São Paulo, quarta-feira, 05 de abril de 2006

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CRISE NO GOVERNO/RETÓRICA OFICIAL

Para presidente, ao não aprovar Orçamento, oposição prejudica todo o Brasil, e não seu governo

Lula cala sobre crise e diz que país anda para trás em 2006

LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

Num discurso tenso e que passou ao largo da atual crise política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem que o Brasil, em ano eleitoral, ao invés de andar para frente, retrocede. O presidente voltou a criticar o que considera excesso de notícias negativas na imprensa.
Em seu discurso, o presidente acusou a oposição de tentar atrapalhar as ações do governo federal e, assim, prejudicar o país.
"Por que ainda não votaram o Orçamento da União? Para não dar dinheiro para o governo em ano eleitoral. Mas eles não estão prejudicando o governo, prejudicam a sociedade brasileira", disse o presidente, que espera que a votação ocorra ainda nesta semana.
"Não é porque tem um ano eleitoral que as pessoas acham que, prejudicando o Brasil, vão prejudicar o governo. O governo é uma coisa muito passageira, tem data para entrar e para sair", afirmou.
Sem sorrir e, às vezes, atropelando as palavras, Lula discursou durante 30 minutos na abertura da 14ª Feira Internacional da Indústria da Construção, no Anhembi, em São Paulo. Ele falou de improviso na maior parte do tempo. Recorreu a um texto escrito quando queria comparar dados com administrações anteriores. O tempo todo, o presidente manteve-se longe dos jornalistas.
Lula ficou em um palco improvisado, com outras 15 pessoas. Numa área central reservada aos convidados, 35 das 144 cadeiras ficaram vazias. Atrás do cordão de isolamento, outras 250 pessoas, a maioria expositores ou funcionários, acompanharam o ato.

"Xingamentos"
O presidente disse já estar "habituado" aos que falam mal de seu governo, mas pediu ao Congresso que vote questões importantes, como o Orçamento e a Lei da Micro e da Pequena Empresa.
"As pessoas podem brigar, podem falar mal do governo, mas votem. Vamos fazer a lição de casa para depois fazer a política de xingamentos. Não tem problema, já estamos habituados a isso", afirmou o petista.
A estratégia de associar a atual crise política à proximidade eleitoral foi reforçada após a violação do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, que levou à demissão de Antonio Palocci Filho do Ministério da Fazenda e levantou dúvidas sobre a atuação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
"Este é um ano eleitoral e, por incrível que pareça, no Brasil, ao invés de as coisas andarem para frente, andam para trás. Durante seis meses você não pode fazer muita coisa. Eu tenho dito todo santo dia: não podemos permitir, qualquer que seja a temperatura do processo eleitoral, que é sempre quente, que isso crie embaraços para a economia."
"Quem não se comunica, se trumbica, já dizia o velho apresentador [Chacrinha]", afirmou Lula. "Às vezes a gente lê muita notícia ruim. Cabe ao presidente da República dar as boas notícias que nem sempre a gente vê nas bancas de jornais." A boa notícia, disse o presidente, é uma economia "altamente promissora".


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