São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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Conselho de Ética absolve Paulinho por 10 votos a 4

Presidente da Força Sindical consegue apoio do PT, da base aliada e até da oposição

PSDB tinha fechado questão a favor da cassação, mas Rômulo Gouveia não seguiu orientação; "é lamentável", disse o líder José Aníbal (SP)


Lula Marques/Folha Imagem
Paulinho (no centro, de boné) participa da marcha de sindicalistas em Brasília, que reuniu 15 mil pessoas, segundo a PM

ANDREZA MATAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o apoio do PT, dos partidos da base e da oposição, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical, foi absolvido ontem pelo Conselho de Ética da Câmara. Por 10 votos a 4, o relatório do deputado Paulo Piau (PMDB-MG), que pedia a cassação do mandato de Paulinho por quebra de decoro parlamentar, foi rejeitado. Os partidos da base votaram fechados a favor do pedetista, que ainda conseguiu apoio de um deputado do DEM e de outro do PSDB.
Baseado em investigação da Polícia Federal, o relator acusou Paulinho de envolvimento no esquema de desvio de dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). Paulinho ainda é alvo de dois inquéritos no STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar denúncias de desvio de dinheiro público.
Os votos no Conselho de Ética dos petistas Fernando Melo (AC) e Leonardo Monteiro (MG) e a ausência do deputado Antonio Andrade (PMDB-MG), que havia dito que votaria com o relator, ajudaram a dar um placar folgado a Paulinho.
Manobra do presidente do conselho, Sérgio Moraes (PTB-RS), também garantiu a Paulinho os votos dos suplentes.
Na ausência dos titulares, são chamados os suplentes que assinam primeiro a lista de presença. Moraes decidiu às 11h55 que os primeiros a assinar seriam os que chegassem ao meio-dia. Só deputados pró-Paulinho apareceram neste horário -José Carlos Araújo (PR-BA), Marcelo Ortiz (PV-SP) e Rômulo Gouveia (PSDB-PB). Antonio Carlos Biscaia (PT-RJ), que votaria com o relator, disse que não sabia da mudança de horário e acusou Moraes de "golpe". "Decidi mudar o horário e mudei", disse Moraes.
Os votos dos dois petistas a favor de Paulinho seguem roteiro que teria sido traçado na eleição municipal. Em troca de apoiar a candidatura de Marta Suplicy (PT) em São Paulo, Paulinho desistiu da disputa e o PDT aceitou ceder a vaga de vice para Aldo Rebelo (PC do B).
O presidente Lula também já defendeu Paulinho publicamente. O apoio mais explícito, porém, veio no mesmo dia em que se anunciou a decisão do relator pela cassação. Paulinho participou de reunião no Planalto e foi convidado para jantar com Lula no Torto.
Ao governo não interessava a cassação de Paulinho, que tem o controle da Força Sindical. Com 1.391 sindicatos filiados e 6,7 milhões de sindicalizados, a Força é a segunda maior entidade do país, atrás apenas da CUT (Central Única dos Trabalhadores). São fiiliados à Força, por exemplo, os sindicatos da Construção Civil de São Paulo, com 350 mil sindicalizados, e dos Metalúrgicos de São Paulo, com 300 mil sindicalizados.
Para Biscaia, o resultado atendeu a interesses políticos: "Não esperava esse placar". O relator concordou: "Houve grande movimentação do PDT, e os partidos aquiesceram a esse apelo". O petista Leonardo Monteiro negou qualquer articulação partidária. "Não há provas contra o Paulinho."
Na oposição, o pedetista conseguiu dois votos. O deputado Efraim Filho (DEM-PB) alegou falta de provas. Mas a surpresa ficou por conta do tucano Rômulo Gouveia. O PSDB fechou questão a favor da cassação em retaliação às ações de Paulinho, que coordenou greve da polícia paulista em meio a campanha eleitoral. "É lamentável o que ocorreu", disse o líder tucano na Câmara, José Aníbal (SP).
O processo será relatado agora por José Carlos Araújo (PR-BA), que votou pela absolvição. Se ele alegar ausência de provas, o processo é arquivado. Se considerar insuficiência de provas, segue para plenário.


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