São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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ENERGIA POLÍTICA

Governo não responde à reportagem do "Washington Post"

Brasil é acusado de impedir inspeção de urânio pela ONU

DA REDAÇÃO

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
DA SUCURSAL DO RIO

O jornal americano "Washington Post" publicou ontem reportagem, com chamada na capa, dizendo que o Brasil proibiu inspetores da ONU de examinar instalação de enriquecimento de urânio que está em construção em Resende (a 161 km do Rio).
Segundo o texto, cujo título é "Brasil oculta instalações de urânio", a proibição foi confirmada por diplomatas e autoridades brasileiras em Viena, sede da AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica). A assessoria do Ministério das Relações Exteriores afirmou ontem que só deveria comentar o caso hoje, pois não fica claro se o incidente tratado é recente ou é o mesmo já abordado pelo ""The New York Times", em dezembro último.
O Brasil, segundo o "Post", proibiu a visita a instalações argumentando proteção a informações privadas. Defende que a instalação irá produzir urânio pouco enriquecido para uso em fábricas, não o urânio altamente enriquecido, usado para armas atômicas. Apesar disso, diz o texto, o local deveria ser submetido às inspeções para ficar claro que não está sendo usado para a fabricação de armas nucleares.
Especialistas ouvidos pelo "Post" sustentam que, se a ONU ou os Estados Unidos não insistirem nas inspeções, a política dos norte-americanos para o Irã e a Coréia do Norte, acusados de produzirem armas nucleares, pode ficar prejudicada. "Se nós não queremos esse tipo de instalações no Irã ou na Coréia do Norte, nós também não devemos querê-las no Brasil", declarou ao jornal James Goodby, ex-negociador nuclear norte-americano.
Em dezembro, o ""NYT" fez a mesma acusação. À época, o governo brasileiro afirmou que não se recusa a nenhum tipo de inspeção da AIEA, já que é signatário de acordos de não-proliferação.
A Folha apurou que não há disposição do governo brasileiro de ceder aos pedidos da AIEA para que mostre as centrífugas da planta de enriquecimento isotópico pertencente à estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil).
As negociações com a AIEA costumam ser duras, mas neste caso o episódio ganha contornos mais fortes por causa da situação internacional conturbada, afirmou um funcionário da Comissão Nacional de Energia Nuclear que dialoga com AIEA e que pediu para não ser identificado. Ele diz que a ocultação das centrífugas não é surpresa para a AIEA, que já fez oito visitas à fábrica desde o segundo semestre de 2003.
Segundo o funcionário, as equipes da AIEA disporiam de contrapartidas, como o acesso às fitas de vídeo que registram a entrada e a saída de material nuclear na fábrica. Ele chamou de "falaciosa" a comparação da situação do Brasil com a da Coréia do Norte e a do Irã. "Irã e Coréia do Norte tinham instalações não declaradas. A gente tem instalações declaradas."


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