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CELSO PINTO
Quanto o PIB cairá em 99
A projeção oficial do governo
e do FMI imagina uma queda
de 1% do PIB no próximo ano.
Para o banco americano JP
Morgan, a queda pode chegar a
4,3%, mas, para o diretor do
Banco Central Francisco Lopes, a economia pode ficar estável ou até crescer um pouquinho.
Quem tem razão? O crescimento em 99 vai depender de
vários fatores, especialmente
da trajetória das taxas de juros. Algo que está ligado ao restabelecimento da confiança externa e da implementação do
ajuste fiscal.
Existe, contudo, um aspecto
técnico na discussão do PIB em
99 que faz diferença e para o
qual nem todos estão atentos.
A mudança de metodologia na
apuração do PIB faz com que a
queda da economia tenda a ser
mais suave do que foi em recessões passadas, como argumenta o economista Elson Aguiar
Teles, do Banco Boreal.
Teles examina quatro períodos recessivos recentes. Na recessão de 81, o PIB caiu 4,27%,
na de 83, caiu 2,92%, na de 90,
caiu 4,35%, e na de 92, caiu
0,29%. Existe algo em comum
nas quatro recessões. Quatro
setores foram mais sensíveis à
contração da demanda: indústria de transformação, construção civil, comércio e transportes.
Os quatro setores, principalmente a indústria de transformação, virtualmente explicam
a queda do PIB. Nas duas piores recessões, 81 e 90, a indústria de transformação caiu
10%, enquanto a queda média
dos quatro setores "sensíveis"
foi de -8,3%.
Os quatro setores respondiam por 61% da formação do
PIB em 81. Ao cair 8,4%, levaram a uma queda de 5,1% do
PIB, parcialmente amenizada
pelo crescimento do setor agropecuário. Em 90, com peso de
54,6%, os quatro setores caíram 8,3%, levando a uma queda de 4,5% do PIB. Ou seja, esses setores "fizeram" a recessão.
Acontece, contudo, que o peso relativo desses setores mudou, e a mudança foi acentuada por uma recente alteração
metodológica no cálculo do
PIB. O cálculo do peso relativo
dos setores na formação do PIB
usava uma base de preços fixos
de 80, a partir da qual era feita
uma correção anual, pela variação na quantidade produzida.
A nova metodologia, ao contrário, passou a rever as ponderações dos setores com base no
valor adicionado aos preços básicos do Sistema de Contas Nacionais do ano anterior, ou, na
ausência de dados, do último
ano disponível.
Ao embutir, na nova metodologia, as variações de preço,
além da quantidade, o cálculo
do PIB ficou muito mais sensível
à perda relativa da importância
do setor industrial em relação
ao setor de serviços. De 80 a 97, o
peso da indústria passou de
47,5% do PIB para 33,3%, o setor de serviços subiu de 40,6%
para 59,1%, e a agropecuária
caiu de 11,9% para 7,6%.
Pela metodologia antiga, o
movimento ia na mesma direção, mas de forma mais suave: a
indústria, em 97, ainda pesaria
39,7%, os serviços, 46,3% e a
agropecuária, 14%. Os serviços,
especialmente administração
pública e aluguéis (com peso de
28% no PIB), têm um crescimento constante, próximo à variação populacional.
A consequência foi que os quatro setores mais sensíveis à contração da demanda tiveram seu
peso relativo reduzido de 61%
para 40% na formação do PIB,
de 80 a 97, enquanto outros setores mais "estáveis" aumentaram seu peso relativo.
Teles calcula que uma queda
de 5% na indústria de transformação, acompanhada, linearmente, pelos outros três setores
sensíveis, em 99, levaria a uma
queda do PIB de 1,3%. Usando a
metodologia anterior e a ponderação de 90, a queda seria de
1,9%. Com a ponderação de 80,
a queda seria de 2,4%.
Uma queda de 7,5% da indústria de transformação levaria a
uma queda de 2,2% do PIB em
99, e uma queda de 10% levaria
a uma redução do PIB de 3,1%.
Teles acha que a hipótese de redução de 5% da indústria de
transformação em 99 é a mais
realista, porque o setor, neste
ano, já vai fechar em queda (que
ele estima em 2,8%), e o próprio
PIB deve ficar perto de zero
(0,3% na projeção dele).
Nas duas fortes recessões anteriores, em 81 e em 90, o PIB havia crescido no ano anterior
(9,1% em 80 e 3,2% em 89), ajudado pela indústria de transformação (9,1% e 2,9%). Desta vez,
a base de comparação já será
mais baixa.
A conclusão de Teles é que é
improvável que o PIB caia de
3% a 4% em 99. Ele estima a
queda em 1,3%, em linha com a
estimativa oficial. Pode ser pior,
mas não tão pior.
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