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CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO
Ex-ministro diz à PF que encontrou Mattoso no dia 16 para discutir expansão da CEF no Japão
Palocci depõe em casa, nega ter violado sigilo e é indiciado
MARTA SALOMON
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O ex-ministro Antonio Palocci
Filho foi indiciado ontem por suspeita de crime de quebra de sigilo
bancário e violação de sigilo funcional depois de três horas de depoimento à Polícia Federal. No
depoimento, ele negou responsabilidade na violação de dados da
conta do caseiro Francenildo dos
Santos Costa e na divulgação das
informações.
"O ministro nega peremptória e
veementemente a autoria da quebra do sigilo, reafirmando que,
em momento algum, passou
qualquer dado ou informação
acerca do extrato bancário de
Francenildo", disse à noite o advogado José Roberto Batochio,
depois de acompanhar o depoimento dado pelo ex-ministro na
residência oficial do ministério.
O depoimento, programado
inicialmente para hoje, foi tomado ontem sigilosamente pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes
na casa do ex-ministro porque,
segundo seu advogado, ele está
sofrendo de problemas cardíacos
e tem a sua pressão monitorada.
Segundo Batochio, o ex-ministro não sabe de quem partiu a ordem para violar o sigilo bancário
de Francenildo na Caixa Econômica Federal, assim como a forma
como as informações chegaram à
revista "Época", que divulgou o
caso. Na versão do advogado, tudo teria se resumido ao cumprimento de uma rotina legal provocada por boatos de que o caseiro
que testemunhara contra Palocci
teria sido pago pela oposição.
"Isso tudo se deu dentro da lei.
O senhor ministro não entregou a
ninguém cópia desse extrato. O
senhor ministro não forneceu informações sobre esse extrato a nenhuma pessoa e repudia, com toda a veemência, a atribuição de ter
determinado a quebra do sigilo e
de ter divulgado o conteúdo."
Segundo o depoimento de Palocci, Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal,
teria ido à casa do então ministro
da Fazenda não para entregar cópia do extrato bancário de Francenildo, mas para tratar da abertura de escritórios da estatal no Japão e nos Estados Unidos.
Palocci confirmou, porém, que
recebeu os dados. Disse que o envelope recebido de Mattoso com
os extratos foi triturado por ele
mesmo no dia seguinte.
"O senhor Jorge Mattoso consultou o ministro, exibiu-lhe o extrato e entregou este extrato ao senhor ministro, perguntando se
deveria ser o extrato encaminhado ao Coaf. O ministro lhe respondeu que processa com as normas legais", relatou o advogado.
Palocci disse ainda que seu ex-assessor Marcelo Netto e o secretário de Direito Econômico do
Ministério da Justiça, Daniel
Goldberg, estavam em sua casa
naquele dia, 16 de março, mas não
teriam presenciado a entrega do
extrato nem souberam das informações.
Em depoimento à PF na segunda-feira passada, Mattoso disse
que permaneceu no máximo cinco minutos na residência de Palocci na noite de 16 de março,
tempo no qual entregou cópia dos
extratos do caseiro que testemunhara contra o ministro. Mattoso
contou também que recebera um
telefonema de Palocci no meio do
jantar e informara ao chefe sobre
as movimentações bancárias do
caseiro. O extrato havia sido sacado da Caixa minutos antes.
Batochio sugeriu que o vazamento poderia ter ocorrido dentro da própria Caixa ou na Polícia
Federal. "Pelo menos meia dúzia
de pessoas tiveram acesso ao extrato na Caixa e houve também a
apresentação do cartão da conta à
Polícia Federal", afirmou o advogado, irritado com perguntas dos
jornalistas. Ele negou que Palocci
tenha atribuído responsabilidade
ao ministro da Justiça, Márcio
Thomaz Bastos. A CEF informou
que nenhum funcionário do banco vazou os dados do caseiro.
Batochio e José Roberto Leal,
advogado que trabalha com ele, se
recusaram a responder quem paga a defesa de Palocci. "Não sou
obrigado a dizer quem paga a defesa, posso dizer que foram várias
pessoas, sua mãe, seu pai. Faz parte do sigilo", disse o advogado José Roberto Leal. Já Batochio afirmou que se trata de "questão de
sigilo profissional, da minha intimidade". "Isso invade a esfera da
ética", acrescentou.
Colaborou ANDREA MICHAEL, da Sucursal de Brasília
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