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Inquérito do dossiê ignora ligação de Gedimar
Ex-petista telefonou para o chefe do setor de inteligência da Secretaria de Segurança; PF não viu razão para investigar
Telefonemas para José
Hilário Medeiros ocorreram
no período de negociação da
compra do dossiê contendo
informações antitucanas
ANDRÉA MICHAEL
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao concluir a investigação
sobre as negociações de emissários petistas para comprar
um dossiê contra políticos tucanos, a Polícia Federal não informou que um dos personagens centrais da trama fez contato com o departamento de inteligência da Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), do Ministério da Justiça.
Destacado por petistas que
atuavam na campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pagar pelo dossiê, o agente da PF aposentado Gedimar Passos trocou telefonemas com o chefe da
inteligência da Senasp, José
Hilário Medeiros, que também
é agente da Polícia Federal.
Medeiros não foi ouvido pela
PF e seu nome não aparece no
inquérito que hoje tramita no
Supremo Tribunal Federal.
O delegado responsável pelo
inquérito, Diógenes Curado,
disse que não investigou os telefonemas porque nunca cogitou o envolvimento de ninguém da Senasp no caso. "São
quase todos policiais federais
[os integrantes da Senasp]. Que
interesses poderiam ter nessa
história? A própria Polícia Federal estaria sob suspeita."
Gedimar e Medeiros trocaram pelo menos seis ligações,
de celular para celular, durante
o período da negociação da papelada que seria usada para atacar adversários tucanos.
Os telefonemas concentram-se entre os dias 4 e 11 de setembro. Além das ligações entre os
celulares, no dia 11 daquele mês
Gedimar recebeu duas chamadas de um número fixo da Senasp, segundo a quebra do sigilo telefônico do ex-agente da
PF, à qual a Folha teve acesso.
No dia seguinte (12/9), Gedimar teria seu primeiro encontro com Hamilton Lacerda, ex-assessor do senador Aloizio
Mercadante (PT-SP). Lacerda
foi apontado pela PF como a
pessoa que levou o dinheiro do
dossiê para Gedimar no hotel
onde o ex-agente da PF foi preso com R$ 1,75 milhão, no dia
15 de setembro.
Fora o período de negociação
do dossiê -segundo a PF, entre
meados de agosto e 15 de setembro-, os dois se falaram só
duas vezes, nos dias 7/8 e 8/8.
Gedimar já prestou serviços
à Senasp, mas na ocasião trabalhava para a campanha de Lula.
Apesar de saber exatamente
com quem Gedimar trocou ligações, a PF não aprofundou
essa linha de investigação.
Ouvido pela PF, Gedimar
atribuiu as ligações a conversas
pessoais. Ele não explicou, contudo, por que as ligações concentram-se no período anterior à compra dossiê.
Outro lado
A Senasp confirmou a existência dos contatos entre Hilário e Gedimar e informou, via
assessoria de imprensa, que as
ligações foram para resolver
pendências sobre a contratação
de Gedimar pela secretaria para dar um curso de segurança.
A Folha apurou que, no fim
de 2006, ao tomar conhecimento dos contatos entre Gedimar e Hilário, a Senasp cobrou deste último uma explicação. Em relatório, ele usou como argumento pendências deixadas por Gedimar quando
contratado pela secretaria.
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