São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/CERCO AO EX-MINISTRO

Ex-ministro diz à PF que encontrou Mattoso no dia 16 para discutir expansão da CEF no Japão

Palocci depõe em casa, nega ter violado sigilo e é indiciado

MARTA SALOMON
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ex-ministro Antonio Palocci Filho foi indiciado ontem por suspeita de crime de quebra de sigilo bancário e violação de sigilo funcional depois de três horas de depoimento à Polícia Federal. No depoimento, ele negou responsabilidade na violação de dados da conta do caseiro Francenildo dos Santos Costa e na divulgação das informações.
"O ministro nega peremptória e veementemente a autoria da quebra do sigilo, reafirmando que, em momento algum, passou qualquer dado ou informação acerca do extrato bancário de Francenildo", disse à noite o advogado José Roberto Batochio, depois de acompanhar o depoimento dado pelo ex-ministro na residência oficial do ministério.
O depoimento, programado inicialmente para hoje, foi tomado ontem sigilosamente pelo delegado Rodrigo Carneiro Gomes na casa do ex-ministro porque, segundo seu advogado, ele está sofrendo de problemas cardíacos e tem a sua pressão monitorada.
Segundo Batochio, o ex-ministro não sabe de quem partiu a ordem para violar o sigilo bancário de Francenildo na Caixa Econômica Federal, assim como a forma como as informações chegaram à revista "Época", que divulgou o caso. Na versão do advogado, tudo teria se resumido ao cumprimento de uma rotina legal provocada por boatos de que o caseiro que testemunhara contra Palocci teria sido pago pela oposição.
"Isso tudo se deu dentro da lei. O senhor ministro não entregou a ninguém cópia desse extrato. O senhor ministro não forneceu informações sobre esse extrato a nenhuma pessoa e repudia, com toda a veemência, a atribuição de ter determinado a quebra do sigilo e de ter divulgado o conteúdo."
Segundo o depoimento de Palocci, Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, teria ido à casa do então ministro da Fazenda não para entregar cópia do extrato bancário de Francenildo, mas para tratar da abertura de escritórios da estatal no Japão e nos Estados Unidos.
Palocci confirmou, porém, que recebeu os dados. Disse que o envelope recebido de Mattoso com os extratos foi triturado por ele mesmo no dia seguinte.
"O senhor Jorge Mattoso consultou o ministro, exibiu-lhe o extrato e entregou este extrato ao senhor ministro, perguntando se deveria ser o extrato encaminhado ao Coaf. O ministro lhe respondeu que processa com as normas legais", relatou o advogado.
Palocci disse ainda que seu ex-assessor Marcelo Netto e o secretário de Direito Econômico do Ministério da Justiça, Daniel Goldberg, estavam em sua casa naquele dia, 16 de março, mas não teriam presenciado a entrega do extrato nem souberam das informações.
Em depoimento à PF na segunda-feira passada, Mattoso disse que permaneceu no máximo cinco minutos na residência de Palocci na noite de 16 de março, tempo no qual entregou cópia dos extratos do caseiro que testemunhara contra o ministro. Mattoso contou também que recebera um telefonema de Palocci no meio do jantar e informara ao chefe sobre as movimentações bancárias do caseiro. O extrato havia sido sacado da Caixa minutos antes.
Batochio sugeriu que o vazamento poderia ter ocorrido dentro da própria Caixa ou na Polícia Federal. "Pelo menos meia dúzia de pessoas tiveram acesso ao extrato na Caixa e houve também a apresentação do cartão da conta à Polícia Federal", afirmou o advogado, irritado com perguntas dos jornalistas. Ele negou que Palocci tenha atribuído responsabilidade ao ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. A CEF informou que nenhum funcionário do banco vazou os dados do caseiro.
Batochio e José Roberto Leal, advogado que trabalha com ele, se recusaram a responder quem paga a defesa de Palocci. "Não sou obrigado a dizer quem paga a defesa, posso dizer que foram várias pessoas, sua mãe, seu pai. Faz parte do sigilo", disse o advogado José Roberto Leal. Já Batochio afirmou que se trata de "questão de sigilo profissional, da minha intimidade". "Isso invade a esfera da ética", acrescentou.


Colaborou ANDREA MICHAEL, da Sucursal de Brasília

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