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ELEIÇÕES 2006/DANÇA DAS CADEIRAS
Se Alckmin mantiver decisão de deixar o governo de SP, vaga ficará com o pefelista, que promete não mexer nos projetos do PSDB
"Vice dos sonhos", Lembo seguirá rumo tucano
CRISTINA FIBE
MICHELE OLIVEIRA
DA REDAÇÃO
Tendo como principal característica a "discrição", Cláudio
Lembo (PFL), 71, pode chegar ao
ápice de sua carreira política empurrado pela anunciada renúncia
de Geraldo Alckmin (PSDB) ao
governo de São Paulo.
Com atuação longe dos holofotes tanto como vice-governador
quanto na presidência estadual
do PFL, Lembo poderá governar
por nove meses o segundo maior
Orçamento do país, que deve ser
de cerca de R$ 80 bilhões neste
ano, da mesma forma como conquistou o cargo: sem deixar marcas pelo caminho.
O pefelista, escolhido por Alckmin para compor a chapa com o
PSDB em 2002, tem sido o "vice
dos sonhos" dos tucanos. Sua
atuação é comparada à do senador Marco Maciel (PFL-PE), vice
do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Maciel é um dos pefelistas mais próximos de Lembo.
Segundo aliados do governador
e de Lembo, o jeito silencioso e reservado de cumprir as tarefas
agrada ao PSDB, que não gostaria
de ser incomodado por uma atuação ousada de outro partido na
vaga que deve deixar de herança
-embora, na semana passada,
Alckmin tenha emitido sinais de
que pode desistir da candidatura
à Presidência e ficar no governo
até o fim do mandato.
"Para Alckmin, seu perfil tem
sido muito bom, discreto, disponível e útil", afirma o pefelista
Lars Grael, secretário estadual da
Juventude, Esporte e Lazer.
Lembo diz que, depois de governar São Paulo, dando continuidade aos projetos de Alckmin,
quer desistir da vida política. Ele,
que também é professor e advogado -foi reitor da Universidade
Mackenzie-, afirma pretender
se "retirar e dar aulas, só". Para
Lembo, essa é apenas uma "circunstância feliz" de sua carreira.
"Em política a gente não tem
que fazer aspirações, são acontecimentos da vida. Não se deve fazer disso um objetivo de vida",
aconselha o vice-governador.
Comando dividido
O tom é o mesmo com que comanda o PFL em São Paulo. O vice-presidente estadual do partido,
Gilberto Kassab, é o "grande operador político", nas palavras de
Lembo, enquanto ele mesmo se
considera uma espécie de "rainha
da Inglaterra" na função.
Kassab, vice de José Serra
(PSDB) na Prefeitura de São Paulo, é quem faz as articulações nos
bastidores, enquanto Lembo atua
como "avalista ético", de acordo
com expressão ouvida entre correligionários e tucanos.
Segundo pefelistas, sua "credibilidade" e a "ficha limpa" chancelam as decisões que, na maioria
das vezes, partem de Kassab, que
chegou a ser investigado pelo Ministério Público de SP por suspeita de enriquecimento ilícito.
À frente do governo de São Paulo, Lembo nega que suas decisões
possam sofrer influência do partido, apesar de estar abrindo uma
importante porta para que o PFL
se consolide no Estado. Melhor
ainda para a sigla se Serra deixar a
prefeitura nas mãos de Kassab.
Outra força importante para o
PFL é a presidência da Assembléia Legislativa de São Paulo,
conquistada em março do ano
passado, em episódio que representou derrota de Alckmin e que
causou mal-estar entre pefelistas
ligados ao governador.
Depois da eleição do tucano Edson Aparecido ser dada como certa, com o apoio do partido de
Lembo, o deputado estadual Rodrigo Garcia, também PFL, amigo
e sócio de Kassab, anunciou a
candidatura de oposição, apoiada
pelo PT, seis dias antes da disputa.
Apesar de Lembo e Kassab terem se colocado publicamente
contra a postura do colega, o partido nunca o advertiu formalmente, e Garcia teve a adesão de 9
dos 11 deputados do PFL. Depois
de eleito, a festa pela vitória teve
direito a uísque na casa de Kassab.
A relação de Lembo e Alckmin,
dizem aliados, ficou abalada na
ocasião, mas o mal-estar já foi superado. O tucano confia que seu
vice mantenha os secretários nomeados por ele e que dê continuidade aos projetos, dando crédito a
Alckmin pelas ações. No caso dos
secretários que também deixarão
o cargo até abril, Lembo deverá
nomear os adjuntos, promovendo alteração somente na Casa Civil, caso Arnaldo Madeira (PSDB)
saia da pasta.
A primeira administração de
Lembo, no entanto, será testada
quando o pefelista enfrentar situações de conflito, como as questões de segurança no Estado.
Moderador
Classificado por amigos como
"doce" e "reservado", Lembo carrega a fama de um moderador de
disputas. Mesmo que se diga conservador, o vice afirma ser aberto
a debates. Embora tenha sido presidente regional da Arena, partido
que sustentou a ditadura militar
(1964-1985), diz ter lutado pela redemocratização.
Foi durante o regime militar, inclusive, que Lembo disputou a
única eleição sem ser vice. Em
1978, concorreu a uma vaga no
Senado, mas não foi eleito.
"Ele é bastante correto e preparado", afirma o líder do PL na Assembléia Legislativa de São Paulo,
Arthur Alves Pinto, que conheceu
Lembo nos tempos de Arena.
O envolvimento do vice-governador com a ditadura foi motivo
de protesto em janeiro de 2002,
quando Lembo foi indicado para
a Secretaria de Justiça do Estado.
Em manifesto entregue a Alckmin, 66 ONGs (organizações não-governamentais) de direitos humanos consideraram a possível
presença de Lembo na secretaria
um "problema". Ele acabou não
aceitando o cargo.
As ONGs utilizaram como argumentos a atuação do pefelista
na Arena, além da participação
como secretário de Negócios Jurídicos de Jânio Quadros (entre
1986 e 1988), quando chegou a assumir a prefeitura interinamente,
e como secretário de Planejamento do ex-prefeito de São Paulo
Paulo Maluf (entre 1993 e 1996).
A presença de Lembo no regime
militar também foi alvo de divergências no PSDB, quando o pefelista foi escolhido vice de Alckmin. O grupo ligado ao ex-governador Mário Covas, morto em
2001, pressionava por chapa pura.
Apesar da resistência, Lembo se
tornou figura de confiança do governo tucano e, às vésperas de assumir, deixa o partido tranqüilo
com a garantia de não interromper os trabalhos de Alckmin.
Resta saber como agirá o PFL,
que ainda não definiu se manterá
a aliança com o PSDB ou terá candidato próprio a governador neste ano, diante da chance de usar o
pouco tempo no governo para
imprimir sua marca no Estado.
Colaborou JOSÉ ALBERTO BOMBIG, do
Painel
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