São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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FACTÓIDE FEDERAL

"Bomba", tumulto e blefe na capital

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A convocação da entrevista coletiva na qual foi dada a versão de Antonio Palocci Filho para o episódio do sigilo, na realidade uma grande operação de despiste, levou nervosismo aos meios políticos de Brasília ontem, gerando uma onda de boatos como há muito não se via na capital.
Tudo começou no fim da tarde. Por volta das 16h, as redações foram avisadas de que o ex-presidente da OAB José Roberto Batochio concederia uma entrevista às 17h30 no hotel Meliá. Um assessor informou que Batochio havia mandado avisar que divulgaria uma "bomba", mas não sabia do que se tratava.
Imediatamente a informação se espalhou e cerca de 50 jornalistas se apinharam no lobby do hotel, aguardando Batochio. Blogs políticos, sites de notícias, jornalistas e políticos só falavam do assunto. E a palavra-chave na boca de todos era Marcelo Netto.
O ex-assessor de imprensa de Palocci vinha sendo procurado pela Polícia Federal para depor sobre o caso desde a sexta-feira passada. Nem amigos próximos vinham tendo contato com o jornalista nos últimos dias.
Como é visto como o responsável pelo vazamento à revista "Época" dos dados do sigilo do caseiro pela polícia e pela CPI dos Bingos, a equação foi fechada na lógica política da capital: Netto, acuado, iria "falar tudo" e contratou Batochio para tanto.
As atenções se voltaram imediatamente para Márcio Thomaz Bastos, já que dois assessores seus se encontraram com Palocci em sua residência no dia da violação do sigilo. Circulou então a informação de que o ministro da Justiça teria pedido demissão, alimentada pelo fato de Thomaz Bastos não estar sendo encontrado em Brasília depois de retornar do Rio.
A informação foi negada pelo Palácio do Planalto, que também ajudou a aumentar os rumores na cidade ao divulgar que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia cancelado uma viagem que faria ontem à noite para a Bahia, sem esclarecer os motivos.
Lula acabou deixando o Planalto somente por volta das 22h, após uma reunião com Bastos.
Com a demora na realização da entrevista de Batochio, adentrando a noite, começou a circular a informação de que advogado não havia sido contratado por Netto, o que acabou sendo confirmado. Ele, na realidade, estava a serviço, com o advogado José Roberto Leal, do ex-ministro Palocci.
A operação para atrair a imprensa ao hotel visava esconder uma estratégia dos advogados do ex-ministro: a antecipação do depoimento de Palocci de hoje para ontem à Polícia Federal, em sua residência. Já Marcelo Netto foi intimado ontem e deve depor hoje pela manhã na PF.


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