São Paulo, sexta, 4 de dezembro de 1998

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ESCUTA TELEFÔNICA
Presidente da Previ deixa o cargo por pressão dos conselheiros do fundo de pensão dos funcionários do BB
Cai o último envolvido no caso do grampo

FERNANDO GODINHO
da Sucursal de Brasília


A crise provocada pelo grampo telefônico no BNDES e uma auditoria do Banco do Brasil sobre empréstimos concedidos pela instituição à construtora Encol provocaram a saída do matemático Jair Bilachi da presidência da Previ (fundo de pensão do BB).
Ele deixou o cargo ontem e foi acompanhado por João Bôsco Madeiro da Costa, que era diretor de investimentos do fundo. Ambos foram indicados para a diretoria da Previ pelo próprio BB.
Bilachi é a última pessoa com ligações com o governo -das citados nas conversas grampeadas no BNDES- a deixar o cargo.
Antes dele, saíram do cargo o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros (Comunicações), o ex-presidente do BNDES André Lara Resende e o diretor das áreas comercial e internacional do BB, Ricardo Sérgio de Oliveira.
Apesar de o banco ter anunciado que Bilachi renunciou ao cargo, a Folha apurou que ele deixou o maior fundo de pensão do país por pressão de parte do Conselho Deliberativo da entidade e por recomendação da diretoria do BB.
Madeiro da Costa saiu devido a suas ligações com Ricardo Sérgio, do qual já foi chefe de gabinete.
Para o lugar de Bilachi foi designado Luiz Tarquínio Sardinha Ferro, atual superintendente-executivo da Unidade de Finanças do BB.
O novo diretor de Investimentos da Previ é Dercy Alcântara, atual superintendente do BB no Paraná.
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Grampo e auditoria
Nas conversas telefônicas grampeadas, Bilachi aparece negociando com Mendonça de Barros a participação da Previ no leilão da Tele Norte Leste, um braço da Telebrás.
O ex-ministro acusou a Previ de ter uma atuação "dúbia" nas negociações. Ela teria ameaçado deixar o consórcio do banco Opportunity com a Telecom Italia para se associar à Andrade Gutierrez e ao próprio BB no consórcio Telemar.
A Previ estaria insatisfeita com as condições colocadas pelo Opportunity, que só estaria interessado nos seus recursos. Depois, confirmou a parceria com o banco.
A Telemar venceu a disputa, mas a Previ conseguiu entrar na holding após o leilão, comprando ações dos vencedores.
A auditoria do BB investiga a responsabilidade de Bilachi na concessão de empréstimos de R$ 99 milhões à construtora Encol quando ele era gerente de uma agência do banco em Brasília.
Depois, como superintendente do BB no Distrito Federal, ele teria trabalhado para rolar as dívidas da construtora -apesar de ela ter apresentado garantias insuficientes para a operação.
Disputas na Previ
Nesta semana, 4 dos 7 membros do Conselho Deliberativo da Previ pediram a saída de Bilachi. Apesar de não terem reclamações contra sua gestão, os conselheiros (eleitos pelos associados do fundo) avaliaram que sua permanência seria "politicamente prejudicial" à Previ. Os outros três conselheiros (indicados pela direção do BB) e Bilachi resistiram à pressão.
A discussão final ocorreu anteontem, sem a presença de Bilachi, em uma reunião que durou quase 12 horas na diretoria do BB.
A Folha apurou que os conselheiros indicados pelo BB sugeriram a renúncia coletiva do Conselho Deliberativo e de toda a diretoria do fundo, dizendo que a gestão estaria "comprometida". Os conselheiros eleitos recusaram a idéia.
O presidente do BB, Paulo César Ximenes, reuniu-se com os conselheiros indicados e optou pelas demissões. A decisão foi submetida ao Palácio do Planalto e aprovada.



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