São Paulo, sexta, 4 de dezembro de 1998

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RIO DE JANEIRO
Parlamentares são acusados de tentar subornar colegas em votação sobre a venda da empresa de água
Assembléia pode cassar dois deputados

LUIZ ANTÔNIO RYFF
da Sucursal do Rio

A Alerj (Assembléia Legislativa do Estado do Rio) abriu ontem à tarde um processo de cassação dos dois deputados acusados de tentativa de suborno de quatro outros parlamentares.
Os acusados são o líder do PPB na Assembléia, Aluízio de Castro, e o também pepebista José Amorim.
O objetivo da suposta compra de votos seria impedir a derrubada do veto do governador do Rio, Marcello Alencar (PSDB), ao projeto legislativo que retira a Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos) do PED (Programa Estadual de Desestatização) na votação que foi a plenário no início da noite de ontem.
A denúncia foi feita pelo presidente da Alerj, Sérgio Cabral Filho -o deputado estadual mais votado do país nas últimas eleições. Cabral Filho disputa com Alencar a liderança do PSDB fluminense no período pós-eleitoral.
As acusações foram feitas depois que os deputados Tuninho Duarte (PFL), Ary Brum (PSDB), Luiz Novaes (PSDB) e André Luiz (PMDB) gravaram conversas supostamente com o líder do PPB na Assembléia Legislativa.
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Oferta
Ele teria oferecido entre US$ 50 mil e US$ 100 mil para que cada parlamentar não comparecesse à sessão de ontem ou que votasse pela permanência do veto do governador.
"A intenção de Aluízio de Castro era muito simples: abordar deputados que não foram reeleitos e que talvez tivessem dívidas de campanha para saldar", afirmou Duarte, que não teve o mandato renovado.
Castro teria dito aos deputados que os articuladores da negociação seriam o secretário estadual de Fazenda, Marco Aurélio Alencar -filho do governador-, e o prefeito de Nova Iguaçu, Nelson Bornier (PFL).
Os deputados Aluízio de Castro e José Amorim, cuja voz também apareceria em uma das fitas, negaram qualquer envolvimento na suposta tentativa de suborno.
"Em nenhum momento participei de conversas sobre compra de votos. A voz na fita não é minha", afirmou Amorim. "É a palavra dele (a de Tuninho Duarte) contra a minha."
Marco Aurélio Alencar também negou qualquer participação na suposta compra de votos e disse que pretende processar os denunciantes. O prefeito Nelson Bornier não foi encontrado pela Folha.
O presidente da Alerj disse que vai entregar as fitas para o Ministério Público.
Antônio Carlos Biscaia, procurador de Justiça, encaminhou uma solicitação de investigação ao Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio, Hamilton Carvalhido.
Ontem, no início da noite, a Alerj derrubou o veto de Alencar por 57 votos a 7. Seis deputados estavam ausentes -Aluízio de Castro era um deles.
Alencar terá que sancionar a lei que tira a Cedae do PED, mas o governador determinou à Procuradoria Geral do Estado que conteste a constitucionalidade da lei.
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Disputa
O processo de privatização da Cedae se arrasta há meses com ações inclusive no STF (Supremo Tribunal Federal) tentando impedir sua venda. O TCE (Tribunal de Contas do Estado) não aceitou o edital, que teve que ser refeito.
O governador eleito do Rio, Anthony Garotinho (PDT), também já declarou que não concorda com a privatização da companhia, cujo leilão, marcado para segunda-feira passada, foi suspenso por decisão da Comissão de Valores Mobiliários e do STF.
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Colaborou Toni Sciarretta, da Sucursal do Rio


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