São Paulo, quinta-feira, 05 de maio de 2005

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VIZINHOS EM CRISE

Presidente diz que causa é potencial econômico brasileiro e cita o Corinthians como exemplo de conciliação

Lula diz compreender "angústia" argentina

EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Ao tentar minimizar o clima de tensão entre Brasil e Argentina, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem compreender que pode existir uma "angústia" dos governantes argentinos diante do potencial econômico brasileiro.
"Muitas vezes, eu compreendo a angústia de um governante argentino em função do potencial econômico do Brasil, do comércio brasileiro, que é muito maior. E isso nós vamos resolver conversando", disse o presidente, em entrevista a jornalistas franceses, ontem pela manhã, no Palácio do Planalto.
No campo comercial, a liderança brasileira é ampla diante dos argentinos. No ano passado, por exemplo, as exportações do Brasil para a Argentina avançaram 62% e bateram no recorde de US$ 7,4 bilhões, enquanto a Argentina somente exportou US$ 4,6 bilhões ao Brasil.
Em entrevista a três veículos de comunicação franceses, que durou cerca de 50 minutos, Lula disse que a mídia brasileira está superdimensionando um suposto clima de atrito com o presidente Néstor Kirchner e que os problemas com os "irmãos" argentinos são passageiros.
Para anunciar um tom conciliador com Kirchner, Lula recorreu ao futebol, citando as recentes contratações de argentinos pelo Corinthians. "A maior demonstração que posso dar de que gosto da Argentina é que meu time de futebol no Brasil, o Corinthians, tem até um técnico argentino [Daniel Passarella] e dois jogadores argentinos [o atacante Tevez e o zagueiro Sebá]", disse Lula.
Nos últimos dias, o governo argentino tem reiterado críticas à política externa brasileira. O chanceler argentino Rafael Bielsa, por exemplo, atacou o colega brasileiro Celso Amorim por, segundo ele, ter descumprido acordo firmado para a emissão de um comunicado conjunto em relação à crise política no Equador.
Ao ser questionado se a ambição brasileira a uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança da ONU poderia provocar uma situação "perturbadora" entre os vizinhos sul-americanos, o presidente declarou que "compreende" a existência de políticas diferenciadas, mas que isso não impede que haja uma "relação harmônica" sobre outros assuntos internacionais.
"Quando um país como a Argentina não decide apoiar o Brasil, diz que quer pensar, acho normal. Não posso gostar da Argentina se a Argentina fizer tudo o que eu quero. Nem a Argentina pode gostar de mim se eu fizer tudo o que eles querem."

Silêncio
Depois de uma conversa de Lula com o assessor internacional da Presidência, Marco Aurélio Garcia, que quer baixar a poeira na crise com a Argentina, diplomatas e assessores passaram a desmentir a realização de uma reunião de emergência, amanhã, em Brasília, para discutir a questão.
O chanceler Celso Amorim chega de Paris amanhã, e o embaixador em Buenos Aires, Mauro Vieira, avisou que só chegará no domingo, para a reunião de cúpula dos países árabes e sul-americanos. Eles devem conversar sobre a Argentina com a equipe direta de Amorim, mas o Itamaraty quer evitar dar um caráter de "emergência" às conversas.
O governo, portanto, unificou o discurso "generoso" defendido, por exemplo, pelo secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro Guimarães: apesar dos ataques do vizinho, o objetivo brasileiro é "desdramatizar" a crise e não rebater os ataques. A orientação para os setores que queriam endurecer a reação é que fiquem quietos.


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