, ficou
para hoje e pode acabar na pauta
da Câmara dos Deputados só na
semana que vem.
Existem razões técnicas que
atrapalham o entendimento entre
os dois partidos, mas são sobretudo as dificuldades de ordem política as grandes responsáveis pelo
atraso da votação.
Ontem pela manhã, por exemplo, o clima azedou durante uma
reunião da Executiva Nacional do
PSDB. Os tucanos estavam contrariados com uma declaração feita na Argentina pelo presidente
eleito, Luiz Inácio Lula da Silva,
segundo a qual o atual governo teria tomado decisões contrárias ao
"interesse nacional". À tarde, tucanos e petistas bateram boca no
plenário da Câmara.
Também o veto petista à liberação de verbas que permitiriam ao
Estado de Minas Gerais pagar o
13º salário do funcionalismo público dificulta a tramitação da medida. O principal interessado na
medida, o governador eleito do
Estado e atual presidente da Câmara, deputado Aécio Neves
(PSDB-MG), está disposto a só
colocar em pauta a MP 66 depois
de resolver a questão mineira.
O fato é que não há interesse da
parte do PSDB de facilitar o trabalho do PT, que, pelo menos até o
início da próxima legislatura, é
minoritário no Congresso.
O PFL, por outro lado, está
abertamente contra aumentos de
impostos, assim como boa parte
do PPB. Sem um bom entendimento prévio, o PT pode até perder a votação da MP 66 -editada
em 29 de agosto deste ano pelo
presidente Fernando Henrique
Cardoso e pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Tramitação
A tramitação da medida provisória também se transformou numa arena de interesses. Ao PT, interessa assegurar receitas para o
Orçamento de 2003.
Por isso, a sigla tratou de incluir
na MP a prorrogação da alíquota
de 27,5% do IRPF (Imposto de
Renda da Pessoa Física) para o
próximo ano, além de garantir a
alíquota de 9% para a CSLL (Contribuição Sobre o Lucro Líquido).
As duas medidas permitiriam
uma arrecadação a mais de R$ 3,1
bilhão. Ontem, o PT também conseguiu a inclusão, na MP 66, do
aumento do teto máximo de cobrança da Cide (Contribuição de
Intervenção do Domínio Econômico) de R$ 0,50 para R$ 0,80 por
litro de gasolina vendido. Isso pode permitir uma arrecadação adicional de até R$ 3 bilhões no próximo ano.
Já os governadores do PSDB
conseguiram incluir na medida a
prorrogação do fundo de compensações da Lei Kandir, o que
elevaria de R$ 1,8 bilhão para R$
3,9 bilhão o total de repasses aos
Estados previsto para 2003.
Refis
PMDB e PSDB também ampliaram o Refis, um programa de recuperação fiscal de empresas, estenderam o Simples, programa de
cobrança simplificada de impostos, para os áreas de saúde e educação, e o ruralistas tentam isentar as cooperativas da cobrança
da Confins.
O governo federal, por seu turno, reclamou e conseguiu manter
o fim da cobrança em cascata do
PIS-Pasep, que antes havia sido
excluído do projeto do relator, deputado federal Benito Gama
(PMDB-BA).
Mas ontem os deputados resolveram criar uma exceção para a
área de telecomunicações, que
sairia onerado com a aprovação
da medida provisória.
Isso, apesar de algumas empresas do setor terem obtido autorização para aumentar preços por
conta da expectativa de aprovação da MP 66. "Esse projeto virou
uma arca de Noé", ironiza o líder
do PFL na Câmara dos Deputados, Inocêncio Oliveira (PE).
(RAYMUNDO COSTA)
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