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ELIO GASPARI
Um prêmio para os americanos ineptos
O ministro do Turismo,
Walfrido Mares Guia, defende que os cidadãos americanos sejam dispensados de visto de
entrada no Brasil. Os italianos e
os franceses entram sem visto, por
que os americanos precisam dele?
Porque o exigem dos brasileiros.
Mares Guia despreza o conceito
de reciprocidade, um dos pilares
do direito internacional, chamando-o de política do "olho por
olho". A servidão voluntária é
coisa velha. No século 19, os súditos ingleses tinham juízos especiais no Brasil. Hoje os soldados
americanos gozam da prerrogativa da extraterritorialidade no
Iraque e no Paraguai.
O Brasil já teve chanceler que tirou o sapato para um agente da
imigração americana. Sabe-se lá
qual peça de roupa Mares Guia
pretende tirar. Deixando de lado
a questão legal, o ministro deveria calçar as sandálias da patuléia e percorrer a trilha dos brasileiros que solicitam um visto de
turista aos consulados americanos. São submetidos a uma rapina inepta e prepotente.
Aos fatos: para começo de conversa, o doutor Mares Guia deverá pagar R$ 38 para obter informações, por telefone, e marcar
uma entrevista. Caso se habilite
ao visto, pagará uma taxa de
R$ 210, não reembolsável.
Os consulados marcam entrevistas de acordo com a planilha
da própria incompetência. No
Rio, a espera é de 140 dias. No Recife, de 70. Como o ministro é mineiro e os americanos fecharam
seu consulado em Belo Horizonte,
deverá ir a São Paulo para a entrevista. Espera de 45 dias.
No dia marcado, entrará numa
fila de cerca de uma hora, na rua.
No Rio são quatro horas. Uma
vez admitido ao prédio, outra espera, menor.
Será atendido em pé.
Essas malfeitorias nada têm a
ver com demanda, segurança e rigor. Se os serviços consulares
americanos no Brasil trabalham
com prazos semelhantes aos dos
piores hospitais da rede do SUS,
isso se deve ao desinteresse de seus
titulares pela clientela que atendem. O consulado em La Paz tem
espera de sete dias e, no de Havana, a demora é inferior à do Rio.
Dando bois aos nomes, são cônsules americanos em Brasília, em
São Paulo e no Rio de Janeiro
os doutores Simon Henshaw,
Christopher McMullen e Edmund
Atkins.
Representam a degradação de
um serviço que já teve funcionários de primeira, como Stephen
Dachi, que ajudou a identificar a
ossada do médico nazista Joseph
Mengele.
Mares Guia deveria convidar
Henshaw, McMullen e Atkins para uma sessão transparência. Explicaria porque os americanos devem ser dispensados dos vistos e o
trio contaria porque os brasileiros
devem ficar na fila.
O juiz do filme virou o único nazista
Pipoca para quem viu ou vai
ver o filme "Uma mulher contra
Hitler", a história de Sophie
Scholl (23 anos) e seus amigos da
universidade de Munique. Em
1943, depois da derrota alemã em
Stalingrado, eles panfletaram a
inutilidade da guerra perdida.
Acabaram mal.
O filme dá a impressão de que,
na Alemanha de 1943, o único
verdadeiro nazista era o juiz Roland Freisler. Há universitários
perplexos, carcereiros amáveis,
oficiais hieráticos e até um meganha levemente atormentado.
Pena, mas não foi assim. Duas
horas depois da cena final do filme houve uma manifestação de
regozijo dos estudantes pelo desfecho do episódio. Uma assembléia aplaudiu de pé o bedel que
deteve e denunciou Sophie e seu
irmão. Freisler condenou 2.600
pessoas à morte. Obrigou um general a testemunhar segurando
as calças.
Em fevereiro de 1945, o juiz estava em Berlim, no seu escritório,
cuidando de um processo. Deu-se
um ataque aéreo, o prédio foi
atingido, uma viga soltou-se e
acertou-o. Foi o único ferido.
