São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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Crise argentina é tema recorrente nos grupos pesquisados

DA REPORTAGEM LOCAL

A crise na Argentina, um dos temas do programa do pré-candidato José Serra (PSDB) exibido em março, tem tudo para voltar ao ar nos próximos comerciais do governo e da oposição e, adiante, no horário eleitoral gratuito.
Para fazer tal previsão, basta constatar a frequência com que o assunto aparece espontaneamente nos grupos da pesquisa qualitativa do Vox Populi.
Além de disseminada pelos oito municípios incluídos na amostra, a preocupação com o país vizinho não é restrita ao público de maior escolaridade e renda. Está presente no discurso das classes C e D.
E surge com igual força em outros levantamentos realizados pelo instituto, acrescenta o diretor Marcos Coimbra. Para ele, não há dúvida de que as filas e protestos exibidos pela TV estão gravados na mente do eleitor. "Pela primeira vez em eleições recentes, um tema genuinamente internacional influirá na agenda da campanha."
No programa de Serra, credita-se ao rumo tomado pelo governo federal o fato de o Brasil viver hoje situação diferente da experimentada pela Argentina. Sugere-se que mudanças poderiam levar o país ao mesmo desespero.
O diagnóstico é compartilhado por uma parcela dos entrevistados -a mesma que enumera benefícios do Plano Real à população mais pobre e que acredita que, sob FHC, o Brasil passou a ser "mais respeitado no exterior". Vale registrar que a qualidade de "representar bem o país lá fora" é procurada nos postulantes de 2002 e atribuída ao presidente mesmo por quem não pretende votar em seu candidato.
Para muitos, porém, a crise é apenas motivo de alerta, sem méritos a creditar ao governo.
Coimbra acha prematuro concluir que o fator Argentina venha a beneficiar o candidato tucano. "Pode ser assim entre camadas mais informadas, que identificam na biografia de Serra atributos para lidar com situação semelhante", diz. "Mas, para a maioria do eleitorado, ele até o momento é só ex-ministro da Saúde."
Por ora, prevê o diretor do Vox Populi, haverá disputa entre os pré-candidatos para se apresentar como o mais capacitado a evitar a "argentinização" do país.
Feita entre 13 e 18 de março, a pesquisa captou o auge da repercussão do caso que tirou da sucessão Roseana Sarney (PFL) -a ação policial na empresa da ex-governadora do Maranhão ocorreu no dia 1º daquele mês.

Fatos da vida
O episódio foi o campeão individual de menções no levantamento. Apareceu espontaneamente e gerou debate alentado nos 18 grupos pesquisados.
Ao lado de "forte decepção", o relatório descreve a "percepção unânime de que as denúncias vieram à tona com intenção de derrubar a candidatura".
Ainda que muitos entrevistados não tenham conseguido expressar com clareza de onde partiram as denúncias, Coimbra enxerga nas respostas "a convicção difusa de que partiram do governo".
Mas o entendimento do público se distancia do que previram à época alguns comentaristas, para os quais a pefelista poderia vir a se beneficiar da condição de vítima.
A alegada armação não foi condenada nem mesmo pela parcela minoritária de "viúvos de Roseana" -aqueles que não acompanharam a maioria dos participantes na percepção de que a ex-governadora fez algo errado e que a julgaram merecedora de "um voto de confiança".
"Não se observa recriminação a esse ato", diz o relatório sobre o suposto movimento para derrubar Roseana. "Ele é considerado fato corriqueiro na política." Coimbra vai além: "as pessoas não ligaram porque a denúncia lhes pareceu verdadeira". (RLP)


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