São Paulo, segunda-feira, 05 de abril de 2004

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AGENDA NEGATIVA

Mulheres e parentes fazem ato durante a troca da bandeira

Famílias pedem reajuste para militares

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Cerca de 700 familiares de militares promoveram ontem um protesto por reajustes salariais na praça dos Três Poderes, em Brasília, durante a a cerimônia da troca da bandeira, que ocorre todos os meses no local. Foi a primeira vez, segundo a Polícia Militar, que ocorreu uma manifestação durante a solenidade.
A maioria dos manifestante era formada por mulheres de militares, principalmente cabos, praças e sargentos. Pelas regras das Forças Armadas, militares da ativa não podem fazer greve nem esse tipo de protesto, que configura insubordinação.
Todas, com camisetas pretas, superlotaram uma das duas arquibancadas de madeira erguidas na praça. Houve panelaço e apitaço. No momento do Hino Nacional, as manifestantes deram as mãos e cantaram em voz alta.
Durante a solenidade, elas ergueram faixas cobrando uma solução do governo federal. Alguns dos dizeres: "Prefiro qualquer regime a morrer de fome nesta democracia" e "Morrer, se preciso for. Ser humilhado, jamais". As mulheres e os familiares dos militares também gritaram palavras de ordem. Segundo a Polícia Militar, cerca de 3.000 pessoas assistiram à troca da bandeira, sendo 700 delas ligadas aos militares.
Os manifestantes, que não têm nenhuma representação oficial como sindicatos também por força das normas da corporação, pedem, além de benefícios, um reajuste linear emergencial de 30% pelas perdas com a inflação entre 2001 e 2004. O último reajuste ocorreu em dezembro de 2000. Querem que o salário bruto de um praça, por exemplo, passe dos atuais R$ 153 para R$ 240.
Uma reunião entre o ministro José Viegas (Defesa) e representantes dos militares deve ser agendada ainda na primeira quinzena deste mês. "Hoje [ontem] é apenas um primeiro passo simbólico para demonstrar a necessidade de um aumento", disse o deputado Jair Bolsonaro (PTB-RJ), ex-capitão do Exército e um dos organizadores do protesto de ontem.
A solenidade de ontem foi organizada pela Polícia Militar e pelo Corpo de Bombeiros do Distrito Federal. Nenhum comandante das Forças Armadas nem Viegas compareceram. Exército, Aeronáutica, Marinha e Polícia Militar revezam na organização.
Generais e coronéis das Forças Armadas também foram alvo dos protestos. "Os generais estão muito acomodados. E os coronéis são piores, pois têm medo de defender claramente os reajuste para não comprar briga com seus superiores", disse Neide Mara da Silva, 39, mulher de um sargento do Exército. (EDUARDO SCOLESE)


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