Buscou-se um médico que passava pela rua e ele comprovou
que nada mais havia a fazer. O
juiz se acabara. Na véspera,
Freisler condenara à morte o irmão do médico. (Julia Jentsch no
papel de Sophie é uma das melhores caracterizações da história
do cinema.)
Lula viu a uva
Em outubro passado, Lula disse
em Roma, durante uma conversa com a esquerda local, que
seria reeleito porque a escolha
do candidato tucano seria
"uma guerra". No mesmo dia,
no Brasil, Delúbio Soares previu que as denúncias contra o
governo seriam "esclarecidas,
esquecidas e acabarão virando
piada de salão".
Gripe tucana
Cenário da gripe aviária que
pode dizimar os tucanos: Serra
e Alckmin racham o eleitorado
paulista levando parte dele a
achar que Lula é preferível a um
ou ao outro.
Em Minas Gerais, Aécio Neves joga para ganhar, como fez
em 2002. Antes mesmo do segundo turno, ele já conversava
com "nosso guia".
No Rio de Janeiro, o PSDB
ainda não tem um pedaço de
chão onde apoiar o pé.
El Supremo
São enormes os poderes do general Francisco Albuquerque,
comandante do Exército.
Na Quarta-Feira de Cinzas,
ele chegou ao aeroporto de Viracopos, em Campinas, 15 minutos antes da hora do embarque do seu vôo para Brasília. O
funcionário da TAM explicou-lhe que o vôo estava fechado e
lotado. Ocorrera um overbooking de feriadão. O avião já ia
em direção à cabeceira da pista
quando recebeu ordem da torre para retornar ao pátio. Uma
escada foi levada para a porta e
um casal de passageiros desceu.
Subiu o general, com roupas civis, acompanhado pela mulher.
Se o doutor Albuquerque descobriu o argumento supremo
para reabrir vôos fechados e
anular os efeitos do overbooking, deveria compartilhá-los
com a patuléia. Ligou para
quem?
Outra solução seria criar unidades do Exército para democratizar sua fórmula. Seriam os
Grupos Especiais de Embarque
Imediato.
Diplomacia marqueteira
"Nosso guia" patrocina a criação de uma sobretaxa para as
viagens aéreas como forma de
reduzir a fome no mundo. O
aliado de Lula nessa tunga é o
presidente francês Jacques
Chirac. Só 13 países aderiram
à idéia e os americanos recusam-se a ser taxados por governos alheios. A iniciativa é
uma contribuição para o estudo da pobreza no Brasil e dos
benefícios que a leviandade
tributária dá a governantes interessados em fazer a escumalha de boba.
A idéia de Chirac é cobrar
até US$ 5 de cada passageiro
que decola de aeroportos franceses. A taxa de embarque
no De Gaulle, em Paris, passará para US$ 15. Continuará
abaixo da média mundial de
US$ 16.
A idéia de Lula é avançar sobre o Tesouro e depois cobrar
US$ 2 de cada passageiro de
vôos internacionais. Com isso,
a taxa de Pindorama, que já é a
mais alta do mundo, passará a
ser de US$ 40. (O Kennedy, em
Nova York, cobra US$ 17.)
O oportunismo diplomático dos governos brasileiros
não onerava a bolsa da Viúva.
A diplomacia da marquetagem inova.
Mamãe eu quero
A banda do Copom, amparada em algumas tubas da banca, planeja um emparedamento do governo. Bote previsto
para o início da campanha
eleitoral.
A melodia será a mesma
que usaram intramuros no
ano passado: o governo precisa defender o Banco Central.
Por quê? Os nove sábios do BC
são maiores de idade, capazes
de defender suas opiniões em
público. Se não gostam da luz
do sol, problema deles. Dois
diretores do banco -Afonso
Beviláqua e Rodrigo Rocha
Azevedo- não têm biografia
no sítio do banco na internet.
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