São Paulo, segunda-feira, 05 de fevereiro de 2007

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Lacerda ainda é homem-forte do PT no ABC

DA REPORTAGEM LOCAL

Fora do PT desde a explosão do caso do dossiê, Hamilton Lacerda continua sendo o homem-forte do partido em São Caetano do Sul (ABC paulista), sua base política, e mantém canais de comunicação com o comando do Diretório Estadual.
Segundo petistas que conversaram com a Folha nas últimas três semanas e pediram para ter seus nomes mantidos no anonimato, ele é apresentado como um "mártir" da reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva nos encontros partidários no ABC e na capital.
Na última quinta-feira, por exemplo, uma festa para cerca de cem convidados, organizada por familiares e amigos, comemorou os 41 anos de Lacerda em um sindicato de São Caetano. Além de marcar seu aniversário, o evento foi uma das ações de seus apoiadores para resgatar a estima do ex-petista, abalada após o escândalo.
Até o surgimento das investigações do caso dossiê, em setembro do ano passado, Lacerda era um dos principais assessores da campanha do então candidato a governador de São Paulo pelo PT, o senador Aloizio Mercadante.
Com o escândalo, o ex-vereador de São Caetano foi afastado sumariamente da campanha por Mercadante.
Em seguida, Lacerda, um dos mais influentes nomes do PT no ABC paulista, pediu sua desfiliação ao Diretório Municipal de São Caetano.
Para seus adversários, o pedido fez parte de uma estratégia para que Lacerda deixasse os holofotes, mas mantivesse o poder e o prestígio no PT.
Em seus depoimentos nas investigações do caso, ele negou o envolvimento de Mercadante e do Planalto na estratégia que teve como principais protagonistas os "aloprados", na classificação de Lula.
"O Hamilton ainda tem muita liderança dentro do PT de São Caetano", diz o vereador da cidade Edgar Nóbrega (PT), que divulgou recentemente um texto na internet criticando os que enxergam na postura de Lacerda "um sacrifício pessoal em favor do coletivo".
A mulher de Lacerda, Isabel Fonseca, é vice-presidente do PT na cidade. O presidente do diretório, Ricardo Rios, o conhece há pelo menos 20 anos e se elegeu para o cargo com o apoio do ex-petista.
Rios nega que Lacerda ainda exerça influência, mas não critica o ex-companheiro.
"Quando ele me procurou pedindo a desfiliação, aceitei imediatamente. Não tenho mais contato com ele e quero levar o partido adiante. Todo mundo perdeu com esse episódio. Precisamos agora pensar no futuro do PT", afirma Rios.
Para ele, não há hipótese de Lacerda voltar ao partido, como cogitam adversários. "O caminha de volta é muito difícil."
Segundo a Folha apurou, o grupo contrário ao poder de Lacerda em São Caetano levou o caso ao Diretório Estadual do PT em São Paulo, mas a direção demonstrou pouco interesse.
Ele fala quase diariamente com um dos integrantes da Executiva paulista muito próximo do presidente do PT no Estado, Paulo Frateschi.
Indiciado pela PF, Lacerda tem levado uma vida digna de um "mártir", na opinião de seus amigos. Raramente aparece em público, sofre com crises de depressão e ainda não conseguiu retomar por completo o trabalho em sua imobiliária.
Procurado pela Folha, Lacerda não quis dar entrevista. Segundo seu advogado, Alberto Toron, ele irá aguardar a conclusão do inquérito sobre o caso para se manifestar. (JOSÉ AL BERTO BOMBIG)


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