São Paulo, quinta-feira, 04 de dezembro de 2008

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STF pede apuração de suposta espionagem

Mendes solicitou ao procurador-geral que apure se coronel da reserva que trabalhou na segurança do Supremo era ligado a Dantas

Em sentença, o juiz federal Fausto De Sanctis diz que Sérgio Cirillo, que já foi secretário na corte, teria ligações com o banqueiro


FELIPE SELIGMAN
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Gilmar Mendes, decidiu ontem enviar uma representação ao procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, pedindo a apuração de uma suposta tentativa do grupo do banqueiro Daniel Dantas de colocar um aliado na Secretaria de Segurança do Supremo.
A informação faz parte da sentença contra Dantas, que foi condenado anteontem, em primeira instância, a dez anos de prisão em regime fechado por corrupção ativa e ao pagamento de R$ 13,42 milhões como "multa e reparação" pela tentativa de subornar policiais.
Também foram condenados o ex-presidente da Brasil Telecom Humberto Braz e o professor Hugo Chicaroni, apontados como os interlocutores do banqueiro na tentativa de suborno.
O juiz da 6ª Vara Criminal Federal, Fausto De Sanctis, diz na sentença que o grupo de Dantas não media esforços para "destruir" a Operação Satiagraha e relata a suposta tentativa de colocar um aliado no STF. Tal aliado seria o coronel da reserva Sérgio de Souza Cirillo, nomeado em 30 de julho deste ano para atuar na Secretaria de Segurança do STF, cerca de três semanas após a operação que prendeu Dantas. Ele foi exonerado do cargo dois meses depois, no dia 6 de outubro.
A relação entre Cirillo e o grupo de Dantas se daria por meio de Chicaroni, já que ambos faziam parte do Instituto Sagres, sediado em Brasília e composto por civis e militares da reserva. Segundo a PF, Chicaroni teria ligado nove vezes para Cirillo entre junho e julho de 2008. O juiz descreve Cirillo como um "especialista em guerra eletrônica, com experiência profissional na área de Inteligência e Contra-Inteligência, oficial do Exército".
Mendes não comentou as afirmações do juiz. Oficialmente a Secretaria de Comunicação do STF confirmou a contratação de Cirillo durante o período indicado pelo magistrado.
A assessoria de imprensa do Supremo informou que, quando Mendes tomou posse, em abril deste ano, decidiu criar a Secretaria de Segurança. Procurou então o general Alberto Cardoso, responsável pela segurança de Fernando Henrique Cardoso durante seu período na Presidência (1995-2002), pedindo para que indicasse alguém de sua confiança.
O indicado foi o coronel Joaquim Gabriel Alonso Gonçalves, que tomou posse em 24 de abril de 2008. Em julho, Gonçalves conseguiu realocar para sua área um cargo em comissão para o qual indicou Cirillo como secretário substituto. Eles recebiam por mês R$ 9.600 e R$ 7.400, respectivamente.
A assessoria do STF diz ainda que a demissão de Cirillo não teve relação com a suposta espionagem. Teria sido em conseqüência da demissão de Gonçalves, que saiu por "questões administrativas." Gonçalves teria um "gênio difícil" e seu comportamento não teria se adequado ao cargo. O estopim teria sido uma briga entre ele e o cerimonial da Presidência, quando combinavam uma visita que acabou não ocorrendo.
Como Cirillo não tem foro privilegiado, assim que Souza receber a representação deverá enviá-la à Procuradoria da República no Distrito Federal.


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