São Paulo, segunda-feira, 05 de março de 2007

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País espera resolver divergências com os EUA

CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Há uma euforia no governo e uma expectativa de aumentar o acesso de produtos nacionais no mercado americano com dois encontros que ocorrem neste mês: a visita de George W. Bush ao Brasil, nos dias 8 e 9, e a de Lula aos EUA, no dia 31.
Mas a lista de problemas entre os dois países, embora sob controle, não é pequena. As divergências vão de tarifas abusivas para a importação do álcool brasileiro a desacordos políticos como a invasão do Iraque, criticada pelo Brasil, e a reforma do Conselho de Segurança da ONU, que os EUA resistem.
Segundo o último relatório comercial feito pela Embaixada do Brasil em Washington, cerca de 80 produtos competitivos exportados pelo Brasil, principalmente agrícolas, enfrentam algum tipo de proteção no mercado dos EUA.
Na OMC (Organização Mundial do Comércio), o Brasil ganhou com ampla repercussão internacional a disputa contra subsídios que os americanos pagam aos produtores de algodão. O resultado gerou conseqüências até para a paralisada Rodada Doha. Mas o governo brasileiro anda descontente com a demora de Washington para implantar as mudanças exigidas pela OMC.
Outro problema recorrente são as cotas e salvaguardas impostas pelo Departamento de Comércio americano a produtos brasileiros, principalmente os siderúrgicos, por causa da rígida (e injusta, na visão do Itamaraty) legislação antidumping americana. Mas o governo dos EUA também tem reclamações e anualmente faz o Itamaraty tremer quando revisa a Super 301, "lista negra" onde estão relacionados países que supostamente não cumprem as exigências de propriedade intelectual e estão, portanto, sujeitos a sanções comerciais.
De acordo com o novo embaixador do Brasil em Washington, Antonio Patriota, que assume o posto nesta semana, as reuniões de consultas bienais em nível de subsecretários, que foram criadas na visita ao Brasil da secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, em abril de 2005, devem passar a ocorrer três vezes por ano.
"Isso deve ajudar não somente a resolver os problemas como a explorar novas oportunidades", disse antes de embarcar para Washington.
Seu antecessor, o ex-embaixador Roberto Abdeneur, que deixou o posto em janeiro, concedeu uma polêmica entrevista à revista "Veja" em que acusou a política externa de antiamericana. "Nos últimos anos, não houve nenhuma instância de pressão política. Só o veto da venda de aviões Supertucanos para a Venezuela, mas era algo contra a Venezuela", disse Abdenur na Comissão de Relações de Exteriores no Senado.
A grande divergência entre os dois países é com relação à formação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).
As conversas travaram em 2004 porque o Brasil se nega a incluir temas como propriedade intelectual, investimentos e comércio de serviços, por temer que essas regras tolham sua capacidade de fazer políticas públicas e se transformem em novas barreiras comerciais.
Sem esses itens, porém, os americanos não querem saber de nenhum tipo de acordo e já disseram não duas vezes aos convites do Itamaraty para fazer pacto com o Mercosul. Enquanto essas negociações não evoluem, os EUA tentam fazer acordos bilaterais com os países da América do Sul.


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