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VIZINHOS EM CRISE
Presidente diz que causa é potencial econômico brasileiro e cita o Corinthians como exemplo de conciliação
Lula diz compreender "angústia" argentina
EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Ao tentar minimizar o clima de
tensão entre Brasil e Argentina, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse ontem compreender que
pode existir uma "angústia" dos
governantes argentinos diante do
potencial econômico brasileiro.
"Muitas vezes, eu compreendo
a angústia de um governante argentino em função do potencial
econômico do Brasil, do comércio brasileiro, que é muito maior.
E isso nós vamos resolver conversando", disse o presidente, em entrevista a jornalistas franceses,
ontem pela manhã, no Palácio do
Planalto.
No campo comercial, a liderança brasileira é ampla diante dos
argentinos. No ano passado, por
exemplo, as exportações do Brasil
para a Argentina avançaram 62%
e bateram no recorde de US$ 7,4
bilhões, enquanto a Argentina somente exportou US$ 4,6 bilhões
ao Brasil.
Em entrevista a três veículos de
comunicação franceses, que durou cerca de 50 minutos, Lula disse que a mídia brasileira está superdimensionando um suposto
clima de atrito com o presidente
Néstor Kirchner e que os problemas com os "irmãos" argentinos
são passageiros.
Para anunciar um tom conciliador com Kirchner, Lula recorreu
ao futebol, citando as recentes
contratações de argentinos pelo
Corinthians. "A maior demonstração que posso dar de que gosto
da Argentina é que meu time de
futebol no Brasil, o Corinthians,
tem até um técnico argentino
[Daniel Passarella] e dois jogadores argentinos [o atacante Tevez e
o zagueiro Sebá]", disse Lula.
Nos últimos dias, o governo argentino tem reiterado críticas à
política externa brasileira. O
chanceler argentino Rafael Bielsa,
por exemplo, atacou o colega brasileiro Celso Amorim por, segundo ele, ter descumprido acordo
firmado para a emissão de um comunicado conjunto em relação à
crise política no Equador.
Ao ser questionado se a ambição brasileira a uma cadeira definitiva no Conselho de Segurança
da ONU poderia provocar uma
situação "perturbadora" entre os
vizinhos sul-americanos, o presidente declarou que "compreende" a existência de políticas diferenciadas, mas que isso não impede que haja uma "relação harmônica" sobre outros assuntos internacionais.
"Quando um país como a Argentina não decide apoiar o Brasil, diz que quer pensar, acho normal. Não posso gostar da Argentina se a Argentina fizer tudo o que
eu quero. Nem a Argentina pode
gostar de mim se eu fizer tudo o
que eles querem."
Silêncio
Depois de uma conversa de Lula
com o assessor internacional da
Presidência, Marco Aurélio Garcia, que quer baixar a poeira na
crise com a Argentina, diplomatas e assessores passaram a desmentir a realização de uma reunião de emergência, amanhã, em
Brasília, para discutir a questão.
O chanceler Celso Amorim chega de Paris amanhã, e o embaixador em Buenos Aires, Mauro
Vieira, avisou que só chegará no
domingo, para a reunião de cúpula dos países árabes e sul-americanos. Eles devem conversar sobre a
Argentina com a equipe direta de
Amorim, mas o Itamaraty quer
evitar dar um caráter de "emergência" às conversas.
O governo, portanto, unificou o
discurso "generoso" defendido,
por exemplo, pelo secretário-geral do Itamaraty, Samuel Pinheiro
Guimarães: apesar dos ataques do
vizinho, o objetivo brasileiro é
"desdramatizar" a crise e não rebater os ataques. A orientação para os setores que queriam endurecer a reação é que fiquem quietos.
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