São Paulo, domingo, 05 de fevereiro de 2006

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QUESTÃO AGRÁRIA

Órgão teria aceitado pagar valor maior que o praticado no mercado

Imóvel oferecido ao Incra pode ter sido superfaturado

ANA RAQUEL COPETTI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CAMPO GRANDE

O MPE (Ministério Público Estadual) de Mato Grosso do Sul investiga denúncia de que o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) superavaliou o valor de uma propriedade rural que deve ser vendida ao órgão para fins de reforma agrária no município de Bonito (a 290 km de Campo Grande).
Segundo a denúncia que originou o inquérito civil aberto no último dia 31, o órgão avaliou a fazenda Santa Maria, com 5.000 ha (um hectare equivale a 10 mil metros quadrados), em R$ 18,7 milhões, enquanto o valor dado por corretores é de R$ 12,7 milhões.
A denúncia chegou ao MPE em ofício enviado pela juíza Luciane Buriasco de Oliveira Mello, da Comarca de Bonito, que diz ter estranhado a disparidade de valores.
A juíza tomou conhecimento das avaliações feitas pelo Incra e pelo corretor Vinícius Coutinho (que realizou a avaliação extrajudicial, chegando ao valor de R$ 12,7 milhões) em 23 de janeiro, quando a fazenda foi leiloada no Fórum de Bonito.
O antigo proprietário tinha dívidas e o credor arrematou a fazenda como pagamento da conta. O objetivo do novo proprietário é revender o local para o Incra.
"As duas partes disputavam a fazenda, mas com interesse nítido em revender ao Incra. Pedi então uma terceira avaliação, que foi feita de acordo com a pauta fiscal de Bonito [valor estimado pela prefeitura] e ficou em R$ 8,936 milhões", afirmou a juíza.
Para o promotor de Justiça que representa o MPE em Bonito, Luciano Loubet, os documentos "indicam fortes indícios de superfaturamento". A pauta fiscal do município é de R$ 1.326 por hectare, enquanto na tabela de avaliação do Incra o valor é de R$ 3.634 -uma diferença de 174%.
O Incra, por meio de sua assessoria, disse que quatro dias antes do leilão informou da desistência do órgão em comprar a fazenda.

Solo
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) reprova a instalação de assentamentos rurais na região. Isso porque, segundo o chefe do Parque Nacional da Bodoquena, Adílio Valadão de Miranda, o solo é excessivamente rochoso, impróprio para a agricultura, e o impacto seria negativo para a reserva ambiental.
O engenheiro agrônomo Egídio Peccini diz que o solo de Bonito não é adequado para assentamentos. Segundo ele, a terra é de boa qualidade e fértil, mas exige tecnologia para a manutenção.


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