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SISTEMA FINANCEIRO
Ex-dirigentes do Banco Central receberam pena; cabe recurso
Justiça condena 8 por socorro
ao Marka e ao FonteCindam
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
O ex-presidente do Banco Central Francisco Lopes foi condenado pela Justiça a dez anos de prisão por ter autorizado o socorro
financeiro aos bancos Marka e
FonteCindam na mudança da política cambial ocorrida em janeiro
de 1999. No total, oito pessoas foram condenadas, incluindo outros quatro ex-dirigentes do BC.
Eles poderão recorrer. Três dos 11
acusados foram absolvidos.
Segundo a juíza Ana Paula Vieira de Carvalho, da 6ª Vara Criminal Federal, do Rio, a ajuda aos
bancos Marka e FonteCindam
causou um prejuízo de R$ 1,5 bilhão ao erário, em benefício dos
bancos privados e, principalmente, dos ex-acionistas controladores Salvatore Cacciola (Marka) e
Roberto Steinfeld (FonteCindam), também condenados.
Cacciola, que vive em Milão e
está foragido da Justiça brasileira,
teve a maior punição -13 anos
de prisão em regime fechado mais
pagamento de 156 dias-multa,
num total de R$ 202,8 mil.
FonteCindam e Marka foram
apanhados pela mudança cambial em situação de alto risco no
mercado futuro de dólar. Apostaram na estabilidade da moeda,
enquanto as demais instituições
se prepararam para a desvalorização do real.
O Marka tinha 20 vezes seu patrimônio líquido comprometido
em contratos de venda no mercado futuro de dólar. Com a desvalorização, Cacciola ficou sem poder honrar os compromissos e
pediu ajuda ao BC, usando de intermediário Luiz Bragança, amigo de infância de Francisco Lopes.
Lopes também foi denunciado
sob acusação de crime de corrupção por causa de um bilhete
apreendido pela Polícia Federal,
segundo o qual ele teria US$ 1,675
milhão não declarados à Receita.
O bilhete foi considerado prova
insuficiente, e ele foi absolvido.
Os outros ex-diretores do BC
condenados são Cláudio Ness
Mauch, que ocupava a diretoria
de Fiscalização, e Demóstenes
Madureira de Pinho Neto, ex-diretor de Assuntos Internacionais.
Os dois receberam penas de dez
anos de prisão. A multa aplicada a
Mauch é ligeiramente menor (R$
93,6 mil em valores atuais) do que
a de Pinho Neto (R$ 156 mil).
A ex-diretora de Fiscalização
Tereza Grossi recebeu uma punição menor -seis anos de prisão e
R$ 56,16 mil em multas- porque
ela ainda era chefe do Departamento de Fiscalização quando as
operações foram aprovadas.
O quarto ex-dirigente do BC punido é Luiz Antônio Gonçalves.
Servidor aposentado, ele foi condenado na condição de presidente e acionista do FonteCindam,
que recebeu um socorro de R$
522 milhões do governo, segundo
os autos do processo judicial.
O FonteCindam foi pego em situação semelhante à do Marka.
Segundo a juíza, Luiz Antônio
Gonçalves usou sua influência no
BC para obter o privilégio para si e
para o acionista controlador,
Steinfeld. Os dois foram condenados a dez anos de prisão e multa
(hoje a R$ 156 mil, cada um).
Arthur Gueiros, um dos três
procuradores que comandaram
as investigações, disse que a sentença da juíza é histórica pela importância das pessoas envolvidas.
Os advogados de alguns dos
réus não se manifestaram pois só
ontem tiveram acesso à sentença.
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