São Paulo, quarta-feira, 05 de março de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Na CPI, reitor da UnB se exime de culpa por compra de mobília

Timothy Mulholland também rebate tese de promotores de que valor investido em apartamento deveria ser destinado a pesquisa

Dirigente nega confusão entre o público e o privado e afirma lamentar "o abalo na imagem da universidade que resultou da polêmica"

ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Após quase um mês de silêncio, o reitor da UnB (Universidade de Brasília), Timothy Mulholland, afirmou ontem em depoimento à CPI das ONGs que não teve responsabilidade pela decoração e mobília do seu apartamento funcional com produtos de luxo.
Mulholland disse lamentar o dano à imagem da universidade que o escândalo do apartamento causou, mas em nenhum momento afirmou ter feito um erro. "Pessoalmente, eu lamento enormemente o abalo na imagem da universidade que resultou dessa polêmica."
Durante a sessão, acompanhada por professores e funcionários da UnB próximos ao reitor, ele atribuiu a compra dos móveis e eletrônicos à "área técnica" da universidade. Questionado sobre a compra de cinco televisores de plasma para o apartamento, afirmou apenas: "Não sei explicar, não foi decisão minha". Na última entrevista que havia concedido sobre o caso, em janeiro, ele defendeu no "Jornal Nacional" que fosse comprado "material durável". "Não se mobilia uma casa de qualquer maneira."
À CPI o reitor negou confusão entre o público e o privado. Mulholland rebateu a tese dos promotores de que o dinheiro investido no imóvel -R$ 470 mil, segundo o Ministério Público, e R$ 350 mil, de acordo com a UnB- teria de ser destinado a pesquisas.
Embora tenha admitido que os recursos para pesquisa no país são insuficientes, disse que o uso da verba condiz com a rubrica "desenvolvimento institucional". "A preparação do imóvel não se deu em prejuízo de qualquer programa da UnB, especialmente de pesquisa."
A verba para o imóvel faz parte de um fundo constituído por recursos da Finatec (fundação ligada à UnB). Porém, seu uso é decidido pela diretoria da Fundação UnB -mantenedora da universidade-, da qual Mulholland é presidente. "A Finatec tinha todo o direito de recusar [o pagamento dos móveis]."
Em depoimento mais cedo, dois dos promotores que investigam o caso -Ricardo Antônio de Souza e Gladaniel Pereira- reafirmaram que o dinheiro deveria ter sido alocado em pesquisa, voltaram a acusar a Finatec de burlar regras de licitação e apontaram um "caráter empresarial" na entidade.

ONGs
Na mesma sessão, o senador Álvaro Dias (PSDB-PR) questionou o reitor sobre repasses de R$ 515 mil da UnB a três entidades supostamente comandadas por petistas em 2005. As entidades são as ONGs Saber, Cidadão do Futuro e Cata-Ventos Juventude e Cidadania. Mulholland disse que assumiu o cargo em novembro de 2005 e em 2006 fechou a secretaria que fez os repasses por "ela não estar prestando os serviços que se esperava".
A Folha ligou ontem à tarde para as ONGs Saber e Cata-Ventos, mas ninguém atendeu. A reportagem não conseguiu localizar a Cidadão do Futuro.


Colaboraram ADRIANO CEOLIN e LUCAS FERRAZ, da Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Lupi decide se licenciar da presidência do PDT
Próximo Texto: Cartões: Orlando Silva diz não estar arrependido
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.