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CRISE NO GOVERNO/RETÓRICA OFICIAL
Para presidente, ao não aprovar Orçamento, oposição prejudica todo o Brasil, e não seu governo
Lula cala sobre crise e diz que país anda para trás em 2006
LILIAN CHRISTOFOLETTI
DA REPORTAGEM LOCAL
Num discurso tenso e que passou ao largo da atual crise política,
o presidente Luiz Inácio Lula da
Silva afirmou ontem que o Brasil,
em ano eleitoral, ao invés de andar para frente, retrocede. O presidente voltou a criticar o que
considera excesso de notícias negativas na imprensa.
Em seu discurso, o presidente
acusou a oposição de tentar atrapalhar as ações do governo federal e, assim, prejudicar o país.
"Por que ainda não votaram o
Orçamento da União? Para não
dar dinheiro para o governo em
ano eleitoral. Mas eles não estão
prejudicando o governo, prejudicam a sociedade brasileira", disse
o presidente, que espera que a votação ocorra ainda nesta semana.
"Não é porque tem um ano eleitoral que as pessoas acham que,
prejudicando o Brasil, vão prejudicar o governo. O governo é uma
coisa muito passageira, tem data
para entrar e para sair", afirmou.
Sem sorrir e, às vezes, atropelando as palavras, Lula discursou
durante 30 minutos na abertura
da 14ª Feira Internacional da Indústria da Construção, no
Anhembi, em São Paulo. Ele falou
de improviso na maior parte do
tempo. Recorreu a um texto escrito quando queria comparar dados com administrações anteriores. O tempo todo, o presidente
manteve-se longe dos jornalistas.
Lula ficou em um palco improvisado, com outras 15 pessoas.
Numa área central reservada aos
convidados, 35 das 144 cadeiras ficaram vazias. Atrás do cordão de
isolamento, outras 250 pessoas, a
maioria expositores ou funcionários, acompanharam o ato.
"Xingamentos"
O presidente disse já estar "habituado" aos que falam mal de seu
governo, mas pediu ao Congresso
que vote questões importantes,
como o Orçamento e a Lei da Micro e da Pequena Empresa.
"As pessoas podem brigar, podem falar mal do governo, mas
votem. Vamos fazer a lição de casa para depois fazer a política de
xingamentos. Não tem problema,
já estamos habituados a isso",
afirmou o petista.
A estratégia de associar a atual
crise política à proximidade eleitoral foi reforçada após a violação
do sigilo do caseiro Francenildo
dos Santos Costa, que levou à demissão de Antonio Palocci Filho
do Ministério da Fazenda e levantou dúvidas sobre a atuação do
ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.
"Este é um ano eleitoral e, por
incrível que pareça, no Brasil, ao
invés de as coisas andarem para
frente, andam para trás. Durante
seis meses você não pode fazer
muita coisa. Eu tenho dito todo
santo dia: não podemos permitir,
qualquer que seja a temperatura
do processo eleitoral, que é sempre quente, que isso crie embaraços para a economia."
"Quem não se comunica, se
trumbica, já dizia o velho apresentador [Chacrinha]", afirmou
Lula. "Às vezes a gente lê muita
notícia ruim. Cabe ao presidente
da República dar as boas notícias
que nem sempre a gente vê nas
bancas de jornais." A boa notícia,
disse o presidente, é uma economia "altamente promissora".
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